quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Por que se temia o mar?



Do blog Polegar Opositor, uma excelente abordagem sobre a "Terra achatada". Leiam esse blog e aprendam muito com o autor, estudante de história e filosofia da ciência.

Aprendemos logo cedo na escola que um dos problemas que assustavam os navegadores de antigamente, era a idéia de que a Terra era chata. O mito de que era possível navegar até a borda do planeta, se cristalizou no senso-comum e é constantemente usado para simbolizar a ingenuidade dos antigos.

Mas o que dizem os historiadores da ciência é que esta história não passa de mito. A idéia de uma Terra chata existe na mitologia oriental. No entanto, para os povos da Europa ocidental, o planeta sempre teve formato esférico. O que, mantendo as devidas correções modernas, é relativamente correto.


Com efeito, os primeiros mapas celestes sempre colocavam a Terra representada como uma esfera, rodeada pela abóboda celeste. Mas se não era o medo de “cair” pela borda do planeta, existia afinal algo que assustava os antigos navegadores?

Na verdade, sim. Uma pequena observação empírica levou à criação de uma teoria equivocada. Não é preciso ter aparelhos científicos rebuscados para saber que, quanto mais nos dirigimos em direção ao equador, mais quente fica o clima.

Esta constatação deu origem a idéia de que o equador do planeta fosse tão absolutamente quente, que nada poderia sobreviver ali. Era como uma espécie de barreira intransponível, e embora fosse possível navegar até lá, era bastante provável que a tripulação fosse incapaz de sobreviver às temperaturas elevadas. A região foi chamada de “zona tórrida”.


A “parte de baixo” da Terra foi chamada de “antípoda“, que é uma variação de uma expressão grega que significa “pés opostos”. A expressão se deve ao fato de que acreditava-se que se existissem pessoas na outra metade da Terra, elas caminhariam literalmente de ponta cabeça.

O mito só foi derrubado completamente quando a nova rota comercial para as Índias foi estabelecida. Evidente que o conhecimento sobre a possibilidade de se atravessar a linha do equador já existia, de outra forma, a expedição de Vasco da Gama jamais teria sido aprovada.

É importante notar que, por mais ingênuas que estas idéias nos pareçam, para a época elas eram fruto de observação empírica do dia a dia. O que no entanto é ingênuo, é ainda hoje o mito da Terra chata continuar sendo usado para demonstrar o quão primitivo eram os povos antigos.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

"Se queres aprender a rezar, vai para o mar"



O título deste post é uma citação do fiel companheiro de D Quixote, o escudeiro Sancho Pança do clássico de Miguel de Cervantes (D. Quixote De La Mancha). A expressão resume bem o temor que os homens tinham - na Idade Média, mas também na Idade Moderna - do mar. Muitos outros ditados poderiam ser citados para comprovar o pavor que o europeu do fim da Idade Média sentia do mar. Um ditado dinamarquês, afirmava: " Quem não sabe rezar deve ir para o mar; e quem não sabe dormir deve ir para a igreja".

Mesmo depois das primeiras viagens oceânicas, o medo, a superstição, os relatos fantásticos persistiram nas crônicas da época. Num deles, um cronista afirmava que legiões de demônios foram vistas no mar em direção à França. Outro cronista afirmouque peixes gigantescos, verdadeiros monstros marinhos partiram, com um golpe de cauda, um navio ao meio. Enfim, o medo do mar e as crenças supersticiosas dos marinheiros não acabaram com as Grandes Navegações.

Abaixo, você poderá acompanhar - lendo e/ou ouvindo - o poema Mostrengo, de Fernando Pessoa.


O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: “Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?”
E o homem do leme disse, tremendo:
“El-Rei D. João Segundo!”

“De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?”
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
“Quem vem poder o que eu só posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?”
E o homem do leme tremeu e disse:
“El-Rei D. João Segundo!”

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
“Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!”

clicando aqui você pode acompanhar uma animação muito curiosa sobre esse poema. Vale a pena, se sua alma não for pequena!

O pioneirismo português

De todos os reinos europeus, o primeiro que se lançou na aventura marítima, inaugurando o que os historiadores chamariam séculos mais tarde de Expansão Marítima Européia, foi o reino de Portugal. Abaixo, é possível enumar 4 grandes razões para isso:

  1. a precoce centralização política.
  2. a posição geográfica
  3. o fato de Lisboa ser uma parada obrigatória de navios que vinham do mar Mediterrâneo em direção ao norte da Europa.
  4. O desenvolvimento técnico dos instrumentos de navegação e de localização no mar; melhoria dos navios e o aperfeiçoamento da cartografia. Inovações em grande parte proporcionada pela escola de Sagres.

Um outra pergunta igualmente importante é por que os portugueses se lançaram nesta aventura? Mesmo temendo os monstros, os perigos do mar, por que se arriscaram tanto?

Embora não se possa descartar o espírito de aventura de muitos navegadores, a política da monarquia absolutista portuguesa em aliança com a burguesia de encontrar novas fontes de metais preciosos e um caminho alternativo para as índias, explica, em grande parte, a decisão das monarquia lusitana em apoiar o projeto marítimo. Havia, contudo, uma razão a mais: a expansão marítima portuguesa foi uma tentativa política de resistir ao assédio dos monarcas de Castela que sempre estavam atentos à possibilidade de anexar o reino de Portugal ao seu reino. Para impedir o perigo dessa anexação é que os reis portugueses da dinastia de Avis apoiaram as Grandes Navegações.

As Conseqüências

Se foram os portugueses os pioneiros da Expansão Marítima, não demorou muito para que o reino da Espanha e um pouco mais tarde os reinos da França, da Inglaterra e a república da Holanda também iniciassem suas viagens marítimas. Essa expansão mostrou aos europeus que o mundo era bem maior do que eles supunham. Outra conseqüência importante foi a mudança do eixo econômico que passou do mar mediterrâneo para o oceano atlântico,o antigo mar tenebroso dos apavorados homens dos fins da Idade Média.

A expansão comercial foi o efeito imediato dessa expansão marítima. Nos séculos XVI e XVII mercadorias do mundo todo - da Ásia à Europa, passando pela África e pela América - circulavam pelos mares em navios portugueses, espanhóis, holandeses, franceses e ingleses. O que hoje a gente chama de Globalização, já existia desde à época das Grandes Navegações.

Quando em 1498 Vasco da Gama chega às índias, duas mudanças ocorreram no comércio europeu: o monopólio na venda das especiarias que era exercido pelos comerciantes de Veneza e Gênova foi quebrado e o preço dessas especiarias caíram significativamente o que ajudou na popularização do consumo das mesmas.

Enfrentando o medo do mar, desenvolvendo novas técnicas náuticas, expandindo o comércio para os quatro quadrantes da Terra, os portugueses com suas viagens marítimas colocaram o Brasil nessa história. Mas isso fica para depois!






terça-feira, 2 de setembro de 2008

Cuba sem romantismo e ideologia

Crianças brincando em Havana Velha. Eis o paraíso cubano.

Defenda-se da esquedopatia e da esquerdofrenia na sala de aula, no trabalho ou numa casinha de sapê. Quando vierem com aquela conversa mole de que o socialismo produz igualdade e bem-estar social e de que Cuba é o paraíso do povo oprimido desde a Revolução de 1959, não se deixe seduzir por esse embuste. Se lhe disserem que na ilha o sistema de saúde e de educação são modelos para o mundo, exiba o artigo publicado abaixo. Guarde-o na carteira e faça as seguintes perguntas ao embusteiro que quer enganar você :

  1. Quanto ganha um médico em Cuba?
  2. Quanto ganha um professor?
  3. Quantos cubanos têm acesso à internet?
  4. Qual a cota mensal de alimentos a que um cubano tem direito?
  5. Por que, em Cuba, não se pode criticar o governo?
  6. Quem, em Cuba, tem acesso aos melhores recursos médicos?

Se o embusteiro gaguejar ou inventar, diga-lhe: " Vai de retro, enganador!" "Vai de retro, ignorante!"

LEIA O ARTIGO ABAIXO! É, AO MESMO TEMPO, REVELADOR E UMA VACINA CONTRA A ESQERDOFRENIA E A ESQUERDOPATIA.

Domingo, Agosto 31, 2008

Demétrio Magnoli,Fragmentos de socialismo

Cuba - A crítica não está só nos novos blogs, mas nas ruas; em Cuba diz-se que há os ‘comuns’, sem privilégios, e os ‘hijos de papá’, ligados ao partido

Demétrio Magnoli*

Do topo dos 33 andares do edifício Focsa, o mais alto da cidade, que serviu nos anos gloriosos de residência de trânsito para os soviéticos, sob o jato de um sol aplastante, a paisagem desvenda os quatro tempos de Havana. A leste, além das antigas fachadas imponentes do Malecón, estende-se Havana Velha, o núcleo colonial, circundado pela baía em meia lua e vigiado pelas fortalezas espanholas. Ao redor, bem abaixo, divisa-se o plano ortogonal do Vedado, o bairro de mansões ocupado desde meados do século 19 por uma elite que se separava fisicamente dos pobres. A oeste, espraia-se Miramar, o “novo Vedado” da década de 20 do século passado, cujas mansões abrigam agora as embaixadas e os hotéis de praia. Entre o núcleo colonial e o Vedado, a partir do grande bulevar do Prado, está incrustada Havana Central, a larga seqüência de quarteirões erguidos no início do século 19. De longe, é como se essa faixa intermediária da cidade tivesse sido extensamente bombardeada. Nas suas habitações arruinadas, vivem quase todos os “cubanos comuns” de Havana que escaparam de uma transferência compulsória para os conjuntos habitacionais dos arcos periféricos.

