quinta-feira, 28 de agosto de 2008

As duas fases da II Guerra Mundial

Abaixo, conforme o prometido, estão as duas principais fases da II Guerra Mundial. No site da escola, faça o download de um arquivo em pps onde tem uma animação muito interessante sobre essas duas fases.


1ª fase:
(1939-1942). Caracterizou-se por uma rápida expansão, assinalada por importantes conquistas das forças do Eixo.

Desde o início do conflito, os alemães assombraram o mundo pondo em prática a blitz-krieg (guerra-relâmpago) que consistia numa série de ataques rápidos e simultâneos desfechados por canhões de longo alcance, tanques blindados e pela Força Aérea Alemã.
Por meio da blitzkrieg que a Alemanha abateu a Polônia e, em seguida, anexou a porção ocidental do país. A parte oriental, tal como havia sido combinado, ficou para a União Soviética.

Em 1940, as forças alemãs conquistaram a Dinamarca, a Holanda, a Bélgica, a Noruega e a França.

No início de agosto de 1940, a Força Aérea Alemã passou a bombardear as cidades inglesas, arrasando bairros inteiros e matando milhares de civis.

Mas a Inglaterra não se rendeu. A Força Aérea Inglesa (RAF) reagiu e, fazendo uso de radares, conseguiu vencer inúmeras batalhas aéreas contra o invasor. Diante disso, os alemães viram-se forçados a adiar a invasão do território inglês.

Foi aí que Hitler se voltou para o leste e começou a planejar a conquista da gigantesca União Soviética. Preparava-se para isso quando precisou desciar parte de suas tropas a fim de socorrer Mussolini, que fracassara ao tentar dominar a Grécia.

No decorrer de 1941, dois acontecimentos influenciaram profundamente o curso e o desfecho da guerra: a invasão da União Soviética pela Alemanha, iniciada no mês de junho, e o ataque do Japão à base militar norte-americana de Pearl Hrbour, no Havaí, no mês de dezembro.

2º fase (1942-1945). Caracterizou-se pela contra-ofensiva bem sucedida dos aliados (Estados Unidos, Inglaterra, União Soviética, França e outros aliados).

Interessados pelas riquezas soviéticas, Hitler passou por cimo do trato firmado com Stálin e desfechou uma violenta ofensiva contra a União Soviética.

Surpreendidos, os sovíéticos adotaram a antiga tática "terra arrasada", que consistia em ceder espaço, destruindo antes tudo aquilo que podia ser util ao adversário.

Na cidade de Stalingrado, aconteceu uma das batalhas mais importantes e violentas da Segunda Guerra, a Batalha de Stalingrado. Os soviéticos quebraram o mito da invencibilidade nazista, obrigando os alemães à sua rendição.

Os Estados Unidos, também contribuíram decisivamente na luta contra o Eixo. Além de participarem no conflito desde 1941, os norte-americanos forneceram aos seus aliados enormes quantidades de equipamento bélico, tanques, navios e aviões de boa qualidade.

Os norte-americanos venceram os japoneses nas importantes batalhas navais de Midway e Mar de Coral, conseguindo barrar a ofensiva nipônica no Pacífico.

No final desse mesmo ano, enquanto os ingleses venciam os alemães e italianos, na batalha de El Alamein (Egito), tropas anglo-americanas (tendo a participação do Brasil) desembarcaram no Marrocos e, em pouco tempo, dominara o norte da África.

O Pacto Ribbentrop-Molotov


Em 23 de agosto de 1939, Hitler e Stalin assinaram um pacto de não-agressão. Alemanha e União Soviética se comprometeram a não atacar uma à outra e se manter neutras se uma delas fosse atacada por uma terceira potência.

Stálin é o segundo à direita,


O noticiário nas telas dos cinemas, muito utilizado como meio de propaganda na Alemanha nazista, informava: "As missões militares das potências ocidentais ainda estavam em Moscou quando o ministro de Relações Exteriores do Reich, Von Ribbentrop, chegou à capital soviética. Depois de uma recepção cordial, o ministro foi para a embaixada alemã e apresentou-se mais tarde no Kremlin, onde foram assinados, na presença de Stalin, os pactos de não-agressão e de consultações".

O que foi noticiado como óbvio, em 23 de agosto de 1939, era sensacional não só para a maioria dos alemães, mas também para as potências ocidentais Reino Unido e França. Afinal, a União Soviética vinha sendo, há anos, apontada pela propaganda nazista como inimigo político dos alemães. Como poderia ser diferente de uma hora para outra?

Hitler: renunciamos ao uso da violência

Hitler disse no Parlamento em Berlim: "Os senhores sabem que a Rússia e a Alemanha são governadas por duas doutrinas diferentes. Mas, no momento em que a União Soviética não pensa em exportar a sua doutrina, eu não vejo mais motivo que nos impeça de uma tomada de posição. Por isso decidimos firmar um pacto que exclui o uso de todo tipo de violência entre nós por todo o futuro".

No seu discurso no Reichstag, Hitler não disse uma palavra sobre o que a Alemanha e a União Soviética assinaram de fato em 23 de agosto de 1939. Pois o chamado Pacto Hiltler-Stalin não consistia só na parte oficial em que os dois ditadores se comprometiam em não apoiar os inimigos um do outro, mas também num protocolo adicional secreto. Nesta parte ficou combinada uma divisão da Polônia e da Finlândia, e os Estados bálticos e a Bessarábia foram prometidos à União Soviética.

Oito dias antes do ataque alemão contra a Polônia, o protocolo falava, previamente, de uma "reorganização político-territorial" do Estado polonês e de uma invasão pelas tropas da Wehrmacht, como esclarece o historiador alemão Karl-Dietrich Bracher.

