sábado, 29 de agosto de 2009

Algumas idéias centrais do livro Uma Gota de Sangue

(leia primeiro o post abaixo)

A INVENÇÃO DA RAÇA

"O conceito contemporâneo de raça como famílias humanas separadas pela ancestralidade que mantêm relações hierárquicas entre si surgiu e se consolidou no quadro do evolucionismo darwinista da segunda metade do século 19. A ciência oficial criou a raça. Esse período coincidiu, e não por acaso, com o imperialismo europeu na África e na Ásia.

Muitos imaginam que o conceito de raça surgiu com a escravidão moderna. É falso. A ideia de raça não veio para explicar ou justificar a escravidão e sim para explicar e justificar o imperialismo europeu, que vinha na esteira do iluminismo e da ideia de igualdade natural entre os seres humanos. Isso tinha consequências explosivas. Como dominar uma nação se todos são iguais? Não pode haver dominação. Então precisaram de algo que relativizasse a igualdade, que, afinal, ‘é um bom princípio, mas a ciência nos mostra que ele é falso, pois na verdade não existem pessoas iguais’.

Curioso notar que só nas sociedades fundadas sobre a ideia de igualdade se torna necessário invocar o mito da raça. As sociedades fundada sobre a diferença, como todas até o iluminismo, não precisam dele. O ‘racismo científico’ se fez necessário para justificar um dos grandes processos do mundo contemporâneo, o da expansão do poder econômico das grandes nações europeias.

DESINVENÇÃO E REINVENÇÃO

"O conceito de raça foi desinventado no final da 2ª Guerra como reação ao nazismo, ao Holocausto, aos campos de extermínio. O mundo olhou para trás e disse: ‘Essa ideia de que a humanidade está dividida em raças produz sangue em grande escala, não aceitamos mais isso’. A raça então foi desconstruída, combatida nas grandes declarações sobre direitos humanos, algo a ser abolido das sociedades democráticas. Mas 20 ou 30 anos depois ela foi reiventada pelo multiculturalismo e suas políticas descritas como ações afirmativas. Essas políticas voltaram, agora sob a alegação de fazer o bem, às ideias raciais do século 19. No momento em que a genética decifra o DNA e afirma que a raça não existe, que a cor da pele é uma adaptação superficial a diferentes níveis de insolação, e que é controlada por 10 dos 25 mil genes do ser humano, a raça reaparece pelo viés cultural, como algo essencial e imutável de um povo, como gene novamente. A Bolívia, por exemplo, está se reinventando com base num conceito racial, está se tornando um país polarizado entre ameríndios e brancos. No Brasil essa proposta está codificada como Estatuto da Igualdade Racial - uma frase inviável. Raça e igualdade são palavras de universos distintos. Igualdade é democracia. Raça é diferença. Ou existe igualdade ou existe raça. O perigo do multiculturalismo é que ele quer eliminar o mestiço. Os multiculturalistas dizem que ‘esse negócio de igualdade é uma falsificação, pois não existe no mundo real; no mundo verdadeiro as pessoas não são iguais’. Eles querem abolir a igualdade, preferem a diferença. Um pensamento do século 19.

A REVIRAVOLTA OBAMA

"Nos anos 60, o que Martin Luther King fez o tempo todo foi pedir que os Estados Unidos respeitassem o princípio da igualdade previsto na Constituição americana, ou seja, ele pretendia abolir o conceito de raça da política. Barack Obama foi mais longe ao se definir como mestiço. Foi uma afirmação revolucionária, porque a mestiçagem não existe no censo e nas leis americanas. Lá, ou você é branco ou é negro, pois para se fazer leis raciais elimina-se a mestiçagem, definindo claramente a raça de cada um. E a mestiçagem é a indefinição, a não-raça. Então, quando Obama diz que é mestiço, filho de mãe branca e pai negro, ele dá um passo além de Luther King. Não se trata só de eliminar a raça da política, mas também da consciência das pessoas.

O BRASIL SE QUER MESTIÇO

"No Brasil, os racialistas propõem que as estatísticas demográficas tomem pardos e pretos como negros. Eles precisam transformar o quadro intermediário, cheio de tons indefinidos, em algo mais simples, com duas cores, para sustentar o mito da raça. Só que 42% dos brasileiros se dizem pardos, ou seja, não se classificam em raças. Vão dizer que se declarar pardo é uma proteção contra a discriminação racial, que é pior com os negros. Mas comparando os censos de 1940 e 2000 vemos que a proporção de brasileiros que se declaram pretos se reduz e a dos que se declaram brancos também. Dizer que o número de pardos aumenta porque as pessoas querem ‘embranquecer’ para fugir do preconceito é um argumento de quem lê as estatísticas só até a metade. O Brasil caminha para um momento em que 90% da população vai se dizer parda. E esse é o grande problema para lideranças do movimento negro que defendem as leis raciais. Não se faz lei racial num país em que as pessoas não definem sua raça.