“Cubanos comuns”, ou “cubanos a pé”, são expressões que se ouvem vezes sem conta nas ruas de Havana. É assim que as pessoas destituídas de privilégios descrevem a si próprias. Os demais são os “hijos de papá”, uma categoria que abrange todos os que, em virtude de relações especiais próximas ou distantes com o partido único, têm acesso regular e legal ao CUC. Peso cubano convertible, CUC, é o pote de ouro no fim do arco-íris. A caça ao CUC converteu-se no esporte nacional cubano. Tê-los significa um pouco de cidadania, expressa sob as formas de sabonete, desodorante, perfume, tênis, carne de vaca, gasolina, um celular “pai-de-santo”, a oportunidade fugaz de navegar na internet. Não tê-los significa vegetar no limbo do peso cubano, a moeda oficial regular, que é a moeda de mentira.

Juan e Clara, como os batizo agora, abordaram-me numa rua da zona limítrofe entre Havana Velha e Havana Central. Conversamos, caminhando rápido, transgredindo a regra que proíbe “cubanos comuns” de interagir com estrangeiros. Minutos depois, dois rapazes de azul, policiais adolescentes com salários bem superiores aos de médicos, restabeleceram a ordem. O casal de cubanos teve que apresentar documentos e Juan foi convidado a acompanhá-los à delegacia próxima. Fui junto, apresentei-me como um amigo de anos, inscreveram nossos nomes num livro velho de ocorrências. Democracias administram as coisas. Ditaduras totalitárias só administram os espíritos. Havana Central verga sob a sujeira e um odor entranhado de urina.

Solís é professora primária e dá aulas particulares - ilegalmente. É essa sua forma de acesso precário ao CUC. O CUC vale cerca de 20% mais que o dólar e funciona como ponte entre Cuba e a economia internacional. A presença da moeda almejada aumenta com o crescimento do turismo e das remessas de cubano-americanos para seus familiares na ilha. Um CUC vale 24 pesos cubanos, a moeda interna, desprezada. Um professor primário ganha algo em torno de 15 CUCs mensais. Um médico, cerca de 20. Tudo que ultrapassa o limite estrito da sobrevivência é vendido apenas em pesos convertibles. Na África do Sul da minoria branca, o sistema do apartheid separava as pessoas segundo a “raça”. Na Cuba do desmantelamento do socialismo real, estabeleceu-se um apartheid monetário.

A palavra apartheid chegou às ruas de Havana. Talvez tenha sido difundida pelos corajosos blogueiros que desenham pátios virtuais de debates num país acostumado há meio século a ouvir apenas as vozes de Fidel Castro e seus bonecos de ventríloquo do partido comunista. O portal desdecuba.com abriga a revista web Contodos e uma série de blogs pessoais, dos editores da revista, que residem na ilha e se apresentam com seus nomes próprios. Entre eles, a blogueira célebre é Yoani Sánchez, que ganhou o prêmio espanhol Ortega y Gasset de jornalismo digital mas foi impedida de viajar para recebê-lo.

Fidel Castro, pela primeira vez na história, referiu-se a um dissidente ao acusar Yoani, no prefácio de um livro, de “jogar água no moinho do imperialismo”. Uma resposta desmoralizante saiu no blog do jornalista Reinaldo Escobar, da equipe da Contodos. Ele escreveu: “A responsabilidade que implica receber um prêmio nunca será comparável à de outorgá-lo e Yoani, ao menos, nunca colocou uma condecoração no peito de nenhum corrupto, traidor, ditador ou assassino”. E concluiu: “Faço esse esclarecimento porque recordo perfeitamente que foi o autor dessas reprimendas quem colocou (ou mandou colocar) a Ordem de José Martí nas mais nefastas e imerecedoras figuras possíveis: Leonid Ilich Brejnev, Nicolae Ceausescu, Todor Jukov, Gustav Husak, Janos Kadar, Mengistu Haile Mariam, Robert Mugabe, Heng Samrin, Erich Honecker e outros que esqueci”.

A crítica não está apenas nos novos blogs, mas nas ruas, nas conversas cotidianas, e naquilo que dizem os cubanos que, por força da função, estão autorizados a falar com estrangeiros. A reforma da previdência, anunciada numa primeira página de uma edição de julho do Granma, o jornal do partido único, elevará a idade de aposentadoria. Na justificativa oficial, Cuba acompanha as tendências mundiais, que decorrem da dinâmica de envelhecimento da população. “Passamos décadas dizendo que não reproduziríamos as reformas previdenciárias dos outros países. Agora, fazemos exatamente isso. É como tudo mais: perdemos meio século falando mal dos outros e ficamos para trás. Aqui não se produz nada, só se fala.” O motorista de táxi, que batizo Pérez, opera nos circuitos de hotéis e tem algum acesso ao CUC. Não é, nem de longe, um dissidente. Mas ele aponta os campos abandonados do interior, onde se cultivava cana antes do colapso da indústria açucareira cubana, e ironiza a “reforma agrária” anunciada junto com as mudanças na previdência. “As pessoas se mudaram para as cidades. Raúl Castro imagina que alguém voltará para o campo para cultivar as terras ociosas, onde não há nem luz elétrica?”

“Cuba é o país da propina.” A definição, do guia Rodolfo, outro nome fictício, não tem nenhuma intenção crítica. Rodolfo conduz passeios de jet-ski na laguna de Varadero e tudo que quer é a gorjeta do grupo de turistas ao final do passeio, na hora em que, literalmente, ele passa o boné. A “propina” é a renda verdadeira, em pesos convertibles, de todos os que trabalham num setor turístico em plena expansão. Engenheiros, historiadores, enfermeiras, psicólogas, professores - todos que podem trocam suas profissões por um lugar qualquer, de motorista, guia ou camareira, no almejado setor turístico. Mas não basta querer: é preciso ter contatos. A conquista de um emprego na esfera do CUC depende de indicações políticas diretas ou indiretas, não de qualificações. O preço real de todos os serviços nessa esfera abrange a onipresente e quase inevitável propina.

Os cubanos ganham a vida depois do trabalho ou nos interstícios do trabalho. É a hora da propina, do bico ilegal em pesos convertibles, do desvio de charutos para o mercado clandestino das ruas. O trabalho não tem valor. Estudar não alarga horizontes. São essas as lições ensinadas todos os dias pela economia política da crise do socialismo.

Rodolfo, como tantos guias, ecoa ritualmente, por costume e inércia, fragmentos de uma cínica propaganda oficial. “Vocês não verão crianças descalças em Cuba.” Não as há, de fato, mas o subsídio governamental ao calçado infantil acabou para sempre há 18 anos. As crianças não andam descalças pois seus pais gastam o que não têm para calçá-las. Tênis e sapatos custam parcela maior dos salários do “cubano comum” que de um brasileiro pobre. “Aqui em Cuba, a escola é obrigatória. Nenhum pai pode deixar seu filho fora da escola.” No Brasil é igual, retruco, para espanto genuíno de Rodolfo, que “aprendeu” na cartilha midiática do regime que fora de Cuba imperam o analfabetismo, a miséria e a fome. “Todos têm acesso a hospitais e médicos gratuitos em Cuba.” Depois da declamação habitual, vêm os detalhes. Os serviços de excelência não são para “cubanos comuns”, mas para estrangeiros e para os círculos da burocracia comunista. A saúde popular cubana é um SUS em miniatura, com sua litania de equipamentos obsoletos, carência de leitos e filas intermináveis para consultas e operações. O agravante recente é a carência de médicos, que saem em missões de política externa na Venezuela e na Nicarágua. “Mas não podemos reclamar, pois é tudo de graça...” No Brasil, reclamamos.

Num país que criminaliza o intercâmbio de informação, proliferam os mitos conspiratórios. Camilo Cienfuegos, camarada de Fidel na Sierra Maestra, morreu num misterioso acidente aéreo em outubro de 1959, quando retornava de Camaguey, onde cumpriu a dolorosa missão de prender seu amigo revolucionário Hubert Matos, o comandante rebelde acusado de traição. Os destroços do avião jamais foram encontrados. A versão de que Fidel tramou a morte de Camilo, apenas uma hipótese histórica, circula como verdade indiscutível entre os “cubanos comuns”. Camilo é como quer ser chamado um estudante da Universidade de Havana que me convidou a pagar-lhe um “trago do Che” e, prudentemente, indicou o caminho do bar caminhando meia quadra à frente. Diante da curiosa mistura de cuba libre, mel e hortelã que serviria para amenizar a asma, ele identificou no episódio o início da degeneração dos castristas. “Aqui, todos trabalhamos compulsoriamente para Fidel.”

Nem tudo é ingenuidade. Encontra-se, entre os “cubanos comuns’, uma intuição política aguçada, que se manifesta especialmente quando se abordam as relações com os EUA. O bloqueio econômico americano funciona como álibi ideal para a ditadura dos Castros, explicam-me em encontros separados Camilo, Juan e Clara. O levantamento do bloqueio cancelaria o núcleo da argumentação governamental. Barack Obama fará isso? - indaga-me Camilo.