"Já em maio de 1939, Hitler disse a comandantes militares que não poderia mais alcançar novos êxitos sem derramamento de sangue. Quer dizer que estava escolhido o caminho para a guerra. Agora então só se poderia falar sobre quais as possibilidades de marchar para a guerra por um caminho plausível e sem grandes riscos."



Guerra contra o Ocidente

Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista, já profetizava o fim da guerra contra o Leste Europeu em fevereiro de 1940: "Uma guerra em dois fronts – a nossa grande perdição – é coisa do passado. Agora a nação alemã vai se voltar exclusivamente para o Ocidente. É para lá que dirigimos as nossas metas, todas as nossas esperanças e também todos os nossos desejos", disse o ministro da Propaganda numa manifestação gigantesca do Partido Nazista.

Poucos meses depois, as tropas alemãs invadiram a Bélgica, Holanda, Luxemburgo e, finalmente, também a França. Stalin observava tudo passivamente. França e Inglaterra haviam entabulado negociações secretas com a União Soviética, em 1939, mas, ao contrário de Hitler, não se dispuseram a deixar o Leste da Europa sob o domínio de Moscou.

Relações comerciais com a Alemanha também eram de importância decisiva para a União Soviética e Stalin assegurou a importação de máquinas e tecnologia militar, assinando um acordo econômico com os nazistas.

Hitler ataca URSS de surpresa

Hitler, por sua vez, firmou o pacto de não-agressão principalmente com o propósito de ganhar tempo para os seus planos de guerra. No final de 1940, ele deu instruções concretas, sob o código Barba-Roxa, para sua campanha contra a União Soviética. Em 22 de junho de 1941, as tropas nazistas atacaram, de surpresa, a União Soviética.

O pacto Hitler-Stalin – uma aliança entre dois ditadores e dois Estados com regimes completamente opostos –, que deveria possibilitar aos dois parceiros conquistas territoriais e políticas de grandes proporções e, ao mesmo tempo, mudar o equilíbrio político na Europa, foi uma mácula na história.

domingo, 24 de agosto de 2008

O Brasil na II Guerra

Emblema da FEB com a ilustração de uma cobra fumando cachimbo

O Correio Braziliense de hoje traz uma reportagem sobre a participação brasileira na II Guerra Mundial. Apesar de destacar a “bravura” de nossos pracinhas no combate contra as forças alemãs, o cerne da reportagem revela as péssimas condições física, bélica e de preparo militar dos nossos soldados.

Que nossa participação nos combates finais desse conflito foi medíocre, não há dúvida. O velho ufanismo, tão caro ao Exército ou a setores nacionalistas, que destacaram a “bravura” desses soldados, que exaltaram a participação “importante e decisiva” do Brasil na Segunda Guerra, escondia um recrutamento deficiente, soldados com várias doenças venéreas - contraídas ainda no Brasil, - sem instrução – muitos analfabetos – e com um armamento obsoleto. Estas foram as marcas de nossos pracinhas.

Essas deficiências vexatórias provocaram, segundo o general de guerra João Batista Mascarenha de Morais, “amargos dissabores e pesados vexames” quando esse contingente formado por homens desdentados, subnutridos e com péssima formação escolar e militar, apresentou-se para o combate na Itália. Nossa vitória em Monte Castelo, portanto, foi menos por causa da habilidade e coragem de nossos pracinhas do que pela debilidade das forças nazistas que sofriam na Itália e em outras partes da Europa, as duras ofensivas dos aliados, sobretudo das forças anglo-americanas no sul e no oeste e do Exército Vermelho, no leste. Cansados, com o moral abatido, os soldados nazistas sequer conseguiram resistir ao pelotão brasileiro, treinados às pressas, usando armamento americano, e que, diga-se, só tinha a oferecer o destemor. Não era muito, embora, estivesse longe de ser pouco.

Soldados brasileiros após a batalha de Monte Castello, Itália no dia (ou pouco depois de) 22 de Fevereiro de 1945.

Duas perguntas se impõem: Por que, sem condições, o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial? Antes de tudo, é preciso lembrar que o Brasil, durante a Segunda Guerra, vivia sob o regime ditatorial do Estado Novo (1937 – 1945). Ideologicamente, portanto, estava muito mais próximo do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) do que dos aliados (Inglaterra e Estados Unidos, principalmente). Muitos membros da ditadura de Vargas eram simpatizantes do nazismo e do fascismo. Alguns aspectos do Estado Novo, como estatismo, ausência de eleições e censura eram inspirados nesses regimes totalitários. Por muito pouco, o governo getulista não fechou um acordo com os nazistas, como comprova a seguinte mensagem do general Dutra - que sucederia Vargas na presidência - à presidência da república, datada de 20 de novembro de 1940: “Cabe-me, em conclusão, declarar a V Excia que da leitura deste relatório mais revigorada sinto a necessidade de prosseguirmos, com todo o afinco, nas tentativas de receber o material encomendado no Reich e que por este país vem sendo posto à nossa disposição, malgrado as tremendas dificuldades que atravessa,dentro dos prazos e das quantidades estipuladas em contrato.”

Outro exemplo conhecido por muita gente porque tratado em filme de sucesso, foi a decisão política do governo Vargas em entregar a revolucionária comunista Olga Benário aos nazistas depois da malfadada Intentona Comunista de 1935. Retratada no filme como uma heroína que sonhava com um mundo mais justo - e na cabeça dela isso só ocorreria com a implantação do comunismo no Brasil - foi deportada ilegalmente para a Alemanha nazista, grávida de um brasileiro, Luís Carlos Prestes, recém-convertido à ideologia comunista. Vendo o filme, dá até para sentir pena da Olga. A verdade, porém, é bem menos romântica. Olga e Prestes faziam parte de um plano para derrubar o governo Vargas que na época era constitucional e legítimo. Se Vargas usou essa tentativa de Golpe para implantar o Estado Novo é bom lembrar que se a Intentona tivesse vencido, a democracia teria sido varrida de nosso país da mesma maneira, com a diferença, estou seguro, que o número de mortos e de perseguidos seria bem maior, a julgar pelo DNA stalisnista dos revolucionários. Volto ao ponto.