NÃO SOMOS RACISTAS

"Há racismo no Brasil. O que não há é um conceito popular de que estamos separados por raças, como nos EUA. Assim, não somos racistas no sentido de a maioria dos brasileiros não interpretar o Brasil pelo prisma da raça; e também no sentido de o Estado brasileiro não ter feito leis raciais ao longo da história. Não somos racistas, embora existam racistas no Brasil. O racismo aparece na operação ilegal de certas instituições, claramente a parte da polícia que ainda prefere parar o jovem negro a parar um jovem branco. Mas o fato é que o racismo no Brasil está sempre ligado à questão socioeconômica. A violência policial baseada no preconceito racial é muito clara nas periferias e favelas. Pessoas que não têm pele branca, mas vivem em bairros de classe média, estão menos sujeitas a uma abordagem racista da polícia. Cada vez que o racismo se manifesta aqui é um escândalo, o que mostra o caráter antirracista da nação. Isso é uma vantagem, mas os defensores de leis raciais acham o contrário. Dizem que é melhor um racismo explícito à la americana do que o racismo envergonhado à la brasileira. O racismo explícito ajuda a definir interesses de raças - necessários aos que se dizem líderes raciais.

A ETERNA QUESTÃO REGIONAL

"No Brasil a desigualdade é essencialmente socioeconômica - e é terrível . Não é racial. A maioria dos pretos e pardos do País está no Norte e no Nordeste, as regiões mais pobres, enquanto a maioria dos que se declaram brancos está no Sul e no Sudeste, as regiões mais ricas. A partir disso algum perturbado poderia sugerir a criação de cotas para nordestinos. Os filhos de Tasso Jereissati, Ciro Gomes e José Sarney adorariam, porque as cotas sempre favorecem a nata do grupo privilegiado por elas. Eu não estou dizendo que não haja maior incidência de pobreza entre pretos e pardos. Há, mas em função do que ocorreu no fim da escravidão - quando os descendentes de escravos, por falta de ensino público abrangente e por falta de reforma agrária, não foram incluídos na sociedade que se modernizava - e não em função do racismo atual.

DISCRIMINAÇÃO REVERSA

"As cotas raciais não são um meio válido para corrigir diferenças socioeconômicas porque nunca reduziram pobreza em lugar nenhum onde foram implantadas. Elas beneficiam a nata do grupo privilegiado. A cota racial para ingresso em universidades públicas não está tirando vaga dos ricos, dos filhos de empresários. Esses, ou fizeram colégios e cursinhos tão bons que conseguirão passar no vestibular mesmo com um número de vagas menor em disputa ou cursarão universidade no exterior. O que a cota faz é instalar uma competição dentro da classe média baixa, uma competição racial dentro de um grupo social que veio do ensino público, entre os filhos de trabalhadores da classe média baixa. São aqueles que terminam o ensino médio. Não sejamos demagogos: vamos tirar os miseráveis dessa história, porque eles não terminarão o ensino médio, eles não serão beneficiados pelas cotas. Então, quem acaba beneficiado é o jovem de classe média baixa da cor ‘certa’ em detrimento do jovem de classe média baixa da cor ‘errada’. É a discriminação reversa.

À CAÇA DE VOTOS E PODER

"Os racialistas dizem estar fazendo justiça social por meio do sistema de cotas. É falso. O que as leis raciais visam é criar zonas de influência política e eleitoral. Isso acontece no Brasil, cada vez mais na Bolívia e em outros lugares onde falar em nome de uma etnia ou raça é desenvolver uma clientela política, é dizer ‘votem em mim porque eu defenderei os interesses desse grupo que eu acabei de definir’. A função é produzir lideranças políticas, carreiras política, poder político. Você não precisa falar para a sociedade como um todo, explicando que vai defender os interesses gerais dos cidadãos e assim competir com um monte de gente que diz a mesma coisa.

FRONTEIRA NO ÔNIBUS

"Ações afirmativas socioeconômicas, como cotas sociais e políticas de melhoria rápida e dramática das escolas públicas nas periferias, ajudariam mais os pobres a ingressar no ensino superior. Fazer isso por meio de ações afirmativas raciais leva o aluno branco a olhar para o lado e pensar: ‘Este é quem não tinha o direito de estar aqui, mas está porque tem a cor que agora virou "certa"; e eu estou separado dele não só pela cor da pele, mas pelas leis deste país, que o colocam num grupo com certos privilégios; ele está aqui porque alguém da minha cor de pele, mas com a mesma renda dele, não está’. Esse é um grande risco: cotas raciais traçam uma fronteira dentro dos ônibus, dentro dos bairros periféricos, no meio do povo, porque vizinhos de bairro e colegas de trabalho com a mesma renda vão se olhar e entender que estão separados pela cor da pele. Isso é instalar no meio do povo o ódio racial."