Internet, em Cuba, só em hotéis e lan houses. Uma hora custa seis CUCs. A imensa maioria dos cubanos nunca navegou na rede e poucos sabem da existência dos blogueiros independentes. Todos sabem da história de Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, narrada de acordo com a versão do regime, pelo Granma, junto com uma profusão de elogios ao governo brasileiro, que os capturou e deportou. “Lula é amigo de Fidel”, explicam os “cubanos comuns”, que continuam a enxergar os boxeadores como heróis nacionais e não escondem o desprezo pelo ato de covardia de Tarso Genro e Lula. O que eles não sabem, pois o Granma não informou, é que Lara fugiu de Cuba há semanas, numa lancha rápida contratada por promotores esportivos alemães.

Sair de Cuba pode ser uma aventura mesmo para turistas. Há um novo golpe na praça, aplicado pelos oficiais de imigração, preferencialmente contra idosos, no aeroporto José Martí. Um funcionário que verifica documentos subtrai o visto de entrada. O funcionário seguinte requisita o visto, constata o seu “extravio” e anuncia que, nessas condições, “é impossível sair de Cuba”. Seguem-se visitas estéreis a oficiais fardados e sugestões para que a vítima “procure melhor” o papelucho amarelo na carteira, onde repousa um tesouro em euros ou dólares. A tensão é mantida até depois da última chamada para embarque. Se o turista não entender a mensagem, o visto sumido acaba reaparecendo. Ninguém quer provocar incidentes diplomáticos. Cuba é só o país da “propina”.

*Demétrio Magnoli, sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP, é autor de História da Paz (Contexto) e Terror Global (Publifolha)

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

As duas fases da II Guerra Mundial

Abaixo, conforme o prometido, estão as duas principais fases da II Guerra Mundial. No site da escola, faça o download de um arquivo em pps onde tem uma animação muito interessante sobre essas duas fases.


1ª fase:
(1939-1942). Caracterizou-se por uma rápida expansão, assinalada por importantes conquistas das forças do Eixo.

Desde o início do conflito, os alemães assombraram o mundo pondo em prática a blitz-krieg (guerra-relâmpago) que consistia numa série de ataques rápidos e simultâneos desfechados por canhões de longo alcance, tanques blindados e pela Força Aérea Alemã.
Por meio da blitzkrieg que a Alemanha abateu a Polônia e, em seguida, anexou a porção ocidental do país. A parte oriental, tal como havia sido combinado, ficou para a União Soviética.

Em 1940, as forças alemãs conquistaram a Dinamarca, a Holanda, a Bélgica, a Noruega e a França.

No início de agosto de 1940, a Força Aérea Alemã passou a bombardear as cidades inglesas, arrasando bairros inteiros e matando milhares de civis.

Mas a Inglaterra não se rendeu. A Força Aérea Inglesa (RAF) reagiu e, fazendo uso de radares, conseguiu vencer inúmeras batalhas aéreas contra o invasor. Diante disso, os alemães viram-se forçados a adiar a invasão do território inglês.

Foi aí que Hitler se voltou para o leste e começou a planejar a conquista da gigantesca União Soviética. Preparava-se para isso quando precisou desciar parte de suas tropas a fim de socorrer Mussolini, que fracassara ao tentar dominar a Grécia.

No decorrer de 1941, dois acontecimentos influenciaram profundamente o curso e o desfecho da guerra: a invasão da União Soviética pela Alemanha, iniciada no mês de junho, e o ataque do Japão à base militar norte-americana de Pearl Hrbour, no Havaí, no mês de dezembro.

2º fase (1942-1945). Caracterizou-se pela contra-ofensiva bem sucedida dos aliados (Estados Unidos, Inglaterra, União Soviética, França e outros aliados).

Interessados pelas riquezas soviéticas, Hitler passou por cimo do trato firmado com Stálin e desfechou uma violenta ofensiva contra a União Soviética.

Surpreendidos, os sovíéticos adotaram a antiga tática "terra arrasada", que consistia em ceder espaço, destruindo antes tudo aquilo que podia ser util ao adversário.

Na cidade de Stalingrado, aconteceu uma das batalhas mais importantes e violentas da Segunda Guerra, a Batalha de Stalingrado. Os soviéticos quebraram o mito da invencibilidade nazista, obrigando os alemães à sua rendição.

Os Estados Unidos, também contribuíram decisivamente na luta contra o Eixo. Além de participarem no conflito desde 1941, os norte-americanos forneceram aos seus aliados enormes quantidades de equipamento bélico, tanques, navios e aviões de boa qualidade.

Os norte-americanos venceram os japoneses nas importantes batalhas navais de Midway e Mar de Coral, conseguindo barrar a ofensiva nipônica no Pacífico.

No final desse mesmo ano, enquanto os ingleses venciam os alemães e italianos, na batalha de El Alamein (Egito), tropas anglo-americanas (tendo a participação do Brasil) desembarcaram no Marrocos e, em pouco tempo, dominara o norte da África.

O Pacto Ribbentrop-Molotov


Em 23 de agosto de 1939, Hitler e Stalin assinaram um pacto de não-agressão. Alemanha e União Soviética se comprometeram a não atacar uma à outra e se manter neutras se uma delas fosse atacada por uma terceira potência.

Stálin é o segundo à direita,


O noticiário nas telas dos cinemas, muito utilizado como meio de propaganda na Alemanha nazista, informava: "As missões militares das potências ocidentais ainda estavam em Moscou quando o ministro de Relações Exteriores do Reich, Von Ribbentrop, chegou à capital soviética. Depois de uma recepção cordial, o ministro foi para a embaixada alemã e apresentou-se mais tarde no Kremlin, onde foram assinados, na presença de Stalin, os pactos de não-agressão e de consultações".

O que foi noticiado como óbvio, em 23 de agosto de 1939, era sensacional não só para a maioria dos alemães, mas também para as potências ocidentais Reino Unido e França. Afinal, a União Soviética vinha sendo, há anos, apontada pela propaganda nazista como inimigo político dos alemães. Como poderia ser diferente de uma hora para outra?

Hitler: renunciamos ao uso da violência

Hitler disse no Parlamento em Berlim: "Os senhores sabem que a Rússia e a Alemanha são governadas por duas doutrinas diferentes. Mas, no momento em que a União Soviética não pensa em exportar a sua doutrina, eu não vejo mais motivo que nos impeça de uma tomada de posição. Por isso decidimos firmar um pacto que exclui o uso de todo tipo de violência entre nós por todo o futuro".

No seu discurso no Reichstag, Hitler não disse uma palavra sobre o que a Alemanha e a União Soviética assinaram de fato em 23 de agosto de 1939. Pois o chamado Pacto Hiltler-Stalin não consistia só na parte oficial em que os dois ditadores se comprometiam em não apoiar os inimigos um do outro, mas também num protocolo adicional secreto. Nesta parte ficou combinada uma divisão da Polônia e da Finlândia, e os Estados bálticos e a Bessarábia foram prometidos à União Soviética.

Oito dias antes do ataque alemão contra a Polônia, o protocolo falava, previamente, de uma "reorganização político-territorial" do Estado polonês e de uma invasão pelas tropas da Wehrmacht, como esclarece o historiador alemão Karl-Dietrich Bracher.

"Já em maio de 1939, Hitler disse a comandantes militares que não poderia mais alcançar novos êxitos sem derramamento de sangue. Quer dizer que estava escolhido o caminho para a guerra. Agora então só se poderia falar sobre quais as possibilidades de marchar para a guerra por um caminho plausível e sem grandes riscos."



Guerra contra o Ocidente

Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista, já profetizava o fim da guerra contra o Leste Europeu em fevereiro de 1940: "Uma guerra em dois fronts – a nossa grande perdição – é coisa do passado. Agora a nação alemã vai se voltar exclusivamente para o Ocidente. É para lá que dirigimos as nossas metas, todas as nossas esperanças e também todos os nossos desejos", disse o ministro da Propaganda numa manifestação gigantesca do Partido Nazista.

Poucos meses depois, as tropas alemãs invadiram a Bélgica, Holanda, Luxemburgo e, finalmente, também a França. Stalin observava tudo passivamente. França e Inglaterra haviam entabulado negociações secretas com a União Soviética, em 1939, mas, ao contrário de Hitler, não se dispuseram a deixar o Leste da Europa sob o domínio de Moscou.

Relações comerciais com a Alemanha também eram de importância decisiva para a União Soviética e Stalin assegurou a importação de máquinas e tecnologia militar, assinando um acordo econômico com os nazistas.

Hitler ataca URSS de surpresa

Hitler, por sua vez, firmou o pacto de não-agressão principalmente com o propósito de ganhar tempo para os seus planos de guerra. No final de 1940, ele deu instruções concretas, sob o código Barba-Roxa, para sua campanha contra a União Soviética. Em 22 de junho de 1941, as tropas nazistas atacaram, de surpresa, a União Soviética.

O pacto Hitler-Stalin – uma aliança entre dois ditadores e dois Estados com regimes completamente opostos –, que deveria possibilitar aos dois parceiros conquistas territoriais e políticas de grandes proporções e, ao mesmo tempo, mudar o equilíbrio político na Europa, foi uma mácula na história.

domingo, 24 de agosto de 2008

O Brasil na II Guerra

Emblema da FEB com a ilustração de uma cobra fumando cachimbo

O Correio Braziliense de hoje traz uma reportagem sobre a participação brasileira na II Guerra Mundial. Apesar de destacar a “bravura” de nossos pracinhas no combate contra as forças alemãs, o cerne da reportagem revela as péssimas condições física, bélica e de preparo militar dos nossos soldados.