Apesar de todo flerte do governo Vargas com o nazismo, na hora da verdade, o Brasil ficou do lado dos aliados. A razão principal: os Estados Unidos aprovaram, finalmente, o empréstimo para a construção da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), decisiva para os planos de Vargas que tencionava acelerar a industrialização brasileira. Diante do compromisso do governo dos Estados Unidos e do empenho pessoal do presidente Franklin Delano Roosevelt, O Brasil declara apoio aos aliados. A reação do eixo foi imediata: submarinos alemães e italianos afundam navios brasileiros no atlântico e o Brasil, depois de assegurar o dinheiro americano, declara guerra ao Eixo, isso em 1942. Dois anos depois, enviamos nossos pracinhas, amargando dissabores e vexames, ao teatro do conflito.

A segunda pergunta que se impõe é a seguinte: as nossas Forças Armadas, hoje, estão melhores equipadas do que estavam em 1944? A pergunta não é boa. Talvez uma maneira mais adequada de perguntar, fosse: nossos homens e nossas armas, atualmente, equiparam-se em qualidade, preparo e tecnologia às melhores Forças do mundo? É forçoso dizer que não. Se nossos militares, atualmente, estão física e intelectualmente bem superiores aos pracinhas da II Guerra, a falta de investimentos do governo na área militar nos coloca bem atrás mesmo de exércitos medianos. Comparativamente, nosso exército hoje, tem, com certeza, uma distância parecida, em qualidade da tropa e em tecnologia bélica, que tinha na década de 40 do século passado em relação às grandes potências, com um agravante: nem na América do Sul somos os mais fortes. A Venezuela, do bufão Hugo Chávez, do ponto de vista militar, é superior às nossas forças.

Leia a matéria! É curta, mas muito instrutiva. Não a publico aqui porque não assino o Correio e por isso não tenho acesso ao jornal pela internet

sábado, 23 de agosto de 2008

O Golpe do Século



O partido comunista chinês é a mais formidável
máquina de cooptação social já criada: mudou
a China para que tudo continuasse como era


A simetria que satisfaz

Uma cena da abertura da Olimpíada: os chineses alinham-se disciplinados na marcha para a liberdade – de produção e consumo

Jade Palace Hotel. É onde a equipe de VEJA está hospedada em Pequim. No cardápio dos estabelecimentos credenciados pelo comitê olímpico, foi apresentado como um hotel do nível dos melhores ocidentais e bem localizado. É longe de tudo, estamos praticamente isolados em uma franja da cidade. Os funcionários são amadores – todos têm o crachá de "trainee" e trabalham por um prato de macarrão. Ninguém fala inglês, ninguém sabe colocar uma mesa, muitos chegaram do interior na semana passada. Pedir um sanduíche de queijo é um sacrifício. Não sabem o que é sanduíche, não sabem o que é queijo, não sabem o que é um hóspede. Os trainees foram encarregados de vigiar cada movimento nosso. Quando não estamos com o crachá olímpico, exigem que apresentemos o cartão magnético do hotel para nos deixar entrar no elevador. A comida é de campo de reeducação. Os preços são extorsivos: um café custa o equivalente a 14 reais. O único serviço satisfatório é o de tinturaria. Não exige comunicação verbal e a tradição chinesa é boa nessa área do conhecimento humano. O Jade Palace Hotel pertence ao governo – ou seja, ao partido comunista. Não tem sócios capitalistas, locais ou estrangeiros. Desde que soube disso, este repórter resolveu dar ordens como o presidente Hu Jintao. "Não temos banana, senhor." "Então, ligue para o partido e ache uma banana." A banana aparece. "É impossível achar um táxi, senhor." "Então, ligue para o partido, quero um táxi em cinco minutos." O táxi aparece. Dar ordens é a única maneira de fazer funcionar uma parte dos chineses. A constatação empírica foi confirmada por estrangeiros que trabalham em Pequim. Sem dar ordens, concordamos todos, a vida fica impossível.

Mais do que uma má experiência pessoal, o Jade Palace Hotel é uma má experiência política. Estamos diante do comunismo em estado puro, a maior empulhação da história. Vende-se como o paraíso, mas as tintas são infernais. Nesta China capitalista, que abriu uma estrada de dezesseis pistas para o Ocidente, o dado tão curioso quanto inquietante é que o comunismo sobrevive forte em vários aspectos, para além da marca de fantasia do partido. É espantoso que a internet, hoje ao alcance de 250 milhões de chineses, esteja sob controle da censura estatal, mas o que dizer de revistas estrangeiras que chegam às bancas (pouquíssimas) ou aos eventuais assinantes (menos ainda) com páginas coladas? Se o assunto da reportagem for China, os censores grudam o que julgam ser ameaçador ao regime. Da mesma forma que os trainees do Jade Palace Hotel, eles não sabem inglês ou qualquer outra língua estrangeira. Então, eliminam o problema da liberdade de imprensa passando cola em todos os textos aparentemente sensíveis. Basta lerem a palavra China e lá vai cola. Ao leitor, resta o caminho do fogão. Esquenta-se uma panela d’água e, quando o vapor sobe, coloca-se a revista sobre ele, para tentar desgrudar as páginas. Leves princípios de incêndio vêm sendo causados pela censura.

