terça-feira, 23 de outubro de 2012

Morre o mais velho sobrevivente de Auscwitz

Polônia

Morre aos 108 anos o mais velho sobrevivente de Auschwitz

Antoni Dobrowolski foi levado em junho de 1942 ao campo de concentração

Antoni Dobrowolski, mais velho sobrevivente de Auschwitz morto na Polônia, quando tinha 105 anos
Antoni Dobrowolski, mais velho sobrevivente de Auschwitz morto na Polônia, quando tinha 105 anos (Reprodução/YouTube)

O polonês Antoni Dobrowolski, o mais velho sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, morreu aos 108 anos, informou nesta terça-feira a rádio pública da Polônia. Dobrowolski foi levado a Auschwitz em junho de 1942 por dar aulas em uma escola clandestina, já que durante a ocupação nazista na Polônia os colégios para crianças polonesas estavam proibidos além do ensino fundamental.

O próprio Dobrowolski descreveu o campo de concentração como um lugar "pior que o inferno", onde as autoridades nazistas mataram mais de um milhão de pessoas, em sua maioria judeus, mas também rebeldes poloneses, religiosos, homossexuais e ciganos – ao todo, cerca de 5,5 mmilhões de pessoas foram mortas no Holocausto. Dobrowolski será enterrado nesta quarta em sua cidade natal, Debno.

Fonte aqui

O reino de Terror de Hitler era de conhecimento dos alemães.



Os alemães sabiam - e aplaudiam - atrocidades do nazismo
No livro 'Apoiando Hitler', historiador reúne provas do apoio do povo ao regime

Cecília Araújo

                                            Corpos em campo de concentração nazista na Alemanha (Corbis)


Contrariando estudiosos que dizem que as atrocidades do nazismo eram desconhecidas por grande parte da população alemã, a escritora Christa Wolf declarou certa vez que para saber sobre a Gestapo, os campos de concentração e as campanhas de discriminação e perseguição bastava ler os jornais. Para comprovar essa hipótese, o renomado professor de história da Universidade Estadual da Flórida Robert Gellately reúne provas de que a sociedade tinha acesso a essas informações em seu mais novo livro, Apoiando Hitler: Consentimento e coerção na Alemanha nazista, lançado em julho no Brasil (Ed. Record, tradução de Vitor Paolozzi, 518 páginas, 67,90 reais). De acordo com o autor, Hitler não só divulgou abertamente as ações do governo, que assumira em agosto de 1934, como também conquistou amplo apoio popular para colocá-los em prática. "Ele não queria subjugar os alemães, mas conquistá-los. Para isso, polia os ideais germânicos, construía imagens populares positivas na imprensa e manipulava fobias milenares", pontua Gellately.

Frustrados com o experimento democrático da República de Weimar (1918 a 1933) - instaurada na Alemanha logo após a I Guerra Mundial, herdando todo o peso da derrota do país na disputa, resultando em caos econômico, social e político -, os alemães se mostraram orgulhosos ao enxergar Hitler como um líder que conseguiu lhes devolver a sensação de segurança e normalidade, além de combater o desemprego e a inflação. Ao avaliar um vasto material sobre a polícia secreta e os campos de concentração publicados na imprensa naquele período, Gellately comprova que o povo alemão formou a base sólida do regime nazista. As autoridades não só publicavam histórias de "crime e castigo", como elaboravam uma teoria prisional e policial coerente, racional e científica. Explorando os arquivos da Gestapo, Gellately foi além de qualquer outro historiador. "As provas materiais foram destruídas por toda parte, exceto em três cidades - e foi ali que foquei minhas pesquisas", conta o autor, que revela nesta entrevista ao site de VEJA suas descobertas, consideradas pioneiras.



Gellately é professor de história na Universidade Estadual da Flórida

Como o senhor chegou à polêmica conclusão de que grande parte dos alemães tinha uma imagem clara das atrocidades nazistas?  

Entre 1933 e 1939, a maioria dos cidadãos sabia sobre os campos de concentração e a Gestapo (polícia secreta do regime nazista), simplesmente porque se podia ler abertamente sobre o assunto na imprensa. Conhecendo o mito "nós não sabemos de nada", fiquei chocado com a quantidade de material que era publicado na imprensa local, regional e nacional. Muito do que aconteceu estava ali - as pessoas apenas ignoravam por rejeitar a informação. Isso porque o regime nazista não ameaçava todos os alemães, apenas grupos minoritários selecionados, incluindo, claro, os judeus. A grande maioria da sociedade tinha pouco a temer. Já durante a II Guerra, entre 1939 e 1945, as informações eram mais encobertas. Não obstante, um grande número de pessoas estava envolvido diretamente com as ações do governo, e as notícias chegavam a qualquer um que quisesse de fato saber o que acontecia por baixo dos panos. Nesse período, os campos de concentração cresceram, ocupando fábricas distantes dos centros urbanos e também no interior de algumas cidades, tornando-se parte da vida cotidiana das pessoas e, portanto impossível de serem ignorados.