Que nossa participação nos combates finais desse conflito foi medíocre, não há dúvida. O velho ufanismo, tão caro ao Exército ou a setores nacionalistas, que destacaram a “bravura” desses soldados, que exaltaram a participação “importante e decisiva” do Brasil na Segunda Guerra, escondia um recrutamento deficiente, soldados com várias doenças venéreas - contraídas ainda no Brasil, - sem instrução – muitos analfabetos – e com um armamento obsoleto. Estas foram as marcas de nossos pracinhas.

Essas deficiências vexatórias provocaram, segundo o general de guerra João Batista Mascarenha de Morais, “amargos dissabores e pesados vexames” quando esse contingente formado por homens desdentados, subnutridos e com péssima formação escolar e militar, apresentou-se para o combate na Itália. Nossa vitória em Monte Castelo, portanto, foi menos por causa da habilidade e coragem de nossos pracinhas do que pela debilidade das forças nazistas que sofriam na Itália e em outras partes da Europa, as duras ofensivas dos aliados, sobretudo das forças anglo-americanas no sul e no oeste e do Exército Vermelho, no leste. Cansados, com o moral abatido, os soldados nazistas sequer conseguiram resistir ao pelotão brasileiro, treinados às pressas, usando armamento americano, e que, diga-se, só tinha a oferecer o destemor. Não era muito, embora, estivesse longe de ser pouco.

Soldados brasileiros após a batalha de Monte Castello, Itália no dia (ou pouco depois de) 22 de Fevereiro de 1945.

Duas perguntas se impõem: Por que, sem condições, o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial? Antes de tudo, é preciso lembrar que o Brasil, durante a Segunda Guerra, vivia sob o regime ditatorial do Estado Novo (1937 – 1945). Ideologicamente, portanto, estava muito mais próximo do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) do que dos aliados (Inglaterra e Estados Unidos, principalmente). Muitos membros da ditadura de Vargas eram simpatizantes do nazismo e do fascismo. Alguns aspectos do Estado Novo, como estatismo, ausência de eleições e censura eram inspirados nesses regimes totalitários. Por muito pouco, o governo getulista não fechou um acordo com os nazistas, como comprova a seguinte mensagem do general Dutra - que sucederia Vargas na presidência - à presidência da república, datada de 20 de novembro de 1940: “Cabe-me, em conclusão, declarar a V Excia que da leitura deste relatório mais revigorada sinto a necessidade de prosseguirmos, com todo o afinco, nas tentativas de receber o material encomendado no Reich e que por este país vem sendo posto à nossa disposição, malgrado as tremendas dificuldades que atravessa,dentro dos prazos e das quantidades estipuladas em contrato.”

Outro exemplo conhecido por muita gente porque tratado em filme de sucesso, foi a decisão política do governo Vargas em entregar a revolucionária comunista Olga Benário aos nazistas depois da malfadada Intentona Comunista de 1935. Retratada no filme como uma heroína que sonhava com um mundo mais justo - e na cabeça dela isso só ocorreria com a implantação do comunismo no Brasil - foi deportada ilegalmente para a Alemanha nazista, grávida de um brasileiro, Luís Carlos Prestes, recém-convertido à ideologia comunista. Vendo o filme, dá até para sentir pena da Olga. A verdade, porém, é bem menos romântica. Olga e Prestes faziam parte de um plano para derrubar o governo Vargas que na época era constitucional e legítimo. Se Vargas usou essa tentativa de Golpe para implantar o Estado Novo é bom lembrar que se a Intentona tivesse vencido, a democracia teria sido varrida de nosso país da mesma maneira, com a diferença, estou seguro, que o número de mortos e de perseguidos seria bem maior, a julgar pelo DNA stalisnista dos revolucionários. Volto ao ponto.

Apesar de todo flerte do governo Vargas com o nazismo, na hora da verdade, o Brasil ficou do lado dos aliados. A razão principal: os Estados Unidos aprovaram, finalmente, o empréstimo para a construção da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), decisiva para os planos de Vargas que tencionava acelerar a industrialização brasileira. Diante do compromisso do governo dos Estados Unidos e do empenho pessoal do presidente Franklin Delano Roosevelt, O Brasil declara apoio aos aliados. A reação do eixo foi imediata: submarinos alemães e italianos afundam navios brasileiros no atlântico e o Brasil, depois de assegurar o dinheiro americano, declara guerra ao Eixo, isso em 1942. Dois anos depois, enviamos nossos pracinhas, amargando dissabores e vexames, ao teatro do conflito.

A segunda pergunta que se impõe é a seguinte: as nossas Forças Armadas, hoje, estão melhores equipadas do que estavam em 1944? A pergunta não é boa. Talvez uma maneira mais adequada de perguntar, fosse: nossos homens e nossas armas, atualmente, equiparam-se em qualidade, preparo e tecnologia às melhores Forças do mundo? É forçoso dizer que não. Se nossos militares, atualmente, estão física e intelectualmente bem superiores aos pracinhas da II Guerra, a falta de investimentos do governo na área militar nos coloca bem atrás mesmo de exércitos medianos. Comparativamente, nosso exército hoje, tem, com certeza, uma distância parecida, em qualidade da tropa e em tecnologia bélica, que tinha na década de 40 do século passado em relação às grandes potências, com um agravante: nem na América do Sul somos os mais fortes. A Venezuela, do bufão Hugo Chávez, do ponto de vista militar, é superior às nossas forças.

Leia a matéria! É curta, mas muito instrutiva. Não a publico aqui porque não assino o Correio e por isso não tenho acesso ao jornal pela internet

sábado, 23 de agosto de 2008

O Golpe do Século



O partido comunista chinês é a mais formidável
máquina de cooptação social já criada: mudou
a China para que tudo continuasse como era


A simetria que satisfaz

Uma cena da abertura da Olimpíada: os chineses alinham-se disciplinados na marcha para a liberdade – de produção e consumo

Jade Palace Hotel. É onde a equipe de VEJA está hospedada em Pequim. No cardápio dos estabelecimentos credenciados pelo comitê olímpico, foi apresentado como um hotel do nível dos melhores ocidentais e bem localizado. É longe de tudo, estamos praticamente isolados em uma franja da cidade. Os funcionários são amadores – todos têm o crachá de "trainee" e trabalham por um prato de macarrão. Ninguém fala inglês, ninguém sabe colocar uma mesa, muitos chegaram do interior na semana passada. Pedir um sanduíche de queijo é um sacrifício. Não sabem o que é sanduíche, não sabem o que é queijo, não sabem o que é um hóspede. Os trainees foram encarregados de vigiar cada movimento nosso. Quando não estamos com o crachá olímpico, exigem que apresentemos o cartão magnético do hotel para nos deixar entrar no elevador. A comida é de campo de reeducação. Os preços são extorsivos: um café custa o equivalente a 14 reais. O único serviço satisfatório é o de tinturaria. Não exige comunicação verbal e a tradição chinesa é boa nessa área do conhecimento humano. O Jade Palace Hotel pertence ao governo – ou seja, ao partido comunista. Não tem sócios capitalistas, locais ou estrangeiros. Desde que soube disso, este repórter resolveu dar ordens como o presidente Hu Jintao. "Não temos banana, senhor." "Então, ligue para o partido e ache uma banana." A banana aparece. "É impossível achar um táxi, senhor." "Então, ligue para o partido, quero um táxi em cinco minutos." O táxi aparece. Dar ordens é a única maneira de fazer funcionar uma parte dos chineses. A constatação empírica foi confirmada por estrangeiros que trabalham em Pequim. Sem dar ordens, concordamos todos, a vida fica impossível.

Mais do que uma má experiência pessoal, o Jade Palace Hotel é uma má experiência política. Estamos diante do comunismo em estado puro, a maior empulhação da história. Vende-se como o paraíso, mas as tintas são infernais. Nesta China capitalista, que abriu uma estrada de dezesseis pistas para o Ocidente, o dado tão curioso quanto inquietante é que o comunismo sobrevive forte em vários aspectos, para além da marca de fantasia do partido. É espantoso que a internet, hoje ao alcance de 250 milhões de chineses, esteja sob controle da censura estatal, mas o que dizer de revistas estrangeiras que chegam às bancas (pouquíssimas) ou aos eventuais assinantes (menos ainda) com páginas coladas? Se o assunto da reportagem for China, os censores grudam o que julgam ser ameaçador ao regime. Da mesma forma que os trainees do Jade Palace Hotel, eles não sabem inglês ou qualquer outra língua estrangeira. Então, eliminam o problema da liberdade de imprensa passando cola em todos os textos aparentemente sensíveis. Basta lerem a palavra China e lá vai cola. Ao leitor, resta o caminho do fogão. Esquenta-se uma panela d’água e, quando o vapor sobe, coloca-se a revista sobre ele, para tentar desgrudar as páginas. Leves princípios de incêndio vêm sendo causados pela censura.