Livros de bons autores à venda: quase não há. De maus autores: situação idêntica. Importação de livros: demorada e com o risco de cola nas páginas. Cinema: minguadas setenta salas para os 17,4 milhões de habitantes de Pequim. A exibição de filmes estrangeiros no país é restrita a vinte títulos novos por ano. Assim como as produções chinesas, eles não podem ter cenas de sexo, mensagens políticas ou questionamentos de ordem moral. É o mundo encantado da Disney comunista. Televisão: apenas forasteiros têm acesso a canais a cabo. Chineses, só se ficarem hospedados num hotel cinco-estrelas. As emissoras abertas, estatais, exibem majoritariamente novelas ambientadas quinhentos anos atrás, protagonizadas por senhores da guerra de barbas e sobrancelhas longas, com os cabelos, também compridos, cortados ao estilo Chitãozinho e Xororó e enfeitados por coques fashion. As novelas seriam suportáveis sob efeito de uísque. Você poderia fingir mais facilmente que assistia a Kill Bill 278, 279, 425... Como no Jade Palace Hotel não há uísque de verdade, o dia começa cedo e acaba tarde na Olimpíada e o honorável estabelecimento só tem CNN e um canal da HBO, o melhor é apagar a TV.

Estrangeiros e chineses mais exigentes (pouquíssimos) perdem um quinhão do seu tempo driblando as proibições. "Se você tiver o software certo, dá para acessar os sites de notícia europeus e americanos", disse a VEJA uma mocinha de Xangai. "É a coisa mais fácil do mundo", confirmou outro jovem de Pequim, mais interessado em pornografia. Comprar filmes piratas na China, a única maneira de assistir

A abertura econômica é uma realização a festejar. Graças a ela, os chineses comuns entrevistados por VEJA podem dizer, sem incorrer na mentira, que vivem melhor do que seus pais e avós. Mas, do ponto de vista político, foi o golpe do século. Deveriam trocar o retrato de Mao Tsé-tung, na Praça da Paz Celestial, pelo de seu artífice, Deng Xiaoping. Abrir a economia permitiu a sobrevivência no poder do Partido Comunista Chinês. No fim da década de 70, sob a égide do reabilitado Deng, submerso à força durante a Revolução Cultural, alguns dirigentes começaram a pregar publicamente uma certa flexibilização do regime, e resoluções nesse sentido foram adotadas. Para que ela fosse adiante, no entanto, era preciso exorcizar a figura do timoneiro sanguinário, morto em 1976, bem como parte de sua herança maldita, sem que o ritual de execração implicasse a autodestruição do PC. Em 1982, as condições internas (comunista adora falar em "condições internas") permitiram que, durante um congresso do partido, Mao sofresse sua crítica definitiva. A Revolução Cultural, que jogara a China na treva absoluta durante os anos 60, foi declarada um desastre, um tumulto interno. Mao perdeu a condição quase divina, mas manteve a classificação de "grande homem".

O processo de abertura, mesmo com o empuxo a favor, só ganharia velocidade e corpo em 1989, depois do massacre de 200 estudantes entre milhares de revoltosos reunidos na Praça da Paz Celestial. Os mártires e mais o milhar de colegas presos queriam um tantinho de oxigênio, nada além disso, mas haviam ido longe demais. A tragédia, que marcou indelevelmente a história chinesa, embora não conste da versão oficial, acendeu o alarme vermelho no partido. Temerosa do mesmo destino dos amigos soviéticos, então próximos do fim, a cúpula deliberou mudar logo e rápido, para que tudo continuasse como era. "Um país, dois sistemas", na brilhante – e marota – definição de Deng. O golpe do século. "Eu estava fora da China quando ocorreu o episódio na Praça da Paz Celestial. Aquilo me transtornou. Saí andando sem destino. Dias mais tarde, recebi uma circular secreta do partido. Nela, os dirigentes reconheciam a demora para abrir a economia. Se houvessem tomado as devidas providências, afirmavam no documento, a revolta e a morte dos estudantes teriam sido evitadas", disse um integrante do PC (vamos chamá-lo de Zhou), enquanto almoçava com a reportagem de VEJA em um restaurante da região de Sanlitu, em Pequim, onde os turistas têm à sua escolha todos os tipos de diversão – e risco – do capitalismo outrora considerado decadente.

Quem olha de fora tende a acreditar que, tal como ao dia se segue a noite, ao desentrave econômico sucederá a liberdade política. Não é bem assim. A primeira verdade em oposição é que, como a China jamais foi pluralista, inexistem anseios democráticos como no Ocidente. Esses são frutos da filosofia iluminista européia e dos ideais da revolução americana, concepções estranhas e alienígenas do ponto de vista chinês. O marxismo, igualmente alienígena, vicejou na China por ter-se casado à perfeição com uma cultura alicerçada sobre o absolutismo. A segunda verdade é que, apesar de todo o controle estatal, os chineses nunca foram tão livres como hoje – e enxergam no partido comunista pós-1989 uma garantia dessa liberdade, em vez de um obstáculo a ela. Liberdade, aqui, não é de palanque, voto ou informação. É de compra, venda e consumo. O golpe do século, lembra-se?

Ao contrário do soviético, que nasceu, cresceu e morreu como um organismo estranho à sociedade, o partido chinês foi-se entranhando na estrutura do país. O mais surpreendente é que a dinâmica se acelerou nos últimos anos. O PC chinês é hoje um clube com 78 milhões de membros – ou 6% da população total. Há quase tantos comunistas de carteirinha na China quanto alemães na Alemanha. A idade média é 35 anos. As células e os comitês, que movimentam o dia-a-dia do partido, somam 3 milhões de militantes. A cada ano, o PC incorpora 1,8 milhão de novatos. O financiamento se dá por meio de contribuições. Os integrantes da área rural, mais pobres, pagam 1 iuane por mês, o equivalente a 23 centavos de real. Os assalariados de menor renda desembolsam 1% do salário mensal; os de maior renda, e também profissionais liberais e empresários, de 4% a 5% do que ganham por mês. Os dados foram fornecidos pelo secretário-geral de comunicação do partido, Lu Jianping, em entrevista a VEJA.