O racialismo é tão nefasto quanto o racismo! Previna-se!


Todos os meus alunos sabem que não concordo com o Sistema de Cotas Raciais. Sou radical a ponto de sequer admitir as chamadas cotas socias. O mérito é o único critério que deve existir para o ingresso nas faculdades públicas.

Já recomendei em sala o livro NÃO SOMOS RACISTAS, do jornalista Ali Kamel. Um livro simples e de poucas páginas, mas valioso no combate aos argumentos falaciosos dos racialistas.

Sobre o mesmo tema, acaba de ser lançado o livro Uma Gota de Sangue - História do Pensamento Racial (Editora Contexto, 400 págs., R$ 49,90), do sociólogo da USP, Demétrio Magnoli. Na obra, ele analisa a questão do racismo e do racialismo sob o ponto de vista histórico, sociológico e biológico.

Um livro de fôlego e imprescindível para alunos e professores.

Na livraria cultura você pode comprar o livro aqui.

Abaixo, matéria sobre o livro em O Estadão.

Uma gota de discórdia

Crítico do sistema de cotas nas universidades brasileiras esquadrinha a história do racismo

Christian Carvalho Cruz, O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Cinco anos atrás, ao matricular sua filha em um colégio paulistano, o sociólogo e colunista do Estado Demétrio Magnoli se deparou com uma "aberração". Por orientação do Ministério da Educação, o formulário trazia um campo pedindo a raça do aluno. Magnoli tascou um "humana" na ficha e voltou para casa decidido a escrever Uma Gota de Sangue - História do Pensamento Racial (Editora Contexto, 400 págs., R$ 49,90), que chega às livrarias na quarta-feira, 2.

Libelo contra o que o autor chama de mito das raças - a necessidade de diferenciar seres humanos por sua ancestralidade, por uma única gota de sangue -, o livro mergulha fundo nas origens do racismo e seus desdobramentos nos tempos atuais. "Raças não existem. O que existe é o mito da raça, uma invenção recente, nascida há 150 anos junto com a expansão das potências europeias na África e na Ásia e usada para conquistar poder político e econômico", diz Magnoli.

Uma Gota de Sangue mostra como essa invenção teria sido desinventada no pós-guerra e reinventada pelos movimentos multiculturalistas de 30 anos mais tarde, culminando em um tema caro a Magnoli: a crítica ao sistema de cotas raciais adotadas em universidades públicas brasileiras. Para ele, uma política de Estado que "cria uma clientela eleitoral" e "instala o ódio racial no meio da classe média baixa trabalhadora".

O autor sustenta ainda um polêmico paradoxo: o de que os defensores de leis raciais de hoje resgatam o discurso que ontem ajudou a justificar a segregação entre brancos e negros. "Para os multiculturalistas, a igualdade é uma falsificação, pois não existe no mundo real; no mundo verdadeiro as pessoas não são iguais, dizem. Por isso eles querem abolir a igualdade, preferem a diferença. É um pensamento do século 19", afirma. "Mas raça e igualdade são palavras de mundos distintos. Igualdade é democracia. Raça é diferença. Ou existe igualdade, ou existe raça." A seguir, os principais trechos da entrevista de Magnoli ao Aliás.


sexta-feira, 28 de agosto de 2009

II Guerra Mundial - Links

A Segunda Guerra Mundial que a muitos instiga. É bom que seja assim. Conhecer a história desse conflito, entender suas causas e analisar suas consequências ajudará a todos no repúdio aos os crimes contra a humanidade que essa guerra provocou.

Aprofundem o conhecimento de vocês sobre esse tema, clicando aqui. Na página vocês podem navegar livremente, escolhendo com liberdade aquilo que mais lhes interessar. Apenas como sugestão, indico abaixo alguns links.

Acompanhem com atenção as animações que estão aqui.

Sobre o Holocausto não deixe de ver as fotos clicando aqui.

Aliás, sobre a história do Holocausto, leia mais aqui.

Bons estudos.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A doutrina do mal!

O Maligno sempre convence os jovens prometendo um futuro promissor, desde, é claro, que eles, os jovens, obedeçam sem questionar.

Abaixo, assistam a um discurso de Adolf Hitler para a juventude hitlerista. Ouçam com atenção e vacinem-se contra a doutrinação maligna!

É a Treva!

Vejam uma pequena amostra do que recebi por causa do post "Uma pobre vítima do esquerdismo bocó".

Que asneira fascista!