Livros de bons autores à venda: quase não há. De maus autores: situação idêntica. Importação de livros: demorada e com o risco de cola nas páginas. Cinema: minguadas setenta salas para os 17,4 milhões de habitantes de Pequim. A exibição de filmes estrangeiros no país é restrita a vinte títulos novos por ano. Assim como as produções chinesas, eles não podem ter cenas de sexo, mensagens políticas ou questionamentos de ordem moral. É o mundo encantado da Disney comunista. Televisão: apenas forasteiros têm acesso a canais a cabo. Chineses, só se ficarem hospedados num hotel cinco-estrelas. As emissoras abertas, estatais, exibem majoritariamente novelas ambientadas quinhentos anos atrás, protagonizadas por senhores da guerra de barbas e sobrancelhas longas, com os cabelos, também compridos, cortados ao estilo Chitãozinho e Xororó e enfeitados por coques fashion. As novelas seriam suportáveis sob efeito de uísque. Você poderia fingir mais facilmente que assistia a Kill Bill 278, 279, 425... Como no Jade Palace Hotel não há uísque de verdade, o dia começa cedo e acaba tarde na Olimpíada e o honorável estabelecimento só tem CNN e um canal da HBO, o melhor é apagar a TV.

Estrangeiros e chineses mais exigentes (pouquíssimos) perdem um quinhão do seu tempo driblando as proibições. "Se você tiver o software certo, dá para acessar os sites de notícia europeus e americanos", disse a VEJA uma mocinha de Xangai. "É a coisa mais fácil do mundo", confirmou outro jovem de Pequim, mais interessado em pornografia. Comprar filmes piratas na China, a única maneira de assistir

A abertura econômica é uma realização a festejar. Graças a ela, os chineses comuns entrevistados por VEJA podem dizer, sem incorrer na mentira, que vivem melhor do que seus pais e avós. Mas, do ponto de vista político, foi o golpe do século. Deveriam trocar o retrato de Mao Tsé-tung, na Praça da Paz Celestial, pelo de seu artífice, Deng Xiaoping. Abrir a economia permitiu a sobrevivência no poder do Partido Comunista Chinês. No fim da década de 70, sob a égide do reabilitado Deng, submerso à força durante a Revolução Cultural, alguns dirigentes começaram a pregar publicamente uma certa flexibilização do regime, e resoluções nesse sentido foram adotadas. Para que ela fosse adiante, no entanto, era preciso exorcizar a figura do timoneiro sanguinário, morto em 1976, bem como parte de sua herança maldita, sem que o ritual de execração implicasse a autodestruição do PC. Em 1982, as condições internas (comunista adora falar em "condições internas") permitiram que, durante um congresso do partido, Mao sofresse sua crítica definitiva. A Revolução Cultural, que jogara a China na treva absoluta durante os anos 60, foi declarada um desastre, um tumulto interno. Mao perdeu a condição quase divina, mas manteve a classificação de "grande homem".

O processo de abertura, mesmo com o empuxo a favor, só ganharia velocidade e corpo em 1989, depois do massacre de 200 estudantes entre milhares de revoltosos reunidos na Praça da Paz Celestial. Os mártires e mais o milhar de colegas presos queriam um tantinho de oxigênio, nada além disso, mas haviam ido longe demais. A tragédia, que marcou indelevelmente a história chinesa, embora não conste da versão oficial, acendeu o alarme vermelho no partido. Temerosa do mesmo destino dos amigos soviéticos, então próximos do fim, a cúpula deliberou mudar logo e rápido, para que tudo continuasse como era. "Um país, dois sistemas", na brilhante – e marota – definição de Deng. O golpe do século. "Eu estava fora da China quando ocorreu o episódio na Praça da Paz Celestial. Aquilo me transtornou. Saí andando sem destino. Dias mais tarde, recebi uma circular secreta do partido. Nela, os dirigentes reconheciam a demora para abrir a economia. Se houvessem tomado as devidas providências, afirmavam no documento, a revolta e a morte dos estudantes teriam sido evitadas", disse um integrante do PC (vamos chamá-lo de Zhou), enquanto almoçava com a reportagem de VEJA em um restaurante da região de Sanlitu, em Pequim, onde os turistas têm à sua escolha todos os tipos de diversão – e risco – do capitalismo outrora considerado decadente.

Quem olha de fora tende a acreditar que, tal como ao dia se segue a noite, ao desentrave econômico sucederá a liberdade política. Não é bem assim. A primeira verdade em oposição é que, como a China jamais foi pluralista, inexistem anseios democráticos como no Ocidente. Esses são frutos da filosofia iluminista européia e dos ideais da revolução americana, concepções estranhas e alienígenas do ponto de vista chinês. O marxismo, igualmente alienígena, vicejou na China por ter-se casado à perfeição com uma cultura alicerçada sobre o absolutismo. A segunda verdade é que, apesar de todo o controle estatal, os chineses nunca foram tão livres como hoje – e enxergam no partido comunista pós-1989 uma garantia dessa liberdade, em vez de um obstáculo a ela. Liberdade, aqui, não é de palanque, voto ou informação. É de compra, venda e consumo. O golpe do século, lembra-se?

Ao contrário do soviético, que nasceu, cresceu e morreu como um organismo estranho à sociedade, o partido chinês foi-se entranhando na estrutura do país. O mais surpreendente é que a dinâmica se acelerou nos últimos anos. O PC chinês é hoje um clube com 78 milhões de membros – ou 6% da população total. Há quase tantos comunistas de carteirinha na China quanto alemães na Alemanha. A idade média é 35 anos. As células e os comitês, que movimentam o dia-a-dia do partido, somam 3 milhões de militantes. A cada ano, o PC incorpora 1,8 milhão de novatos. O financiamento se dá por meio de contribuições. Os integrantes da área rural, mais pobres, pagam 1 iuane por mês, o equivalente a 23 centavos de real. Os assalariados de menor renda desembolsam 1% do salário mensal; os de maior renda, e também profissionais liberais e empresários, de 4% a 5% do que ganham por mês. Os dados foram fornecidos pelo secretário-geral de comunicação do partido, Lu Jianping, em entrevista a VEJA.

A revista chegou até ele por intermédio de Wang Jianchao, uma simpática e prestativa jornalista da Associação de Jornalistas de Toda-China. O hífen está presente na designação das associações profissionais chinesas. Indica que não há divisões sindicais ou algo do gênero – e que elas não são toleradas. Os jornais e revistas todo-chineses são abundantes. Existem 10 000 publicações periódicas, cuja função é, no máximo, contar uma parte da verdade, jamais a verdade inteira. No hall do prédio da Associação de Jornalistas de Toda-China, duas fotos distraem os visitantes no chá de sofá: a de Mao lendo o Diário do Povo, órgão oficial do PC, e outra de Chou En-Lai, no jardim de sua casa, rodeado de jornalistas ocidentais. Deve datar dos anos 50 e dá vontade de ser um dos seus figurantes. Companheiro de primeira hora de Mao, Chou era de família rica e tinha formação européia. Viveu em Paris, exilado, no início da década de 20. A foto revela aquele permanente estar à vontade dos bem-nascidos. Devia ser um ótimo papo.

Fomos de carro preto, com motorista, ao encontro do secretário-geral. No trajeto, a senhora Wang explicou que o departamento havia mudado de nome recentemente – deixara de ser "de propaganda" para se tornar "de comunicação". "Alguma mudança nas diretivas?" "Não." Às vezes os jornalistas chineses dizem toda a verdade. Lu Jianping não é um Chou En-Lai, mas tem lá sua cota de poder, é simpático e até relaxado para os padrões locais (só contraiu o rosto diante da lente do fotógrafo). Tem 54 anos, não pinta o cabelo e não usa gel, ao contrário da maioria dos dirigentes do partido. Estava sem terno, porque o presidente Hu Jintao, secretário-geral do PC, recomendou que, no verão, o traje formal fosse abolido. Economiza-se no ar-condicionado. Como em toda sala oficial chinesa para recepção de visitantes, a de Lu Jianping tem poltronas arrumadas em simetria, voltadas para um centro vazio: a do anfitrião é separada por uma mesinha da do visitante principal. Em cima do móvel com toalha de renda e vaso de flores, uma garrafa de água e uma chávena de chá para cada um. O número de poltronas depende do tipo de reunião. Quanto maior a quantidade, mais importante é o dignitário. A simetria expressa formalidade – e não deixa de ser intimidatória. Seis poltronas foi lisonjeiro. Quando VEJA o entrevistou, os jornalistas estrangeiros, recém-chegados ao centro de imprensa olímpico, reclamavam que a China não havia cumprido o compromisso de deixar o acesso à internet inteiramente livre. Perguntado a respeito, Lu Jianping respondeu que ocorrera um problema técnico e que o país seguiria à risca o acordo com o Comitê Olímpico Internacional. "Por que os ocidentais acham que controlamos tudo?", completou. "Essa conversa não vai longe", pensou este repórter. Mas foi.