A revista chegou até ele por intermédio de Wang Jianchao, uma simpática e prestativa jornalista da Associação de Jornalistas de Toda-China. O hífen está presente na designação das associações profissionais chinesas. Indica que não há divisões sindicais ou algo do gênero – e que elas não são toleradas. Os jornais e revistas todo-chineses são abundantes. Existem 10 000 publicações periódicas, cuja função é, no máximo, contar uma parte da verdade, jamais a verdade inteira. No hall do prédio da Associação de Jornalistas de Toda-China, duas fotos distraem os visitantes no chá de sofá: a de Mao lendo o Diário do Povo, órgão oficial do PC, e outra de Chou En-Lai, no jardim de sua casa, rodeado de jornalistas ocidentais. Deve datar dos anos 50 e dá vontade de ser um dos seus figurantes. Companheiro de primeira hora de Mao, Chou era de família rica e tinha formação européia. Viveu em Paris, exilado, no início da década de 20. A foto revela aquele permanente estar à vontade dos bem-nascidos. Devia ser um ótimo papo.

Fomos de carro preto, com motorista, ao encontro do secretário-geral. No trajeto, a senhora Wang explicou que o departamento havia mudado de nome recentemente – deixara de ser "de propaganda" para se tornar "de comunicação". "Alguma mudança nas diretivas?" "Não." Às vezes os jornalistas chineses dizem toda a verdade. Lu Jianping não é um Chou En-Lai, mas tem lá sua cota de poder, é simpático e até relaxado para os padrões locais (só contraiu o rosto diante da lente do fotógrafo). Tem 54 anos, não pinta o cabelo e não usa gel, ao contrário da maioria dos dirigentes do partido. Estava sem terno, porque o presidente Hu Jintao, secretário-geral do PC, recomendou que, no verão, o traje formal fosse abolido. Economiza-se no ar-condicionado. Como em toda sala oficial chinesa para recepção de visitantes, a de Lu Jianping tem poltronas arrumadas em simetria, voltadas para um centro vazio: a do anfitrião é separada por uma mesinha da do visitante principal. Em cima do móvel com toalha de renda e vaso de flores, uma garrafa de água e uma chávena de chá para cada um. O número de poltronas depende do tipo de reunião. Quanto maior a quantidade, mais importante é o dignitário. A simetria expressa formalidade – e não deixa de ser intimidatória. Seis poltronas foi lisonjeiro. Quando VEJA o entrevistou, os jornalistas estrangeiros, recém-chegados ao centro de imprensa olímpico, reclamavam que a China não havia cumprido o compromisso de deixar o acesso à internet inteiramente livre. Perguntado a respeito, Lu Jianping respondeu que ocorrera um problema técnico e que o país seguiria à risca o acordo com o Comitê Olímpico Internacional. "Por que os ocidentais acham que controlamos tudo?", completou. "Essa conversa não vai longe", pensou este repórter. Mas foi.

Virar comunista no Brasil é fácil. Basta ter as idéias erradas, preencher uma ficha de filiação, colocar um broche na camiseta e sair por aí falando e fazendo bobagens. Na China, é necessário mais do que idéias erradas (atualmente, são exigíveis até algumas corretas) e você assina a ficha depois de uma seleção rígida. Não é um clube que aceita qualquer um, coloque-se dessa maneira. Lu Jianping animou-se a contar a história do seu ingresso no partido, segundo ele muito ilustrativa. Em 1974, aos 20 anos, estudante universitário, começou a trabalhar na secretaria de educação de Xinjiang, região autônoma no oeste do país, com significativa população de fé islâmica (e palco de atentados perpetrados por separatistas, no início de agosto). Foi nessa ocasião que Lu Jianping se animou a entrar no PC. Para tanto, teve de escrever uma carta em que expunha os motivos da decisão. Carta aprovada em uma reunião da célula correspondente à secretaria, ele passou a ser observado por dois sindicantes que davam expediente na mesma repartição. Verificada sua, digamos, vocação para comunista, foi procurado por dois homens para uma conversa. Nela, fizeram-lhe três perguntas: a) O partido é para servir ao povo. Você quer servir ao povo? b) Você está de acordo com os princípios e o programa do partido? c) Você está disposto a trabalhar dentro de um sistema de democracia centralizada? Sim, sim e sim para as questões, a célula reuniu-se outra vez. Acharam que Lu Jianping levava jeito e ele foi submetido a novas rodadas de conversas. Ouviram as opiniões a seu respeito de pessoas do seu convívio profissional, social e familiar. Como o horizonte se manteve favorável, Lu Jianping viu-se convidado a participar de uma reunião da célula, em que fez uma explanação sobre o seu desejo de filiar-se ao partido. Em seguida, a célula votou. Seu nome foi aprovado da única forma possível: por unanimidade. Enviaram, então, um relatório ao comitê local do partido. Chancelado pela instância superior, declararam-no aspirante e lhe designaram um tutor. Um ano depois, ainda na condição de aspirante, ele fez um juramento de lealdade diante da bandeira do PC. Inúmeras reuniões e votações correram até que, em 1981, finalmente, ele se tornou membro pleno. "Eu me esforcei durante sete anos", disse Lu Jianping, ainda com o orgulho de vestibulando aprovado.