È óbvio que o poder popular instaurado pela revolução proletária na URSS é muito mais democrático. Uma ditadura proletária contra a burguesia. Democracia para todo o povo!

No mínimo você não passa de intelectualóide de porta de livraria que fica arrotando sabedoria sem sequer conhecer a realidade do povo brasileiro que está sendo perseguido nas favelas, criminalizado, jogado às drogas promiscuidades e degenerações. A posição do Israel é muito mais científica que essa verborragia sua. Citações como essa: "Se o capitalismo que você aprendeu a deplorar em sala de aula lhe faz mal, muito bem: há sempre uma solução viável. Que tal uma temporada em Cuba para conhecer in loco as maravilhas desse sistema? Clique aqui e veja como eles estão lá." são completamente descoladas da realidade da luta de classes no mundo e da experiência histórica das regimes socialistas plenos, como os da URSS (até 1953)sob o comando do grande general Stálin, que derrotou o nazismo de Hitler, e da China (até 1976)sob o comando do genial guia dos povos, Mao Tse Tung.

Podemos continuar esse debate!

Debater com você? Eu, um intelectualóide de porta de livraria? Não. Você e a sua ignorância não teriam o que aprender comigo.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Não sejam injustos comigo!

Ter um blog é sempre um risco. Você se expõe de uma forma tão grande que fica sujeito a uma série de mal-entendidos e incompreensões. O risco, porém, aumenta, quando o autor da página não se esconde atrás do politicamente correto ou do bom-mocismo. Tudo piora, se o chamado blogueiro não corresponde à metafísica influente. Aí vocês já viram, né? Sou chamado de arrogante, presunçoso, intolerante, reacionário, esses epítetos carinhosos.

Na minha atividade de blogueiro, isso já tem 3 anos, escrevo muitas vezes de forma dura, ácida e quase sempre irônica; o que, é claro, causa desconforto em muita gente, sobretudo naqueles que acham que a polidez é sempre a melhor alternativa. Confesso que quando escrevo não avalio bem o tom hostil de minhas palavras. Quando termino, é que percebo o quanto fui áspero nos termos e nas comparações.

O post que escrevi em resposta a um comentário anônimo gerou uma série de manifestações que decidi não publicar ou porque eram parvas e poderiam ameaçar a formação intelectual dos alunos que lêem esse blog, ou porque o comentarista pediu para que eu não publicasse. Tenho todas arquivadas, porém.

Entretanto, tenho o dever de me defender de algumas injustiças que sofri nesses comentários. Sem alimentar a ambição,contudo, de convencê-los ou de levá-los para o meu lado. Não pastoreio almas! Quero e desejo que cada um (os alunos em particular), tenha condições de seguir o próprio caminho.

Vamos aos esclarecimentos.

Nunca li 500 livros, como disseram de forma hiperbólica, tentando com isso me colocar num patamar de superioridade diante daqueles que não leram tanto. Para falar a verdade, nunca fiz essa contabilidade. O fato de uma pessoa ter lido 500 livros não torna, obrigatoriamente, o pensamento dessa pessoa melhor do que o de outra sem tantas leituras. Aliás, o filósofo Arthur Schopenhauer recomendaria inclusive, o oposto. Ele diria que quem lê muitos livros pensa pela cabeça dos outros, não por sua própria cabeça. Ensina ainda o filósofo alemão que a pessoa deveria ler menos e pensar mais. Todavia, é inegável que quem tem uma bagagem de leituras maior terá mais condições de discutir um tema do que quem não tem. Se uma pessoa que leu 500 livros não consegue ser mais clara e precisa nos seus argumentos do que uma pessoa que não leu 5, alguma coisa está errada!

Nenhum aluno, nenhum mesmo, poderá se levantar na sala, sob pena de estar sendo injusto, e dizer que o meu jeito contundente de expor algumas idéias impede que ele manifeste na sala ou nesse blog, as suas opiniões, como bem sabe alguns alunos que discordam claramente de mim em alguns momentos.

Aqui no blog, quando um beócio vem comentar com argumentos rasteiros de quem aprendeu história ou economia política num acampamento do MST, chuto mesmo o traseiro. No entanto, com um aluno ou com um amigo, procuro sempre ser gentil, sem deixar de ser claro. Os alunos que me prestigiam nesse espaço merecem o meu respeito não o meu achincalhe. Por uma razão simples: o estudante não tem a obrigação de saber certas coisas. Se ele, porventura, tem uma visão sobre um determinado tema, deficiente, meu papel é apontar as deficiências, jamais ridicularizá-las.

Quando os alunos lêem os meus posts mais duros, estou combatendo idéias, corrigindo equívocos, sempre dizendo onde eles se encontram. É claro que pode haver um ou vários que discordem, mas apresento fatos, dados, provas que se não são suficientes, paciência. O que eu não posso é mentir. Não posso corromper a verdade ou adaptá-la às minhas convicções.

