quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Holocausto - O Horror! 2












Você que está me ouvindo conhece Maidanek, perto de Lublin, na Polônia, um campo de concentração de Hitler? Não era um campo de concentração, mas um gigantesco estabelecimento de assassinato. Lá existe um grande prédio de pedra com uma chaminé de fábrica, o maior crematório do mundo. Seu pessoal bem que gostaria de tê-lo destruído completamente assim que os russos chegaram, mas em sua maior parte ele está lá, um monumento, o monumento do Terceiro Reich. Mais de meio milhão de europeus, homens, mulheres e crianças foram envenenados com cloro e depois queimados, 1400 por dia. A fábrica da morte funcionava dia e noite; suas chaminés nunca deixavam de soltar fumaça. Já tinham começado a fazer uma ampliação... A instituição suiça de ajuda aos refugiados sabe mais detalhes. Seus delegados viram os campos de Auschwitz e Birkenau. Viram o que nenhum ser humano com sentimentos pode acreditar se não vir com os próprios olhos: ossos humanos, barris de cal, encanamento de gás e crematórios; além disso pilhas de roupas e sapatos tirados das vítimas, muitos sapatos pequenos, sapatos de crianças, se é que vocês, compatriotas alemães, e vocês, mulheres alemães, querem continuar ouvindo. De 15 de abril de 1942 a 15 de abril de 1944, apenas nesses dois estabelecimentos alemães foram mortos 1.715.000 judeus. De onde tiro os números? Pois seus soldados faziam a contabilidade, com aquele senso de ordem alemão! Foram encontrados os registros das mortes; além disso, milhares de passaportes e documentos pessoais de não menos que 22 nacionalidades europeias. Esses monstros também tinham livros com os registros de ossos pulverizados, o adubo produzido nessas fábricas. Poisos restos dos cremados eram moídos e pulverizados, empacotados e enviados à Alemaha para a fertilização do solo alemão - o solo sagrado que o Exército alemão ainda tinha que defender depois, ainda acreditavam poder defender contra a profanação inimiga!

Thomas Mann, Ouvintes Alemães! Discursos contra Hitler. p.191-192.



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A ORDEM!
Em 22 de junho de 1941, Hitler deu início a seu ataque à União Soviética., e seis ou oito semanas depois Eichmann foi chamado ao escritório de Heydrich em Berlim. Em 31 de julho, Heydrich recebeu uma carta do Reichsmarschall Hermann Göring, comandante em chefe da Força Aérea, primeiro-ministro da Prússia, plenipotenciário do Plano Quadrienal, e, por último, mas não menos importante, vice de Hitler na hierarquia do Estado (diferente da hierarquia do Partido). A carta determinava que Heydrich preparasse " a solução geral (Gesamtlösung) da questão judaica dentro da área de influência da Alemanha na Europa" e apresentasse "uma proposta geral [...] para a implementação da deseja solução final [Endlösung] da questão judaica. No momento que Heydrich recebeu essas instruções, conforme iria explicar ao Alto Comando do Exército numa carta de 06 de novembro de 1941, ele já estava "há anos encarregado da tarefa de preparar a solução final para o problema judaico" (Reitlinger) e, desde o começo da guerra com a Rússia, encarregado dos assassinatos em massa dos Einsatzgruppen no Leste.

O HORROR DO EXTERMÍNIO!

Quando Eichmann chegou a Lublin, Globocnik foi muito gentil, e mostrou-lhe as instalações junto com um subordinado. Eles chegaram a uma estrada no meio de uma floresta, à direita da qual havia uma casa comum onde moravam trabalhadores. Um capitão da Polícia da Ordem ( talvez o próprio Kriminalkomissar Christian Wirth, que fora encarregado do lado técnico da execução a gás de  "pessoas incuráveis" na Alemanha, sob os auspícios da Chancelaria do Führer) veio cumprimentá-los, levou-os a uns bangalôs de madeira e começou, "com uma voz muito vulgar, áspera e mal-educada" a dar suas explicações: contou como "havia isolado tudo perfeitamente, porque o motor de um submarino russo vai funcionar aqui e os gases vão entrar neste edifício e os judeus serão envenenados.