Virar comunista no Brasil é fácil. Basta ter as idéias erradas, preencher uma ficha de filiação, colocar um broche na camiseta e sair por aí falando e fazendo bobagens. Na China, é necessário mais do que idéias erradas (atualmente, são exigíveis até algumas corretas) e você assina a ficha depois de uma seleção rígida. Não é um clube que aceita qualquer um, coloque-se dessa maneira. Lu Jianping animou-se a contar a história do seu ingresso no partido, segundo ele muito ilustrativa. Em 1974, aos 20 anos, estudante universitário, começou a trabalhar na secretaria de educação de Xinjiang, região autônoma no oeste do país, com significativa população de fé islâmica (e palco de atentados perpetrados por separatistas, no início de agosto). Foi nessa ocasião que Lu Jianping se animou a entrar no PC. Para tanto, teve de escrever uma carta em que expunha os motivos da decisão. Carta aprovada em uma reunião da célula correspondente à secretaria, ele passou a ser observado por dois sindicantes que davam expediente na mesma repartição. Verificada sua, digamos, vocação para comunista, foi procurado por dois homens para uma conversa. Nela, fizeram-lhe três perguntas: a) O partido é para servir ao povo. Você quer servir ao povo? b) Você está de acordo com os princípios e o programa do partido? c) Você está disposto a trabalhar dentro de um sistema de democracia centralizada? Sim, sim e sim para as questões, a célula reuniu-se outra vez. Acharam que Lu Jianping levava jeito e ele foi submetido a novas rodadas de conversas. Ouviram as opiniões a seu respeito de pessoas do seu convívio profissional, social e familiar. Como o horizonte se manteve favorável, Lu Jianping viu-se convidado a participar de uma reunião da célula, em que fez uma explanação sobre o seu desejo de filiar-se ao partido. Em seguida, a célula votou. Seu nome foi aprovado da única forma possível: por unanimidade. Enviaram, então, um relatório ao comitê local do partido. Chancelado pela instância superior, declararam-no aspirante e lhe designaram um tutor. Um ano depois, ainda na condição de aspirante, ele fez um juramento de lealdade diante da bandeira do PC. Inúmeras reuniões e votações correram até que, em 1981, finalmente, ele se tornou membro pleno. "Eu me esforcei durante sete anos", disse Lu Jianping, ainda com o orgulho de vestibulando aprovado.

Nem todos os aspirantes demoram tanto tempo. A protelação do ingresso de Lu Jianping pode ser creditada a um período de enormes convulsões – e desconfianças – entre os quadros partidários. Mas o processo de seleção, para 99% das pessoas, é basicamente o mesmo. VEJA entrevistou uma jovem de 26 anos, Lillian Chen, moradora de Pequim. Formada em jornalismo, fluente em inglês, produtora de documentários televisivos – faz trabalhos para a BBC –, ela foi convidada a entrar no PC quando cursava o equivalente ao colegial brasileiro, por causa de suas notas excelentes. Gostou da idéia e cumpriu a trajetória de Lu Jianping, só que apenas em um ano. Quando completou 18, assinou a ficha de filiação. Além de viver em outros tempos, Lillian Chen recebeu um convite e na adolescência. Combinados, os dois fatores aceleram o processo. "Não, ser do partido não me proporciona regalias diretas. Talvez no passado fosse assim", afirmou. "O seu ingresso, então, foi por motivos ideológicos?", perguntou VEJA. Lillian Chen abriu um sorriso: "Não falo sobre política. Aliás, nem em casa. As duas amigas com quem divido apartamento também são do partido, mas nós só conversamos sobre roupas, acessórios que estão na moda, essas coisas". O nosso terceiro comunista, Zhou, enquadra-se no 1% que não enfrenta processo de seleção – pelo menos, não o usual. Abriram-lhe as portas do partido graças aos serviços prestados à China no exterior. Quais serviços foram esses, ele não revela. Só deixou escapar que, no Brasil, se surpreendeu ao encontrar no estado do Acre um sujeito que mantinha na estante os livros de Mao e pregava a revolução armada contra os exploradores capitalistas. "Nem nós acreditávamos mais nesse tipo de coisa", riu-se Zhou. Foi-lhe explicado que a América Latina era "o cemitério de idéias". Ele aprovou a expressão.

O partido comunista chinês é visível e invisível no cotidiano. Você certamente sabe que seu chefe pertence a ele, mas talvez fique surpreso ao ser informado de que seu melhor amigo, sentado ao lado, também é do PC. Integrá-lo pode não lhe dar benefícios diretos, como diz a jovem Lillian Chen, mas pode resultar num bom guanxi – o nome que se dá à teia de relações pessoais e profissionais, sem a qual ninguém toca negócios ou é promovido na China. Por incrível que pareça, não é a única agremiação política do país. Há outras nove, todas aliadas ao PC, logicamente. Existe inclusive uma versão do Kuomintang, o partido nacionalista defenestrado do poder pelos comunistas, em 1949. Chama-se Comitê Revolucionário do Kuomintang. Quando a rebelde Taiwan for anexada, não é impossível que seus atuais líderes passem a integrar essa agremiação fantoche.

Como há otimistas em qualquer situação, há quem entreveja a possibilidade de a China vir a adotar um regime próximo da democracia real. Eles enxergam nas eleições para representantes municipais, que começaram em meados da década de 80, o germe de um sistema de escolha nacional mais abrangente. Embora poucas cidades constem desse espectro, citam, em seu favor, o fato de haver votação popular nas 700 000 aldeias do interior, onde vivem 700 milhões de pessoas. O americano John L. Thornton, professor da Escola de Economia e Administração da Universidade Tsinghua, em Pequim, detecta avanços na mentalidade dos líderes chineses. Na visão de Thornton, se, em 2012, o substituto de Hu Jintao na secretaria-geral do partido for eleito por voto no Comitê Central, e não por aclamação dirigida, isso sinalizará que mudanças positivas poderão ocorrer no regime como um todo. "O partido, internamente, está tentando adaptar-se à nova dinâmica social", corrobora Lu Jianping. Mas ele ressalva: "O sistema chinês não devorará o ocidental, nem o ocidental devorará o chinês".

O fato incontornável e imune a otimismos é que o partido comunista chinês é a mais formidável máquina de cooptação social já criada na história. Concentra, com raras exceções, a elite intelectual, técnica, empresarial e financeira do país. Em uma China interessada em fechar bons negócios, entrar para o PC é o primeiro negócio a ser feito. Garante guanxi para ganhar dinheiro e blindagem judiciária, pois os juízes e promotores são indicados pelo partido. Como na União Soviética da era Leonid Brejnev, se um comunista de carteirinha for pego com a boca na botija, mas seu caso for considerado "delicado", ninguém o condenará. O PC transformou-se numa espécie de centrão, onde sempre cabe mais um. Candidatos de listas independentes a cargos locais invariavelmente se filiam à agremiação depois de eleitos. Por que mudar se está ótimo para todo mundo que conta e o povão jamais viveu tão bem? A coisa só não é boa para os hóspedes do Jade Palace Hotel.

a cenas de sexo, mensagens políticas ou questionamentos de ordem moral, não representa uma dificuldade. Ligações clandestinas de emissoras a cabo já são um clássico. Contrabando de livros do exterior, idem. Não é que o governo não veja. Ele simplesmente fecha os olhos, porque sabe ser peraltice de uma infimíssima minoria. A maioria – com todo o peso que isso significa num país de 1,3 bilhão de habitantes – está ocupada em seguir o modelo do cidadão da Nova China: não reclame, não discuta, confie nos seus líderes, trabalhe duro em prol da nação e você também progredirá materialmente.

(link só para assinantes) daqui a duas semanas, o link estará aberto para todos.



A Nova China e mesmo assim o comunismo é uma desgraça!

Meus amigos, a matéria que está no post acima, mostra a verdadeira face da China. Esse gigante que desde 1949 tornou-se comunista sob a égide do maior assassino em massa que a história conheceu, o timoneiro Mao Tsé Tung. Quando esteve à frente da China, Mao e sua política assassina, mataram cerca de 70 milhões de chineses. Isso mesmo, meus caros, 70 milhões!

A partir de 1982, Deng Xiaoping sepulta a famigerada Revolução Cultural, implantada na China na década de 60, e dá início à abertura econômica do Regime. Reformas tímidas não resolveram a angústia do povo chinês que passava fome e sofria com uma pobreza extrema. Quando, em 1989, eclodiu o famoso protesto da Praça da Paz Celstial onde 200 manifestantes foram mortos pelo governo, o Partido Comunista Chinês decidiu acelerar o processo de abertura econômica, que acabou ficando conhecido como Capitalismo de Estado.

A pujança econômica da China - provocada pela abertura econômica - tirou 400 milhões de chineses da pobreza só nos últimos 15 anos. Essa abertura, contudo, não trouxe liberdade política nem de expressão e muitos chineses ainda vivem em condições de miséria, mas é inegável que hoje eles vivem bem melhor - do ponto de vista das condições materiais - do que viveram seus pais e seus avós. No próximo post, leia, na íntegra, a matéria de Veja.

Assista a um vídeo no youtube que mostra cenas marcantes do protesto de estudantes em 1989 na China.

domingo, 17 de agosto de 2008

Carmina Burana

A roda da deusa Fortuna!

Embora composta em 1937, a cantata Carmina Burana remete-nos pela melodia e pelos arranjos, além, é claro, pelos versos em latim medieval, a um período da história em que o pensamento religioso ditava as regras da sociedade e onde os nobres só desempenhavam uma função: a guerra!

A música que você pode ouvir clicando no play é apenas uma forma de ambientar você à essa época. Escute-a. Vale a pena! Imagine, por exemplo, os cruzados diringindo-se à Terra Santa para combater os muçulmanos, tudo, claro, em nome de Deus!





Abaixo, a letra em latim

O Fortuna
velut luna
statu variabilis,
semper crescis
aut decrescis;
vita detestabilis
nunc obdurat
et tunc curat
ludo mentis aciem,
egestatem,
potestatem
dissolvit ut glaciem.


Sors immanis
et inanis,
rota tu volubilis,
status malus,
vana salus
semper dissolubilis,
obumbrata
et velata
michi quoque niteris;
nunc per ludum
dorsum nudum
fero tui sceleris.