A ilação de que se um aluno quiser dar sua opinião aqui no blog e se essa opinião vier a se contrapor à minha, será tratado com desrespeito e descortesia, é injusta. Procurem nos arquivos uma só vez que um aluno foi destratado aqui nesse blog. Podem procurar e me digam, ok?

Não fico nem um pouco chateado, ao contrário, fico até feliz quando um aluno procura argumentos para se contrapor às minhas convicções. É uma prova de que esse aluno procura, antes de tudo, construir seu próprio caminho, livre de qualquer tipo de dependência intelectual. A pior coisa que pode acontecer para o desenvolvimento intelectual de um estudante é o pensamento único. Nesse aspecto, acho que o meu papel é ser a voz que destoa.

É público e notório que em muitos aspectos sou um professor tido como "do contra”. Não me acabrunho com rótulos. Que bom que os meus alunos podem, nas minhas aulas pelo menos, ter uma visão de mundo diferente. O que me incomoda é a mentira e a deturpação da verdade. Quando as vejo, denuncio com o meu jeito um tanto desajeitado de escrever e de falar.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Mais dois vídeos sobre a Guerra Civil Espanhola




A Guerra Civil Espanhola - Ensaio para a II Guerra!



Acima, um vídeo com imagens da Guerra Civil Espanhola. Abaixo, um pouco sobre a vida da mulher que faz o discurso no vídeo. Dêem uma conferida.

*"A Passionaria — Dolores Ibarruri Gómez — é certamente uma das figuras mais tétricas da história recente.

Durante a feroz perseguição comunista aos católicos ocorrida na Espanha, em
1936, que redundou numa guerra civil, a Passionária conseguiu a proeza nada fácil de destacar-se entre os perseguidores, pelo seu particular ódio à Religião e seus métodos sanguinários contra sacerdotes e fiéis. Além de incendiar igrejas."

*O trecho acima eu retirei de um site católico, que certamente não morre de amores pela líder comunista espanhola. Todavia, as acusações contra ela, estão rigorosamente corretas!

La Pasionaria morre aos 93 anos

Jornal do Brasil: 13 de novembro de 1989



Dolores Ibarruri, La Pasionaria, a lendária líder comunista espanhola, ficou famosa com os seus discursos na Rádio Republicana de Madrid, durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). "É melhor morrer em pé do que viver de joelhos" e " Não passarão!". Tornou-se uma figura emblemática para os soldados e milicianos que defendiam a República, e "No passarán!" passou a ser o lema da resistência da capital espanhola que, atacada logo no início do conflito, resistiu por três anos, até o final da guerra.

Dolores morreu de pneumonia, aos 93 anos, depois de três meses de internação em um hospital de Madri. Austera e com grande talento como oradora, tinha sobrancelhas cerradas, vestia-se de preto e usava brincos de prata. La Pasionaria foi o pseudônimo adotado por Dolores ao escrever seu primeiro artigo para o jornal El Minero Vizcaino, numa Sexta-Feira da Paixão.

Nasceu pobre na região das minas de ferro do País Basco e, como ela mesmo dizia, desafiou o seu destino de costurar, parir e chorar, e entrou para a política. Queria ser professora, mas teve de largar os estudos para trabalhar como costureira. Casou-se com um líder socialista que a introduziu ao Marxismo, e teve seis filhos. Aderiu ao comunismo em 1920 e em 1930 foi eleita membro do Comitê Central do Partido Comunista da Espanha. Foi eleita deputada pela Frente Popular em 1936. Com a vitória de Franco, exilou-se na União Soviética, retornando à Espanha somente em 1977, já no regime democrático, quando foi eleita novamente deputada.

Guerra Civil Espanhola

A Guerra Civil Espanhola teve como causa próxima o conflito entre as forças nacionalistas de direita e o regime republicano eleito, de tendência socialista e anticlerical. A guerra começou com o levante do exército espanhol no Marrocos em julho de 1936, e, apesar dos êxitos inicias, se estendeu por três anos. A Alemanha de Hitler e a Itália de Mussolini apoiaram os direitistas, enquanto a União Soviética apoiou os republicanos. Nas Brigadas Internacionais lutaram voluntários de diversos países, inclusive brasileiros, na defesa da Republica e dos ideais socialistas.

O confronto deixou mais de 500 mil mortos e constituiu um ensaio bélico para a Segunda Guerra Mundial, que viria logo em seguida. Nesta perspectiva se enquadra a destruição de Guernica pela aviação nazista, quando pela primeira vez se efetuou um bombardeio aéreo cerrado contra uma cidade aberta, provocando a morte de 1.600 pessoas, a grande maioria civis.