Quanto os alemães de fato sabiam sobre os campos de concentração e a Gestapo? 

Eles sabiam muito. O regime tinha orgulho de sua nova polícia e a celebrava anualmente no "Dia da Polícia Alemã". Um bispo católico chegou a se gabar à congregação sobre como um campo de concentração na região tinha dado à área um novo "sopro de vida". Hitler apostou no apelo popular por meio de um regime baseado no lema "lei e ordem". Não são poucos os que preferem a repressão em nome da lei e da ordem em toda parte do mundo. E nós sabemos que esses recursos podem ser perigosos para pessoas ingênuas e inocentes. Por isso, o terror trouxe muito mais apoio ao nazismo do que tirou. O regime se vangloriava de sua nova abordagem contra criminosos reincidentes, alcoólatras crônicos, criminosos sexuais, desempregados e mendigos. Hitler prometeu "limpar as ruas", e a maioria das pessoas aprovou a medida. Algumas acreditavam de fato no Hitler e no nazismo. Outras queriam proteger seu país e lutar como nacionalistas e patriotas. E provavelmente a maioria lutou para manter distantes os russos e os comunistas, que eram amplamente temidos e odiados no país.

De que forma a experiência de Weimar aumentou o apoio popular a Hitler? 

Weimar produziu impasses políticos e coalizões governamentais - e, depois de 1929, os regimes não se mostraram fortes o suficiente para superar o desemprego. A ditadura de Hitler se livrou dessas lutas entre partidos, das eleições intermináveis e da fraqueza do governo. Inicialmente, o povo queria "dar a Hitler uma chance", como se dizia naquela ocasião. De fato, foi uma tentação votar nele. Somente depois se descobriu que ele tinha em mente ideias muito mais radicais do que qualquer um poderia imaginar. Mas quando se percebeu o que estava por vir, já era tarde.



'Apoiando Hitler: Consentimento e coerção na Alemanha nazista'

Como a imprensa construía histórias consistentes sobre o regime? 

A abordagem nazista para o crime, a raça, a polícia, os campos de concentração não eram apenas casuais, irracionais e esquizofrênicas. O regime, na verdade, apresentou medidas racionais consistentes ao público na imprensa e no cinema. A censura - além de deixar de fora judeus e desligar as vozes comunistas e socialistas - não foi martelada a cada dia. As organizações nazistas, incluindo a SS e a Gestapo, sabiam perfeitamente bem o que queriam dizer, mas Joseph Goebbels e seus parceiros tinham em mente que os cidadãos perceberiam se todos os jornais divulgassem notícias idênticas. Então, era dada aos editores uma ideia geral do que o regime decidia que seria noticiado, e cada veículo seguia aquela ideia a sua maneira. O jornal diário do governo, o Voelkischer Beobachter, era o de maior circulação no país e suas histórias eram frequentemente repetidas por outras publicações. A SS também tinha sua própria publicação, igualmente popular. Para reforçar a boa imagem do sistema, Hitler e Goebbels ainda favoreciam e tratavam com condescendência certos escritores, diretores de cinema e outros artistas. Com isso, os filmes que se destacavam elevavam a raça alemã e promoviam o racismo e outros valores nazistas.

Quais "benefícios" o nazismo deu à Alemanha? 

Até hoje, Hitler é lembrado por ter garantido uma segurança tal que permitia que as mulheres andassem à noite sem medo ou que os cidadãos deixassem suas bicicletas destravadas sem riscos. Todas essas histórias são só parcialmente verdadeiras, mas ajudam a explicar por que as pessoas apoiaram Hitler. Depois de Weimar, os alemães finalmente podiam dar boas vindas a tempos melhores. Hitler lançou mão de programas de ordem pública e investiu no rearmamento do país para a guerra. O que realmente contou para muita gente foi que ele reduziu consideravelmente o desemprego e trouxe de volta ao país seu orgulho - especialmente ao rasgar o odiado Tratado de Versalhes (1919), acordo de paz que representou o fim da I Guerra Mundial e foi considerado uma vergonha nacional, por impor uma série de restrições à Alemanha.