Sors salutis
et virtutis
michi nunc contraria,
est affectus
et defectus
semper in angaria.
Hac in hora
sine mora
corde pulsum tangite;
quod per sortem
sternit fortem,
mecum omnes plangite!

TRADUÇÃO

Oh, fortuna,
Variável
Como a lua,
Sempre cresces
Ou minguas;
Detestável
Ora frustra
Ora satisfaz
Com zombaria os desejos da mente,
À pobreza
E ao poder
Dissolve como se fossem gelo.

Sorte monstruosa
E vã,
Tu, roda a girar,
A aflição
E o vão bem-estar
Sempre se dissolvem
Tenebrosa
E velada
Atacas-me também;
Agora por teu capricho
Costas nuas
Trago sob teu ataque.
Senhora do bem-estar
E da virtude,
Estás agora contra mim;
Nesta hora
Sem demora
Tocai as cordas;
Pois que a sorte
Esmaga o forte
Chorai todos comigo.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

As Cruzadas 2

No post abaixo, há um trecho do discurso que o Papa Urbano II fez na cidade de Clermont, norte da França, convocando os cristãos de toda a Europa a lutarem no oriente contra os muçulmanos e libertar Jerusalém das mãos dos "infiéis". Leia o discurso. Há passagens reveladoras!

Dissemos em sala que entre o final do século XI e o século XIII, houve 8 cruzadas. Neste link, você verá que houve nove, o desencontro é simples de explicar. Logo após à oitava cruzada, houve mais uma expedição liderada pelo príncipe Eduardo da Inglaterra. Todavia, os efeitos dessa expedição foram tão irrisórios que poucos historiadores a consideram como tendo sido mais uma cruzada. Fica, portanto, o número oficial de 8 cruzadas, mais a trágica cruzada popular, liderada por Pedro, o eremita e a controversa "cruzada das crianças". Estas duas últimas não entram na contabilidade da cruzada oficial.

Clicando aqui, você terá acesso a um resumo de cada uma das oito cruzadas, além do legado, isto é, das conseqüências dessas expedições militares para o ocidente.

Dê especial atenção às quatro primeiras cruzadas e ao legado desses movimentos para o mundo ocidental.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

As Cruzadas 1


Discurso de Urbano II no concilio de Clermont de 1095
Segundo Fulquerio de Chartres

“Meus queridos irmãos, ungido pela necessidade, eu, Urbano, com a permissão de Deus o bispo chefe e prelado de todo o mundo, vim até esse lugar na qualidade de
embaixador, trazendo uma mensagem divina a todos os servos de Deus. (...)

Posto que vossos irmãos que vivem no Oriente requerem urgentemente as vossas ajudas, e vós deveis esmerar para prestar-lhes a assistência que a eles vem sendo prometida faz tanto tempo. Aí que, como sabeis todos, os Turcos e os árabes, os tens atacado e estão conquistando vastos territórios da terra de România (Império Bizantino), tanto no oeste como na costa do Mediterrâneo e em Helesponto, que é chamado o braço de São Jorge.
Estão ocupando cada vez mais e mais os territórios cristãos, e já venceram sete batalhas. Estão matando e capturando muitos, e destruindo as igrejas e devastando o império.
Se vós, impuramente, permitires que isso continue acontecendo, os fieis de Deus seguirão sendo atacados, cada vez
com mais dureza. Em vista disso, eu, e não bastante, Deus, os designa como herdeiros de Cristo para anunciar em todas as partes e para convencer as pessoas de todas as gamas, os infantes e cavaleiros, para socorrer prontamente aqueles cristãos e destruir a essa raça vil que ocupa as terras de nossos irmãos. Digo isto para os presentes, mas também se aplica a aqueles ausentes. Mais ainda, Cristo mesmo os ordena.
Todos aqueles que morrerem pelo caminho, seja por mar ou por terra, em batalha contra os pagãos, serão absolvidos de todos seus pecados. Isso lhe é garantido por meio do poder com que Deus me investiu. Oh terrível desgraça se uma raça tão cruel e baixa, que adora demônios, conquistar a um povo que possui a fé de Deus onipotente e tem sido glorificado em nome de Cristo! Com quantas reprovações nos oprimiria o Senhor se não
ajudarmos a aqueles, que como nós, professam a fé de Cristo! Façamos que aqueles que estão promovendo a guerra entre fieis marchem agora a combater contra os infiéis e conclua em vitória uma guerra que deveria ter se iniciado há muito tempo. Que aqueles que por muito tempo tem sido foragidos, que agora sejam cavaleiros. Que aqueles que estão pelejando com seus irmãos e parentes, que agora lutem de maneira apropriada
contra os bárbaros. Que aqueles que estão servindo de mercenários por pequena quantia, ganhem agora a recompensa eterna. Que aqueles que hoje se malograram em corpo tanto como em alma, se dispunham a lutar por uma honra em dobro
. Vejam! Neste lado estarão os que lamentam e os pobres, e neste outro, os ricos; neste lado, os inimigos do Senhor, e em outro, seus amigos. Que aqueles que decidam ir não adiem a viajem
senão que produzam em suas terras e reúnam dinheiro para os gastos; e que, uma vez concluído o inverno e chegada à primavera, se ponham em marcha com Deus como guia.”

À proposta de alistamento, todos gritaram : "Deus vult! Deus vult!" ( Deus quer!)
Os cristãos ficaram convencidos da justiça de sua causa e decidiram pela guerra.
A partida foi então destinada para 15 de agosto de 1096.

Proposta pelo Papa, para se distinguir o exercito, uma cruz vermelha deveria ser costurada a roupa. Diz Urbano II "...a conselho do espírito santo."

Mais informações, aqui.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

domingo, 3 de agosto de 2008

Idade Média em fragmentos 1

A Paisagem

O homem das duas idades feudais, mais do que nós, estava próximo de uma natureza que, por sua vez, era muito menos ordenada e suave. A paisagem rural, onde os matos ocupavam espaços tão importantes, apresentava-se de um modo menos sensível a marca humana. Os animais ferozes, que apenas povoam os nossos contos para as crianças, os ursos, os lobos, especialmente, vagueavam por todos os lugares desertos e por vezes até nos próprios campos cultivados. Além de ser um desporto, a caça era um meio de defesa indispensável e fornecia à alimentação um contributo quase igualmente necessáio. (...) As noites, mal iluminadas, eram mais escuras, o frio, mesmo nas salas dos castelos, mais rigoroso. Numa palavra, havia por detrás de toda a vida social um fundo de primitivismo, de submissão aos elementos indisciplináveis, de contrastes físicos que não podiam ser atenuados.

A morte

A mortalidade infantil, incontestavelmente muito forte na Europa feudal, não deixava de embotar um pouco os sentimentos relativamente a lutos que eram quase normais. Quanto à vida dos adultos, mesmo independentemente dos acidentes de guerra, era em média relativamente curta. (...) a velhice parecia começar muito cedo, desde a idade madura. Aquele mundo que (...) se julgava muito velho, era de fato dirigido por homens jovens.

Entre tantas mortes prematuras, muitas eram devidas às grandes epidemias que freqüentemente se abatiam sobre uma humanidade mal apetrechada para as combater; entre os pobres, além do mais, eram provocadas pela fome. Juntamente com as violências diárias, estas catástrofes davam á existência como que um sabor de precariedade perpétua. (pág 95)

O tempo.


Dispendiosos e pouco cômodos pelo seu tamanho, os relógios de água existiam apenas em pequeno número de exemplares. As ampulhetas perece terem sido pouco usadas correntemente. A imperfeição dos relógios de sol, especialmente sob céu nublado era flagrante(...) Contando geralmente, como na Antiguidade, doze horas de dia e dose horas de noite, fosse qual fosse a estação, as pessoas mais instruídas habituavam-se a ver cada uma dessas frações, consideradas uma por uma, crescer e diminuir constantemente, conforme a revolução anual do sol.

Os números

(...) não era apenas sobre a noção da duração [do tempo), era sobre o domínio do número, no seu todo, que pesavam estas brumas. (...) A época teve, sobretudo a partir do século XI, os seus matemáticos que corajosamente tateavam, na esteira dos Gregos e dos Árabes; os arquitetos e os escultores sabiam praticar uma geometria bastante simples. Mas, entre os cálculos que chegam até nós – e isto até o fim da Idade Média – não há nenhum onde não se encontrem espantosos erros. As incomodidades da numeração romana, engenhosamente corrigidas, aliás, pelo emprego do ábaco, não chegam para explicar estes erros. A verdade é que o gosto da exatidão, com o seu esteio mais firme, o respeito pelo número, permanecia profundamente alheio aos espíritos, mesmo aos dos chefes.

A mentalidade religiosa

Povo de crentes, diz-se facilmente, para caracterizar a atitude religiosa da Europa feudal. Nada será mais justo, se isso significar que toda a concepção do mundo da qual estivesse excluído o sobrenatural era profundamente impenetrável para os espíritos daquele tempo(...) É-nos mesmo permitido dizer que nunca a Fé mereceu tanto esse nome.

PS: Os trechos acima foram retirados do livro A SOCIEDADE FEUDAL, de March Bloch. Você pode encontrar os textos nas páginas 94, 95,96,97 e 104.

sábado, 26 de julho de 2008

Quantos filhos você quer ter?