«Guernica» é um painel pintado por Pablo Picasso em 1937 por ocasião da Exposição Internacional de Paris. Foi exposto no pavilhão da República Espanhola. Medindo 350 por 782 cm, esta tela pintada a óleo representa o bombardeamento pela aviação alemã da cidade espanhola de Guernica, durante a Guerra Civil Espanhola, em 26 de Abril de 1937.

Picasso ajudou o massacre de Guernica a ganhar notoriedade. Não fosse ele, talvez, a cidadela seria apenas mais um ponto indefeso e pacato perdido no norte da Espanha. O pintor, ao conceber aquela que muitos apontam como sua obra-prima, fez da cidade basca um símbolo de covardia e destruição, um manifesto contra a opressão e a guerra.

sábado, 15 de agosto de 2009

José Murilo de Carvalho, uma entrevista.

A entrevista abaixo foi publicada em o Diário do Nordeste, como é possível conferir aqui.

ENTREVISTA -JOSÉ MURILO DE CARVALHO, HISTORIADOR (10/8/2009)

Paradoxos da democracia

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JOSÉ MURILO de Carvalho: "A democracia no Brasil ainda é muito precária" (Foto: Chico Silva)

O historiador José Murilo de Carvalho é um incansável pesquisador sobre a construção da cidadania no Brasil. Nesta entrevista, ele expõe problemas relacionados ao Brasil do oitocentos, os difíceis primeiros anos da República e explica os diversos dilemas da democracia brasileira

A passagem da Monarquia para a República se deu, como sabemos, através de um golpe militar. O jornalista Aristides Lobo, inclusive, cunhou a expressão "bestializados". Ele referia-se ao povo que nada sabia do golpe. O senhor utilizou a expressão de Aristides para o título de um livro sobre o assunto. Quer dizer, o Brasil simplesmente dormiu monarquista e acordou republicano...

Esse é um tema muito complexo. Veja que o Manifesto Republicano é de 1870. Desde então, assistiu-se a uma propaganda aberta a favor da República. Jornais e clubes republicanos, tanto na Corte, quanto em São Paulo e alguns Estados do País - Rio Grande do Sul e Minas Gerais, principalmente - pregavam o fim da Monarquia e o advento do regime republicano. A própria Monarquia, abordei isso no meu livro, estava perdendo rapidamente a legitimidade das camadas letradas do País. Após a Abolição, ela perdeu também a legitimidade entre os proprietários rurais, ex-proprietários de escravos. Além disso, existiram conflitos com a Igreja. Outro problema era relativo à sucessão de Pedro II. As elites intelectuais e econômicas do País não viam com bons olhos um terceiro reinado com a princesa Izabel, uma mulher casada com um francês, o conde D`Eu. Havia um certo caldo de cultura contra o Império. Agora, o que ocorreu em si foi o envolvimento militar. Eles acabaram, por proclamar a República em 15 de novembro de 1889, quando um grupo de militares do Exército brasileiro, liderados pelo marechal Deodoro da Fonseca, deu um golpe de Estado e depôs o D. Pedro II. Muitos republicanos não sabiam do movimento militar. Nem um dos maiores republicanos, Silva Jardim.

Por que D. Pedro II não coibiu o movimento republicano?

Ele deixava correr. Em relação a essas coisas era muito "zen", como diríamos hoje. Para ele, era um movimento de jovens, sem grande importância. Por outro lado, desde 1877 ele se encontrava doente. Realmente, não estava controlando a situação. Até o último momento não acreditou no que estava ocorrendo. Por causa do golpe, Aristides Lobo cunhou a expressão "Bestializados". Realmente, as pessoas não sabiam do que se tratava. Agora, não devemos interpretar isso como se a Proclamação da República fosse algo que não tivesse base, nenhuma raiz. Isso seria exagero.

A problemática está numa pergunta: como foi programado o golpe, já que deixou de fora civis e políticos republicanos?

Na verdade, nunca ocorrera algo parecido na história brasileira. Em conseqüência, os primeiros dez anos de República foram de uma permanente perturbação da ordem. Guerras civis, revolta armada no Rio de Janeiro, revolução federalista no Sul, Canudos, na Bahia. Foram anos de grande inconstância. Talvez porque o processo tenha sido feito de uma maneira um tanto estranha, quer dizer, alheia à própria movimentação dos republicanos civis. Muitos deles só queriam a República após a morte de D. Pedro II. Aí, sim, fariam a transformação do regime monárquico para o republicano de uma maneira pacífica, menos radical. Por isso, tanta polêmica em torno do 15 de novembro. Alguns interpretam o 15 de novembro como algo que tenha caído do céu. É preciso analisar todo o contexto. Tínhamos partidos republicanos já organizados.