Fonte aqui

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Hiroshima e Nagasaki - O Horror Atômico




Hiroshima e Nagasaki - o Horror Atômico




 




 




Em 17 de julho [de 1945], chegou uma notícia de impacto mundial. À tarde, Stimson foi ter comigo na casa em que eu estava hospedado e pôs à minha frente uma folha de papel com as palavras: “Bebês nascidos satisfatoriamente.” Pelo jeito dele, percebi que algo de extraordinário havia acontecido. “Significa”, disse ele, “que a experiência no deserto mexicano deu certo. A bomba atômica é uma realidade.” (...) Nenhum cientista responsável dispunha-se a prever o que aconteceria quando fosse testada a primeira explosão atômica completa. Seriam essas bombas inúteis, ou teriam um efeito aniquilador? Agora sabíamos. Os “bebês” haviam “nascido satisfatoriamente.” Ninguém ainda era capaz de medir as consequências militares da descoberta, e ninguém até hoje mediu nada mais sobre ela.

Na manhã seguinte, chegou um avião com a descrição completa desse evento aterrador na história humana. (...) A bomba, ou um seu equivalente, fora detonada no alto de uma torre de cem pés de altura. Todos tinham sido retirados num raio de dez milhas, os cientistas e suas equipes abaixados atrás de paredes e abrigos de concreto maciço, mais ou menos a essa distância. A explosão foi aterradora. Uma imensa coluna de chamas e fumaça projetara-se par a fímbria da atmosfera de nossa pobre Terra. Devastação absoluta num raio de uma milha. Ali estava, portanto, um fim veloz para a Segunda Guerra Mundial, e talvez para muitas outras coisas.

O Presidente [Truman] convidou-me a conversar com ele logo em seguida. (...) Até aquele momento [ antes da obtenção da bomba] havíamos organizados nossas ideias em torno de um ataque à nação japonesa por meio de um terrível bombardeio aéreo e da invasão por exércitos imensos. Havíamos considerado a resistência desesperada dos japoneses, lutando até a morte com devoção de samurais, não apenas em batalhas acirradas, mas em cada gruta e abrigo. Eu guardava a lembrança do espetáculo da ilha de Okinawa, onde muitos milhares de japoneses, em vez de se renderem, haviam-se dispostos em fileiras e se destruído com granadas de mão, depois de seus comandantes haverem solenemente praticado o ritual do hara-kiri [suicídio]. Sufocar a resistência japonesa homem a homem e conquistar o país palmo a palmo bem poderia exigir a perda de um milhão de vidas americanas e metade desse número em vidas inglesas. – ou mais, se conseguíssemos levar os homens até lá, pois estávamos decididos a compartilhar dessa agonia. Agora, todo esse quadro de pesadelo havia desaparecido. Em lugar dele estava a visão – realmente clara e luminosa, ao que parecia – do término de toda a guerra em um ou dois impactos violentos. De minha parte, ocorreu-me imediatamente que o povo japonês, cuja coragem eu sempre admirara, poderia encontrar no surgimento dessa arma quase sobrenatural um pretexto que lhe salvasse a honra e o libertasse da obrigação de ser morto até o último combatente.

Além disso, não precisaríamos dos russos. O fim da guerra japonesa já não dependia da entrada profusa de seus exércitos para a matança final e talvez demorada. Não tínhamos necessidade de lhe pedir favores. (...) De repente, parecíamos ter ficado de posse de uma abençoada abreviação da carnificina no Oriente e de uma perspectiva muito melhor na Europa. Não tenho dúvida de que essas ideias estavam na mente dos nossos amigos americanos. Seja como for, nunca se discutiu nem por um momento se a bomba atômica deveria ou não ser usada. Evitar uma vasta e infindável carnificina, levar a guerra a seu fim, trazer a paz para o mundo e cicatrizar as feridas de seus povos torturados, por meio da manifestação de um poder esmagador, ao preço de umas poucas explosões, pareciam, após todos os nossos esforços e perigos, um milagre de libertação.

O consentimento inglês ao uso da arma fora dado, em princípio, em 4 de julho, antes da realização do teste. A decisão final cabia agora sobretudo ao presidente Truman, que possuía a arma; mas nunca duvidei de qual seria ela, nem duvidei, desde então, de que foi acertada. Resta o fato histórico, a ser julgado pela posteridade, de que a decisão de usar ou não a bomba atômica para forçar a rendição do Japão nunca foi objeto de debate. Houve um acordo unânime, automático e incontestável em torno de nossa mesa; e jamais, tampouco, a menor insinuação de que devêssemos ter agido de outra maneira.