Nem todos os aspirantes demoram tanto tempo. A protelação do ingresso de Lu Jianping pode ser creditada a um período de enormes convulsões – e desconfianças – entre os quadros partidários. Mas o processo de seleção, para 99% das pessoas, é basicamente o mesmo. VEJA entrevistou uma jovem de 26 anos, Lillian Chen, moradora de Pequim. Formada em jornalismo, fluente em inglês, produtora de documentários televisivos – faz trabalhos para a BBC –, ela foi convidada a entrar no PC quando cursava o equivalente ao colegial brasileiro, por causa de suas notas excelentes. Gostou da idéia e cumpriu a trajetória de Lu Jianping, só que apenas em um ano. Quando completou 18, assinou a ficha de filiação. Além de viver em outros tempos, Lillian Chen recebeu um convite e na adolescência. Combinados, os dois fatores aceleram o processo. "Não, ser do partido não me proporciona regalias diretas. Talvez no passado fosse assim", afirmou. "O seu ingresso, então, foi por motivos ideológicos?", perguntou VEJA. Lillian Chen abriu um sorriso: "Não falo sobre política. Aliás, nem em casa. As duas amigas com quem divido apartamento também são do partido, mas nós só conversamos sobre roupas, acessórios que estão na moda, essas coisas". O nosso terceiro comunista, Zhou, enquadra-se no 1% que não enfrenta processo de seleção – pelo menos, não o usual. Abriram-lhe as portas do partido graças aos serviços prestados à China no exterior. Quais serviços foram esses, ele não revela. Só deixou escapar que, no Brasil, se surpreendeu ao encontrar no estado do Acre um sujeito que mantinha na estante os livros de Mao e pregava a revolução armada contra os exploradores capitalistas. "Nem nós acreditávamos mais nesse tipo de coisa", riu-se Zhou. Foi-lhe explicado que a América Latina era "o cemitério de idéias". Ele aprovou a expressão.

O partido comunista chinês é visível e invisível no cotidiano. Você certamente sabe que seu chefe pertence a ele, mas talvez fique surpreso ao ser informado de que seu melhor amigo, sentado ao lado, também é do PC. Integrá-lo pode não lhe dar benefícios diretos, como diz a jovem Lillian Chen, mas pode resultar num bom guanxi – o nome que se dá à teia de relações pessoais e profissionais, sem a qual ninguém toca negócios ou é promovido na China. Por incrível que pareça, não é a única agremiação política do país. Há outras nove, todas aliadas ao PC, logicamente. Existe inclusive uma versão do Kuomintang, o partido nacionalista defenestrado do poder pelos comunistas, em 1949. Chama-se Comitê Revolucionário do Kuomintang. Quando a rebelde Taiwan for anexada, não é impossível que seus atuais líderes passem a integrar essa agremiação fantoche.

Como há otimistas em qualquer situação, há quem entreveja a possibilidade de a China vir a adotar um regime próximo da democracia real. Eles enxergam nas eleições para representantes municipais, que começaram em meados da década de 80, o germe de um sistema de escolha nacional mais abrangente. Embora poucas cidades constem desse espectro, citam, em seu favor, o fato de haver votação popular nas 700 000 aldeias do interior, onde vivem 700 milhões de pessoas. O americano John L. Thornton, professor da Escola de Economia e Administração da Universidade Tsinghua, em Pequim, detecta avanços na mentalidade dos líderes chineses. Na visão de Thornton, se, em 2012, o substituto de Hu Jintao na secretaria-geral do partido for eleito por voto no Comitê Central, e não por aclamação dirigida, isso sinalizará que mudanças positivas poderão ocorrer no regime como um todo. "O partido, internamente, está tentando adaptar-se à nova dinâmica social", corrobora Lu Jianping. Mas ele ressalva: "O sistema chinês não devorará o ocidental, nem o ocidental devorará o chinês".

O fato incontornável e imune a otimismos é que o partido comunista chinês é a mais formidável máquina de cooptação social já criada na história. Concentra, com raras exceções, a elite intelectual, técnica, empresarial e financeira do país. Em uma China interessada em fechar bons negócios, entrar para o PC é o primeiro negócio a ser feito. Garante guanxi para ganhar dinheiro e blindagem judiciária, pois os juízes e promotores são indicados pelo partido. Como na União Soviética da era Leonid Brejnev, se um comunista de carteirinha for pego com a boca na botija, mas seu caso for considerado "delicado", ninguém o condenará. O PC transformou-se numa espécie de centrão, onde sempre cabe mais um. Candidatos de listas independentes a cargos locais invariavelmente se filiam à agremiação depois de eleitos. Por que mudar se está ótimo para todo mundo que conta e o povão jamais viveu tão bem? A coisa só não é boa para os hóspedes do Jade Palace Hotel.

a cenas de sexo, mensagens políticas ou questionamentos de ordem moral, não representa uma dificuldade. Ligações clandestinas de emissoras a cabo já são um clássico. Contrabando de livros do exterior, idem. Não é que o governo não veja. Ele simplesmente fecha os olhos, porque sabe ser peraltice de uma infimíssima minoria. A maioria – com todo o peso que isso significa num país de 1,3 bilhão de habitantes – está ocupada em seguir o modelo do cidadão da Nova China: não reclame, não discuta, confie nos seus líderes, trabalhe duro em prol da nação e você também progredirá materialmente.

(link só para assinantes) daqui a duas semanas, o link estará aberto para todos.



A Nova China e mesmo assim o comunismo é uma desgraça!

Meus amigos, a matéria que está no post acima, mostra a verdadeira face da China. Esse gigante que desde 1949 tornou-se comunista sob a égide do maior assassino em massa que a história conheceu, o timoneiro Mao Tsé Tung. Quando esteve à frente da China, Mao e sua política assassina, mataram cerca de 70 milhões de chineses. Isso mesmo, meus caros, 70 milhões!