Para alguns, o grande paradoxo é que D. Pedro II centralizou muito o poder na Corte...

Eu não diria que ele centralizou o poder. Quando assumiu o poder, o processo de centralização tinha sido realizado pelos grupos da elite política, desde 1837, com o chamado regresso conservador. Pedro II só assume realmente o poder a partir dos anos 50 dos oitocentos. Não que ele desejasse, mas de certo modo foi obrigado. Havia um certo vácuo. Na minha interpretação, conservadores e liberais viviam às turras. Foram muitas revoltas envolvendo os dois partidos. D. Pedro II foi uma espécie de juiz entre essas duas facções. Tinha o Poder Moderador, cujo sentido era muito concreto: permitia que essas duas facções assumissem o poder em turnos e uma não excluísse a outra.

A República herdou muita coisa do Império. O sistema patrimonialista brasileiro, por exemplo...

Vamos por etapas: a abolição da escravidão foi uma revolução social. Com a Proclamação da República, não tivemos revolução nenhuma. Foi apenas uma mudança política. Tirou-se do poder um monarca, hereditário, e se colocou um presidente com período marcado para exercer o poder. Os presidentes ficavam apenas quatro anos no poder. Mesmo assim, muita coisa não mudou. Exceto a distribuição do poder entre os Estados. Quer dizer, a grande transformação foi a implantação do federalismo. Criou-se, a partir de Campos Sales, a famosa aliança política entre os Estados e o que muitos chamam da política café com leite. Os principais Estados, como Minas e São Paulo, comandavam o processo político.

E nos demais Estados?

O Sérgio Buarque de Holanda tem uma frase curiosa: o Império dos senhores de terra no Brasil adquiriu maior poder com o fim do Império. Nesta quadra se formaram as oligarquias regionais. Muitas delas condicionavam o comportamento do presidente da República.

Vivenciamos duas fortes ditaduras - a de Vargas (Estado Novo) e a militar a partir de 64. O Brasil começou a desenvolver um processo democrático nos meados dos anos 80 do século passado...

Democracia é algo que nunca se completa. É um caminho que vamos trilhando com idas e vindas, progressos e retrocessos. Se entendermos democracia como um sistema comandado pela lei, com ampla participação popular, mesmo fora dos períodos eleitorais, liberdade de imprensa, é uma coisa... Se analisarmos a democracia de um ponto de vista mais amplo, é outra. Significa não apenas a participação política das pessoas, mas o que chamaria de cidadania e igualdade civil, passando por uma melhor distribuição de renda e acesso à Justiça. Ora, isso não temos no Brasil. Pessoas com recursos escapam facilmente das malhas da justiça. Assistimos a milhões de escândalos nos últimos anos. Pergunto: quem está na cadeia? Ninguém. A desigualdade econômica é terrível. Temos distâncias quilométricas entre o topo e a base da pirâmide. Então, a democracia no Brasil ainda é algo muito precário. Nossas câmaras legislativas estão envolvidas há muito em um rosário de escândalos. Ainda temos que avançar muito no nosso processo democrático.

Numa análise mais macro tudo indica que esse processo tem raízes no passado.

Fomos submetidos a golpes militares. Depois de 1945, vivenciamos uma expansão democrática. Assistimos ao golpe de 64. Foram 21 anos. Depois, a democracia foi restabelecida. O impeachement de Collor foi absolutamente dentro da lei. Até hoje, felizmente, não passamos por novo golpes.

O senhor escreveu uma biografia sobre Pedro II que, logo, transformou-se num best-seller. Por que os historiadores têm tanto medo das biografias?

A biografia é de modo geral algo que interessa muito às pessoas. Os historiadores brasileiros não se aventuram muito a escrever biografias. Olham de uma maneira meio atravessada. Como se o gênero não estivesse à altura deles. Sempre foram os jornalistas que exploraram o gênero biográfico. E com muito sucesso. As pessoas, afinal, gostam de saber da vida dos outros. A Companhia das Letras me encomendou a biografia sobre D. Pedro II. Fiquei com receio, pois não tinha experiência nesse campo. Agora, os jornalistas escrevem bem, com clareza, elegância, atributos que faltam aos historiadores. Parte dos historiadores são muito rigorosos na pesquisa, mais do que os jornalistas. Principalmente, com relação às fontes. Aliás, muitos deles chegam a interpretar e criticar suas fontes de pesquisa. Não colocamos nada em nossos livros sem uma ampla pesquisa e uma documentação precisa. Quando se trabalha assim, o historiador termina por colocar uma multidão de notas de rodapés na páginas. A leitura é muitas vezes cansativa. Atualmente, existe uma maior preocupação dos historiadores com relação à escrita, ao estilo. Isso é que atrai o leitor. Na França e na Inglaterra muitos escritores escrevem biografias com grande êxito. Conscientemente, faço um esforço nessa direção. Discuto muito esse problema com meus alunos e colegas. A história é algo que afeta todo o mundo. E existe também uma grande demanda pela História. Não só no Brasil, mas em todo o mundo. Quando você escreve para uma revista especializada pode até utilizar uma linguagem mais acadêmica. Mas, no suporte livro, você deve escrever de maneira clara e objetiva. Só assim atingirá o grande público.