Logo depois disso, no outono do mesmo ano, ele recebeu ordens de seu superior direto, Müller, ordens de inspecionar o centro de extermínio das Regiões Ocidentais da Polônia que haviam sido incorporadas ao Reich e se chamavam Warthegau. O campo de matança ficava em Kulm (ou, em polonês, Chelmno), onde foram mortos, em 1944, mais de 300 mil judeus de toda a Europa. (...) Aí as coisas já estavam com força  total, mas o método era diferente; em vez de câmaras de gás, usavam-se caminhões de gás. Isto foi o que Eichmann viu: os judeus estavam numa grande sala; recebiam ordem de despir; então chegava um caminhão, parava bem na entrada da sala, e os judeus nus recebiam ordem de entrar nele. As portas eram fechadas e o caminhão partia. (...) O caminhão estava indo para um buraco aberto, as portas se abriram e os corpos foram jogados para fora, como se ainda estivessem vivos, tão moles estavam os seus membros. Eram jogados no buraco, e ainda consigo enxergar um civil extraindo dentes com um boticão.

Em seguida, ele veria algo mais terrível. Foi quando Müller mandou-o a Minsk, na Rússia Branca: "Em Minsk, estão matando judeus por fuzilamento. Quero que você averigúe como está sendo feito". Então ele foi, e de início parecia que tinha tido sorte, pois ao chegar " a coisa já estava quase acabada", por assim dizer, o que o deixou muito satisfeito. "Só havia alguns atiradores mirando nos crânios de mortos numa longa cova." Mesmo assim, ele viu, " e isso me bastou, uma mulher com os braços esticados para trás, meus joelhos fraquejaram e fiu embora". Na volta, ele teve a ideia de parar em Lwow (...) Mas então, bem ali em Lwow ele cometeu um grande erro. Foi ver um comandante local da SS e lhe disse: "Bem, é horrível o que está sendo feito por aqui; eu disse que os jovens estavam sendo transformados em sádicos. Como podem fazer isso? Simplesmente atirar em mulheres e crianças? Era impossível. Nosso povo tinha enlouquecidoi ou se alienado, nosso próprio povo". O problema é que em Lwow estavam fazendo a mesma coisa que em Minsk, e seu hospedeiro insistiu em mostrar-lhe a cidade, (...), assim ele viu outra "imagem  terrível. Havia uma cova lá, que já estava cheia. E jorrando da terra, uma fonte de sangue. nunca tinha visto uma coisa assim. Foi o fim da minha missão e voltei a Berlim e relatei tudo ao Gruppenfürher Müller"

Mas ainda não era o fim. (...) cerca de nove meses depois, Müller o mandou de volta à região de Lublin, onde o entusiasmadíssimo Globocnik havia terminado os preparativos. Eichmann disse que viu então a coisa mais horrível de toda a sua vida. Ao chegar, ele não reconheceu o lugar, com seus bangalozinhos de madeira. Em lugar disso, guiado pelo mesmo homem da voz vulgar, chegou a uma estação ferroviária com a plava "Treblinka" e que tinha exatamente o mesmo aspecto de qualquer estação comum de qualquer parte da Alemanha - os mesmos edifícios, placas, relógios, instalações, uma imitação perfeita. "Fiquei o mais longe que pude, não cheguei perto para ver tudo aquilo. Mesmo assim, vi uma fila de judeus nus avançando por um longo corredor para serm asfixiados. Ali eles eram mortos, como me disseram, com uma coisa chamada ácido ciânico".

Ele nunca assistiu efetivamente a uma execução em massa por fuzilamento, nunca assistiu ao processo de morte pelo gás, nem à seleçao dos mais aptos para o trabalho - em média, cerca de 25% de cada carregamento - que em Auschwitz precedia a morte. (...) havia dois métodos diferentes de matança, o fuzilamento e a câmara de gás; o fuzilamento era feito pelos Einsatzgruppen e a execeção por gás nos campos, em câmaras ou caminhões; viu também as complexas precauções que se tomavam no campo para enganar as vítimas até o final.

Eichmann em Jerusalém; Hannah Arendt; páginas. 98-102-103-104-105.

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