Crianças africanas famintas. O continente africano tem a maior taxa de fecundidade do mundo.


Se Thomas Malthus – aquele pastor anglicano que em 1798 escreveu Ensaio sobre a população, onde desenvolveu sua famosa teoria demográfica: a população cresce em progressão geométrica e a produção de alimentos em progressão aritmética, vivesse nos dias de hoje e manuseasse a Veja desta semana, abriria um sorriso de um canto a outro. Explico: Em matéria de Capa, a revista informa que a taxa de fecundidade da mulher brasileira caiu para 1,8 filhos por mulher. Esse número é suficiente para a revista afirmar com convicção: “a bomba demográfica brasileira foi desativada”.

Há muitos pontos no pensamento malthusiano que não são devidamente explorados. Talvez porque o principal temor de Malthus tenha se mostrado equivocado. A população mundial não cresceu da maneira como ele esperava e a produção de alimentos aumentou bem mais do que ele supunha.

Todavia, o cerne do seu temor não estava errado. Com efeito, se a população de um país cresce rapidamente, os recursos naturais desse país não serão suficientes para sustentar essa população, como conseqüência, a miséria se instalaria. Para corroborar essa afirmação, basta lembrar que os países mais pobres do mundo, os africanos, por exemplo, estão entre aqueles em que a taxa de fecundidade é uma das maiores do mundo. Malthus acertou, portanto, ao afirmar que a maneira mais segura de impedir a proliferação da miséria era o controle da natalidade.

Quando Thomas Malthus escreveu o Ensaio sobre a população, tinha como finalidade criticar pensadores – liberais, mas também, e principalmente, socialistas, que enxergavam no futuro da sociedade industrial, uma sociedade rica, próspera e feliz. Ele refutava a certeza de muitos pensadores otimistas de que o desenvolvimento tecnológico, a Razão, as máquinas, produziriam um homem menos dependente do trabalho, com mais horas de lazer, usufruindo a riqueza econômica do país.

O ponto central era este: quanto mais sossegadas, quanto menos preocupadas com a sobrevivência, as pessoas tenderiam a ter mais filhos e quanto mais filhos, os recursos naturais seriam insuficientes para todos. Daí, afirma Malthus, a importância das dificuldades, até da miséria, para conter a tendência natural das pessoas que, em condições felizes, teriam mais filhos. Aliás, Malthus entendia que os desastres naturais como enchentes e terremotos que provocavam várias mortes, traziam o benefício de estabelecer o equilíbrio entre população e recursos naturais

Malthus era um pessimista. Ele não acreditava, por exemplo, na erradicação da miséria. Segundo ele, a miséria era um dado da realidade e os esforços para vencê-la não eram apenas inúteis, mas poderiam, ao contrário, aumentá-la, em médio prazo. Quando o governo inglês criou a lei dos pobres (uma espécie de Bolsa-Família da época) no final do século XVIII, Malthus a criticou duramente. Reconhecia que a lei aliviava a miséria de muitos, mas apenas isso. Alertava, contudo, que a lei dos pobres além de não livrar o pobre a miséria, ainda poderia transformar os não tão pobres, em miseráveis, na medida que o governo retirava recursos para o desenvolvimento econômico e os transferia para os mais pobres. Para Malthus, a única forma eficiente de ter a miséria sob controle era reduzir a taxa de fecundidade das mulheres pobres, e não, como fazia a lei dos pobres, estimular o nascimento de filhos nessa faixa da população.

Os equívocos

O mais evidente erro de Malthus foi sua previsão sombria sobre o futuro da humanidade. Embora essa previsão fosse verossímil, ela não era verdadeira. Por razões alheias ao pensamento malthusiano, o crescimento demográfico foi caindo e a produção de alimentos subindo de maneira significativa. Malthus também se equivocou na idéia de que uma vida feliz e próspera incentiva uma maior produção de filhos e uma vida miserável contém esse ímpeto. O que se vê, no entanto, é que em países ricos, como os europeus, a taxa de fecundidade é baixíssima, enquanto em países pobres, a mesma taxa é altíssima.

A importância do pensamento malthusiano.

Malthus, contudo, chamou atenção para um problema real. A relação CRESCIMENTO POPULACIONAL X PRODUÇÃO DE ALIMENTOS, alertava para o fato de que os governos precisam levar em conta os gastos que terão com uma população cada vez maior. Quando a China adotou a política do filho único, não tenham dúvida, a referência teórica foi Thomas Malthus. A China tem mais de 1,2 bilhão de habitantes, mesmo com a política do filho único adotada há muito tempo pelo governo chinês. Não é à toa que os miseráveis chineses se contam aos milhões. (É verdade também que o capitalismo chinês tirou na última década, 400 milhões de chineses da miséria, diga-se)

Na esfera individual, Malthus também acertou ao afirmar que quanto menos filhos um casal tiver, mais conforto os pais e os filhos terão. Ao se ter muitos filhos, os recursos de uma família teriam que ser divididos em maior número, empobrecendo a todos.

É verdade que as mulheres hoje querem ter menos filhos porque estão mais que inseridas no mercado de trabalho, o que impediria uma prole maior. Mas também é verdade que uma outra razão para isso é o desejo de viver e de dar à prole uma vida bem mais confortável ou economicamente mais estável do que teriam se tivessem mais filhos.

Daqui a duas semanas o link para a matéria de Veja estará disponível para todos. Por enquanto, a disponibilidade é apenas para assinantes.

Leia também mais informações aqui.


segunda-feira, 14 de julho de 2008

Onde a Paz sempre perde para a Guerra.


Oriente Médio. Quando, enfim, haverá paz?

Muitos que eu conheço, à esta hora, estão longe dos afazeres. Afirmam, com justificada razão, que nesse recesso de julho o importante é descansar e se divertir. Eu, se fosse normal, também estaria, como eles, longe dos afazeres. Todavia, quem disse que escrever, para mim, apesar do esforço que faço, também não é diversão?

Na edição desta semana, a Revista Veja traz uma importante matéria sobre os perigos que os testes de mísseis de longo alcance, realizados pelo Irã, representam para a paz na região. O centro da matéria jornalística informa que os espaços para uma saída diplomática que evite um confronto na região, ficaram menores. A iminência de uma guerra, ao que parece, é real.


O perigo do Irã em desenvolver armas nucleares, como suspeitam os Estados Unidos e Israel, não representa uma ameaça apenas a esses dois países, históricos inimigos dos muçulmanos radicais da região. É importante não esquecer que o Irã tem maioria xiita, e que, portanto, os sunitas no Irã e em outros países do oriente médio, também são seus inimigos. Vejam esse trecho da matéria:

“Caso Israel tome a iniciativa de liquidar com os planos nucleares do Irã, os americanos não terão saída, exceto apoiar o país. "Levamos muito a sério a obrigação de defender nossos aliados e temos a intenção de fazê-lo", afirmou a secretária de Estado Condoleezza Rice, na semana passada. Israel teria também o consentimento de muitos países da região, como a Turquia e os árabes de maioria sunita. Alguns deles já estiveram em Jerusalém para dizer que não se oporiam a um ataque ao Irã. Além do pavor de um aiatolá atômico, essas nações possuem minorias xiitas que são ou podem se tornar fonte de problemas. O Irã dá apoio financeiro, armas e treinamento aos terroristas xiitas do Hezbollah, que, a serviço de Teerã, promovem atentados no exterior e impedem a reconciliação entre as várias comunidades religiosas do país. No Iraque, os iranianos sustentam milícias que atacam civis sunitas e soldados iraquianos e americanos.”

Aprendemos em sala de aula que a origem da divisão dos muçulmanos entre xiitas e sunitas remonta aos primórdios do Islã. Logo após a morte do profeta, a comunidade islâmica não entrou num acordo para saber quem deveria ser o califa, isto é, o sucessor do profeta Maomé (Mohammad). Um grupo entendeu que o profeta havia designado seu primo Ali como sucessor. Outro grupo, esse bem maior, entendeu que nada disse Maomé que determinasse ser Ali, necessariamente, o califa. O primeiro grupo passou a ser chamado de xiita; o outro, de sunita. A partir de então, o Islã estava irremediavelmente dividido.

O trecho da matéria, acima reproduzido, poderia nos levar a um outro equívoco comum, mas por isso mesmo, perigoso: afirmar que os radicais islâmicos, os fundamentalistas e os terroristas são apenas do ramo xiita. Como foi dito em sala e cobrando numa avaliação, fanáticos e terroristas existem nos dois ramos do islamismo. Aliás, existem em qualquer crença religiosa.

Considerar os xiitas, que são minoria entre os muçulmanos, como terroristas, consiste num duplo erro: primeiro, porque nem todos os xiitas apoiam a política do terror. Em segundo lugar, porque também há entre os sunitas aqueles que apelam para o terrorismo.

Se o governo do Irã financia grupos extremistas e terroristas de ramo xiita, como o Hezbollah, por exemplo, para que cometam ações terroristas contra Israel, mas também contra cidadãos sunitas da região; Os Estados Unidos procuram, por sua vez, financiar grupos extremistas sunitas no Irã – onde são minoria – para tentar desestabilizar o governo teocrático da antiga Pérsia.

Nunca é demasiado lembrar, que fundamentalistas sunitas têm Osama Bin Laden, o terrorista sunita mais famoso, como seu grande herói.

Em duas semanas, este link estará aberto para todos que quiserem ler a reportagem. Vale a pena, acreditem!