A partir de 1982, Deng Xiaoping sepulta a famigerada Revolução Cultural, implantada na China na década de 60, e dá início à abertura econômica do Regime. Reformas tímidas não resolveram a angústia do povo chinês que passava fome e sofria com uma pobreza extrema. Quando, em 1989, eclodiu o famoso protesto da Praça da Paz Celstial onde 200 manifestantes foram mortos pelo governo, o Partido Comunista Chinês decidiu acelerar o processo de abertura econômica, que acabou ficando conhecido como Capitalismo de Estado.

A pujança econômica da China - provocada pela abertura econômica - tirou 400 milhões de chineses da pobreza só nos últimos 15 anos. Essa abertura, contudo, não trouxe liberdade política nem de expressão e muitos chineses ainda vivem em condições de miséria, mas é inegável que hoje eles vivem bem melhor - do ponto de vista das condições materiais - do que viveram seus pais e seus avós. No próximo post, leia, na íntegra, a matéria de Veja.

Assista a um vídeo no youtube que mostra cenas marcantes do protesto de estudantes em 1989 na China.

domingo, 17 de agosto de 2008

Carmina Burana

A roda da deusa Fortuna!

Embora composta em 1937, a cantata Carmina Burana remete-nos pela melodia e pelos arranjos, além, é claro, pelos versos em latim medieval, a um período da história em que o pensamento religioso ditava as regras da sociedade e onde os nobres só desempenhavam uma função: a guerra!

A música que você pode ouvir clicando no play é apenas uma forma de ambientar você à essa época. Escute-a. Vale a pena! Imagine, por exemplo, os cruzados diringindo-se à Terra Santa para combater os muçulmanos, tudo, claro, em nome de Deus!





Abaixo, a letra em latim

O Fortuna
velut luna
statu variabilis,
semper crescis
aut decrescis;
vita detestabilis
nunc obdurat
et tunc curat
ludo mentis aciem,
egestatem,
potestatem
dissolvit ut glaciem.


Sors immanis
et inanis,
rota tu volubilis,
status malus,
vana salus
semper dissolubilis,
obumbrata
et velata
michi quoque niteris;
nunc per ludum
dorsum nudum
fero tui sceleris.


Sors salutis
et virtutis
michi nunc contraria,
est affectus
et defectus
semper in angaria.
Hac in hora
sine mora
corde pulsum tangite;
quod per sortem
sternit fortem,
mecum omnes plangite!

TRADUÇÃO

Oh, fortuna,
Variável
Como a lua,
Sempre cresces
Ou minguas;
Detestável
Ora frustra
Ora satisfaz
Com zombaria os desejos da mente,
À pobreza
E ao poder
Dissolve como se fossem gelo.

Sorte monstruosa
E vã,
Tu, roda a girar,
A aflição
E o vão bem-estar
Sempre se dissolvem
Tenebrosa
E velada
Atacas-me também;
Agora por teu capricho
Costas nuas
Trago sob teu ataque.
Senhora do bem-estar
E da virtude,
Estás agora contra mim;
Nesta hora
Sem demora
Tocai as cordas;
Pois que a sorte
Esmaga o forte
Chorai todos comigo.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

As Cruzadas 2

No post abaixo, há um trecho do discurso que o Papa Urbano II fez na cidade de Clermont, norte da França, convocando os cristãos de toda a Europa a lutarem no oriente contra os muçulmanos e libertar Jerusalém das mãos dos "infiéis". Leia o discurso. Há passagens reveladoras!

Dissemos em sala que entre o final do século XI e o século XIII, houve 8 cruzadas. Neste link, você verá que houve nove, o desencontro é simples de explicar. Logo após à oitava cruzada, houve mais uma expedição liderada pelo príncipe Eduardo da Inglaterra. Todavia, os efeitos dessa expedição foram tão irrisórios que poucos historiadores a consideram como tendo sido mais uma cruzada. Fica, portanto, o número oficial de 8 cruzadas, mais a trágica cruzada popular, liderada por Pedro, o eremita e a controversa "cruzada das crianças". Estas duas últimas não entram na contabilidade da cruzada oficial.

Clicando aqui, você terá acesso a um resumo de cada uma das oito cruzadas, além do legado, isto é, das conseqüências dessas expedições militares para o ocidente.

Dê especial atenção às quatro primeiras cruzadas e ao legado desses movimentos para o mundo ocidental.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

As Cruzadas 1


Discurso de Urbano II no concilio de Clermont de 1095
Segundo Fulquerio de Chartres

“Meus queridos irmãos, ungido pela necessidade, eu, Urbano, com a permissão de Deus o bispo chefe e prelado de todo o mundo, vim até esse lugar na qualidade de
embaixador, trazendo uma mensagem divina a todos os servos de Deus. (...)