sábado, 8 de agosto de 2009

Uma pobre vítima do esquerdismo bocó

Leiam, abaixo, o comentário que recebi no dia 05 de agosto de 2009. Vejam um pobre rapaz vítima do esquerdismo bocó.

Israel Batista: Xandin disse...

Professor, pegando um pouco do comentário do Armondes pode até ser que essas ideologias e atitudes socalistas não sejam nem um pouco democráticas, mas em sua opinião, o sistema capitalista que está instaurado em nossa sociedade nos dias atuais seria democrático???


A tese que Marx chamaria de "Mais-valia" totalmente implantada nas grandes industrias, um totalitarismo ideologico disfarçado de neo-liberalismo e uma sociedade consumista totalmente manipulada ideologicamente pelos meios de comunicação imperialistas???
Isso poderia ser chamado de democracia???

O tema do post que o rapaz comentou é sobre a mentira de que Lênin, lá no fundo, era um democrata. (Leia o post aqui.)

O comentarista acima, a partir de um comentário de um aluno excelente, o Gabriel Armondes, tenta me colocar contra a parede com outros argumentos. Vamos a eles:

Professor, pegando um pouco do comentário do Armondes pode até ser que essas ideologias e atitudes socalistas não sejam nem um pouco democráticas, mas em sua opinião, o sistema capitalista que está instaurado em nossa sociedade nos dias atuais seria democrático???

Pode até ser, meu caro? Qual a sua dúvida quanto ao regime anti-democrático imposto por Lênin em 1917? Esse "pode até ser" revela uma dúvida e uma incerteza que não cabem. Talvez você não goste do fato de que Lênin tenha sido um tirano, mas ele foi. Assim como ele, Stálin, Mao, Fidel, Pol pot, etc. Faça sua lista de homicidas socialistas que produziram montanhas de cadávares em nome da justiça e da igualdade.

O capitalismo, meu jovem, não é um sistema político. Eu sei que seu professor bonzinho, que quer o bem da humanidade, que adora "Che" e Fidel e que certamente admira o coronel Hugo Chávez, ensinou a você que o capitalismo é um sistema político cruel, que provoca miséria, violência e injustiça social. Ele o enganou ou talvez ainda o engane, vá por mim! Cure-se dessa moléstia intelectual e procure ler alguns livros, tá bom? Se quiser eu indico. A verdade, quer você goste ou não, é que o capitalismo só prospera, só gera riqueza e avanço, em ambientes livres e democráticos. O socialismo, por sua vez, NUNCA existiu num ambiente livre e democrático. Se o capitalismo que você aprendeu a deplorar em sala de aula lhe faz mal, muito bem: há sempre uma solução viável. Que tal uma temporada em Cuba para conhecer in loco as maravilhas desse sistema? Clique aqui e veja como eles estão lá.

O trecho, abaixo, de seu comentário me fez sentir pena de você. Estou falando sério. Peço a Deus que você seja jovem, porque do contrário, estará irremediavelmente perdido.

A tese que Marx chamaria de "Mais-valia" totalmente implantada nas grandes industrias, um totalitarismo ideologico disfarçado de neo-liberalismo e uma sociedade consumista totalmente manipulada ideologicamente pelos meios de comunicação imperialistas???
Isso poderia ser chamado de democracia???

Tive um professor na Faculdade de História que brincava, dizendo que a tese de Marx que mais incomodou os burgueses foi justamente a fórmula que ele criou para explicar por que os operários por mais que trabalhassem não enriqueceriam. Essa tese ficou famosa com o nome de mais-valia.

O que Karl Marx se esquivou de explicar era que os investimentos em máquinas, em insumos, os impostos pagos, os riscos de se ter um negócio era todo do capitalista, não do operário. Por que razão o operário deveria ter os mesmos ganhos do capitalista? Você acha injusto? Abra um negócio, invista seu dinheiro e contrate funcionários para ganharem , ou mesmo dividirem junto com você os lucros do seu negócio. Faça isso e fique em paz com a sua consciência.

Olha, meu rapaz. A minha esperança é que você seja bem jovem. Se for, poderá melhorar a redação e os argumentos. Mas aí, antes é mister, livrar-se do esquerdismo que os professores incuntiram em você. Ainda há tempo, acredite!