Uma questão mais intricada era o que dizer a Stalin. O Presidente e eu já não achávamos precisar de sua ajuda para conquistar o Japão. [Stalin] fora um aliado magnífico na guerra contra Hitler e ambos achamos que devia ser informado do grande Fato Novo que agora dominava a cena, embora não de quaisquer dados específicos. Como lhe darmos a notícia? Conviria fazê-lo por escrito ou verbalmente? (...) “Penso”, disse ele [o presidente Truman], “que é melhor eu apenas lhe dizer, depois de um dos nossos encontros, que temos uma forma inteiramente nova de bomba, uma coisa muito fora do comum, que achamos que terá efeitos decisivos na vontade japonesa de continuar a guerra.” Concordei com essa linha.

Fonte: Memórias da Segunda Guerra Mundial. Winston Churchill; p.1096-1098.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Holocausto - O Horror! 2












Você que está me ouvindo conhece Maidanek, perto de Lublin, na Polônia, um campo de concentração de Hitler? Não era um campo de concentração, mas um gigantesco estabelecimento de assassinato. Lá existe um grande prédio de pedra com uma chaminé de fábrica, o maior crematório do mundo. Seu pessoal bem que gostaria de tê-lo destruído completamente assim que os russos chegaram, mas em sua maior parte ele está lá, um monumento, o monumento do Terceiro Reich. Mais de meio milhão de europeus, homens, mulheres e crianças foram envenenados com cloro e depois queimados, 1400 por dia. A fábrica da morte funcionava dia e noite; suas chaminés nunca deixavam de soltar fumaça. Já tinham começado a fazer uma ampliação... A instituição suiça de ajuda aos refugiados sabe mais detalhes. Seus delegados viram os campos de Auschwitz e Birkenau. Viram o que nenhum ser humano com sentimentos pode acreditar se não vir com os próprios olhos: ossos humanos, barris de cal, encanamento de gás e crematórios; além disso pilhas de roupas e sapatos tirados das vítimas, muitos sapatos pequenos, sapatos de crianças, se é que vocês, compatriotas alemães, e vocês, mulheres alemães, querem continuar ouvindo. De 15 de abril de 1942 a 15 de abril de 1944, apenas nesses dois estabelecimentos alemães foram mortos 1.715.000 judeus. De onde tiro os números? Pois seus soldados faziam a contabilidade, com aquele senso de ordem alemão! Foram encontrados os registros das mortes; além disso, milhares de passaportes e documentos pessoais de não menos que 22 nacionalidades europeias. Esses monstros também tinham livros com os registros de ossos pulverizados, o adubo produzido nessas fábricas. Poisos restos dos cremados eram moídos e pulverizados, empacotados e enviados à Alemaha para a fertilização do solo alemão - o solo sagrado que o Exército alemão ainda tinha que defender depois, ainda acreditavam poder defender contra a profanação inimiga!

Thomas Mann, Ouvintes Alemães! Discursos contra Hitler. p.191-192.



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A ORDEM!
Em 22 de junho de 1941, Hitler deu início a seu ataque à União Soviética., e seis ou oito semanas depois Eichmann foi chamado ao escritório de Heydrich em Berlim. Em 31 de julho, Heydrich recebeu uma carta do Reichsmarschall Hermann Göring, comandante em chefe da Força Aérea, primeiro-ministro da Prússia, plenipotenciário do Plano Quadrienal, e, por último, mas não menos importante, vice de Hitler na hierarquia do Estado (diferente da hierarquia do Partido). A carta determinava que Heydrich preparasse " a solução geral (Gesamtlösung) da questão judaica dentro da área de influência da Alemanha na Europa" e apresentasse "uma proposta geral [...] para a implementação da deseja solução final [Endlösung] da questão judaica. No momento que Heydrich recebeu essas instruções, conforme iria explicar ao Alto Comando do Exército numa carta de 06 de novembro de 1941, ele já estava "há anos encarregado da tarefa de preparar a solução final para o problema judaico" (Reitlinger) e, desde o começo da guerra com a Rússia, encarregado dos assassinatos em massa dos Einsatzgruppen no Leste.

O HORROR DO EXTERMÍNIO!