Posto que vossos irmãos que vivem no Oriente requerem urgentemente as vossas ajudas, e vós deveis esmerar para prestar-lhes a assistência que a eles vem sendo prometida faz tanto tempo. Aí que, como sabeis todos, os Turcos e os árabes, os tens atacado e estão conquistando vastos territórios da terra de România (Império Bizantino), tanto no oeste como na costa do Mediterrâneo e em Helesponto, que é chamado o braço de São Jorge.
Estão ocupando cada vez mais e mais os territórios cristãos, e já venceram sete batalhas. Estão matando e capturando muitos, e destruindo as igrejas e devastando o império.
Se vós, impuramente, permitires que isso continue acontecendo, os fieis de Deus seguirão sendo atacados, cada vez
com mais dureza. Em vista disso, eu, e não bastante, Deus, os designa como herdeiros de Cristo para anunciar em todas as partes e para convencer as pessoas de todas as gamas, os infantes e cavaleiros, para socorrer prontamente aqueles cristãos e destruir a essa raça vil que ocupa as terras de nossos irmãos. Digo isto para os presentes, mas também se aplica a aqueles ausentes. Mais ainda, Cristo mesmo os ordena.
Todos aqueles que morrerem pelo caminho, seja por mar ou por terra, em batalha contra os pagãos, serão absolvidos de todos seus pecados. Isso lhe é garantido por meio do poder com que Deus me investiu. Oh terrível desgraça se uma raça tão cruel e baixa, que adora demônios, conquistar a um povo que possui a fé de Deus onipotente e tem sido glorificado em nome de Cristo! Com quantas reprovações nos oprimiria o Senhor se não
ajudarmos a aqueles, que como nós, professam a fé de Cristo! Façamos que aqueles que estão promovendo a guerra entre fieis marchem agora a combater contra os infiéis e conclua em vitória uma guerra que deveria ter se iniciado há muito tempo. Que aqueles que por muito tempo tem sido foragidos, que agora sejam cavaleiros. Que aqueles que estão pelejando com seus irmãos e parentes, que agora lutem de maneira apropriada
contra os bárbaros. Que aqueles que estão servindo de mercenários por pequena quantia, ganhem agora a recompensa eterna. Que aqueles que hoje se malograram em corpo tanto como em alma, se dispunham a lutar por uma honra em dobro
. Vejam! Neste lado estarão os que lamentam e os pobres, e neste outro, os ricos; neste lado, os inimigos do Senhor, e em outro, seus amigos. Que aqueles que decidam ir não adiem a viajem
senão que produzam em suas terras e reúnam dinheiro para os gastos; e que, uma vez concluído o inverno e chegada à primavera, se ponham em marcha com Deus como guia.”

À proposta de alistamento, todos gritaram : "Deus vult! Deus vult!" ( Deus quer!)
Os cristãos ficaram convencidos da justiça de sua causa e decidiram pela guerra.
A partida foi então destinada para 15 de agosto de 1096.

Proposta pelo Papa, para se distinguir o exercito, uma cruz vermelha deveria ser costurada a roupa. Diz Urbano II "...a conselho do espírito santo."

Mais informações, aqui.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

domingo, 3 de agosto de 2008

Idade Média em fragmentos 1

A Paisagem

O homem das duas idades feudais, mais do que nós, estava próximo de uma natureza que, por sua vez, era muito menos ordenada e suave. A paisagem rural, onde os matos ocupavam espaços tão importantes, apresentava-se de um modo menos sensível a marca humana. Os animais ferozes, que apenas povoam os nossos contos para as crianças, os ursos, os lobos, especialmente, vagueavam por todos os lugares desertos e por vezes até nos próprios campos cultivados. Além de ser um desporto, a caça era um meio de defesa indispensável e fornecia à alimentação um contributo quase igualmente necessáio. (...) As noites, mal iluminadas, eram mais escuras, o frio, mesmo nas salas dos castelos, mais rigoroso. Numa palavra, havia por detrás de toda a vida social um fundo de primitivismo, de submissão aos elementos indisciplináveis, de contrastes físicos que não podiam ser atenuados.

A morte

A mortalidade infantil, incontestavelmente muito forte na Europa feudal, não deixava de embotar um pouco os sentimentos relativamente a lutos que eram quase normais. Quanto à vida dos adultos, mesmo independentemente dos acidentes de guerra, era em média relativamente curta. (...) a velhice parecia começar muito cedo, desde a idade madura. Aquele mundo que (...) se julgava muito velho, era de fato dirigido por homens jovens.

Entre tantas mortes prematuras, muitas eram devidas às grandes epidemias que freqüentemente se abatiam sobre uma humanidade mal apetrechada para as combater; entre os pobres, além do mais, eram provocadas pela fome. Juntamente com as violências diárias, estas catástrofes davam á existência como que um sabor de precariedade perpétua. (pág 95)

O tempo.


Dispendiosos e pouco cômodos pelo seu tamanho, os relógios de água existiam apenas em pequeno número de exemplares. As ampulhetas perece terem sido pouco usadas correntemente. A imperfeição dos relógios de sol, especialmente sob céu nublado era flagrante(...) Contando geralmente, como na Antiguidade, doze horas de dia e dose horas de noite, fosse qual fosse a estação, as pessoas mais instruídas habituavam-se a ver cada uma dessas frações, consideradas uma por uma, crescer e diminuir constantemente, conforme a revolução anual do sol.

Os números

(...) não era apenas sobre a noção da duração [do tempo), era sobre o domínio do número, no seu todo, que pesavam estas brumas. (...) A época teve, sobretudo a partir do século XI, os seus matemáticos que corajosamente tateavam, na esteira dos Gregos e dos Árabes; os arquitetos e os escultores sabiam praticar uma geometria bastante simples. Mas, entre os cálculos que chegam até nós – e isto até o fim da Idade Média – não há nenhum onde não se encontrem espantosos erros. As incomodidades da numeração romana, engenhosamente corrigidas, aliás, pelo emprego do ábaco, não chegam para explicar estes erros. A verdade é que o gosto da exatidão, com o seu esteio mais firme, o respeito pelo número, permanecia profundamente alheio aos espíritos, mesmo aos dos chefes.

A mentalidade religiosa

Povo de crentes, diz-se facilmente, para caracterizar a atitude religiosa da Europa feudal. Nada será mais justo, se isso significar que toda a concepção do mundo da qual estivesse excluído o sobrenatural era profundamente impenetrável para os espíritos daquele tempo(...) É-nos mesmo permitido dizer que nunca a Fé mereceu tanto esse nome.

PS: Os trechos acima foram retirados do livro A SOCIEDADE FEUDAL, de March Bloch. Você pode encontrar os textos nas páginas 94, 95,96,97 e 104.