Quando Eichmann chegou a Lublin, Globocnik foi muito gentil, e mostrou-lhe as instalações junto com um subordinado. Eles chegaram a uma estrada no meio de uma floresta, à direita da qual havia uma casa comum onde moravam trabalhadores. Um capitão da Polícia da Ordem ( talvez o próprio Kriminalkomissar Christian Wirth, que fora encarregado do lado técnico da execução a gás de  "pessoas incuráveis" na Alemanha, sob os auspícios da Chancelaria do Führer) veio cumprimentá-los, levou-os a uns bangalôs de madeira e começou, "com uma voz muito vulgar, áspera e mal-educada" a dar suas explicações: contou como "havia isolado tudo perfeitamente, porque o motor de um submarino russo vai funcionar aqui e os gases vão entrar neste edifício e os judeus serão envenenados.

Logo depois disso, no outono do mesmo ano, ele recebeu ordens de seu superior direto, Müller, ordens de inspecionar o centro de extermínio das Regiões Ocidentais da Polônia que haviam sido incorporadas ao Reich e se chamavam Warthegau. O campo de matança ficava em Kulm (ou, em polonês, Chelmno), onde foram mortos, em 1944, mais de 300 mil judeus de toda a Europa. (...) Aí as coisas já estavam com força  total, mas o método era diferente; em vez de câmaras de gás, usavam-se caminhões de gás. Isto foi o que Eichmann viu: os judeus estavam numa grande sala; recebiam ordem de despir; então chegava um caminhão, parava bem na entrada da sala, e os judeus nus recebiam ordem de entrar nele. As portas eram fechadas e o caminhão partia. (...) O caminhão estava indo para um buraco aberto, as portas se abriram e os corpos foram jogados para fora, como se ainda estivessem vivos, tão moles estavam os seus membros. Eram jogados no buraco, e ainda consigo enxergar um civil extraindo dentes com um boticão.

Em seguida, ele veria algo mais terrível. Foi quando Müller mandou-o a Minsk, na Rússia Branca: "Em Minsk, estão matando judeus por fuzilamento. Quero que você averigúe como está sendo feito". Então ele foi, e de início parecia que tinha tido sorte, pois ao chegar " a coisa já estava quase acabada", por assim dizer, o que o deixou muito satisfeito. "Só havia alguns atiradores mirando nos crânios de mortos numa longa cova." Mesmo assim, ele viu, " e isso me bastou, uma mulher com os braços esticados para trás, meus joelhos fraquejaram e fiu embora". Na volta, ele teve a ideia de parar em Lwow (...) Mas então, bem ali em Lwow ele cometeu um grande erro. Foi ver um comandante local da SS e lhe disse: "Bem, é horrível o que está sendo feito por aqui; eu disse que os jovens estavam sendo transformados em sádicos. Como podem fazer isso? Simplesmente atirar em mulheres e crianças? Era impossível. Nosso povo tinha enlouquecidoi ou se alienado, nosso próprio povo". O problema é que em Lwow estavam fazendo a mesma coisa que em Minsk, e seu hospedeiro insistiu em mostrar-lhe a cidade, (...), assim ele viu outra "imagem  terrível. Havia uma cova lá, que já estava cheia. E jorrando da terra, uma fonte de sangue. nunca tinha visto uma coisa assim. Foi o fim da minha missão e voltei a Berlim e relatei tudo ao Gruppenfürher Müller"

Mas ainda não era o fim. (...) cerca de nove meses depois, Müller o mandou de volta à região de Lublin, onde o entusiasmadíssimo Globocnik havia terminado os preparativos. Eichmann disse que viu então a coisa mais horrível de toda a sua vida. Ao chegar, ele não reconheceu o lugar, com seus bangalozinhos de madeira. Em lugar disso, guiado pelo mesmo homem da voz vulgar, chegou a uma estação ferroviária com a plava "Treblinka" e que tinha exatamente o mesmo aspecto de qualquer estação comum de qualquer parte da Alemanha - os mesmos edifícios, placas, relógios, instalações, uma imitação perfeita. "Fiquei o mais longe que pude, não cheguei perto para ver tudo aquilo. Mesmo assim, vi uma fila de judeus nus avançando por um longo corredor para serm asfixiados. Ali eles eram mortos, como me disseram, com uma coisa chamada ácido ciânico".

Ele nunca assistiu efetivamente a uma execução em massa por fuzilamento, nunca assistiu ao processo de morte pelo gás, nem à seleçao dos mais aptos para o trabalho - em média, cerca de 25% de cada carregamento - que em Auschwitz precedia a morte. (...) havia dois métodos diferentes de matança, o fuzilamento e a câmara de gás; o fuzilamento era feito pelos Einsatzgruppen e a execeção por gás nos campos, em câmaras ou caminhões; viu também as complexas precauções que se tomavam no campo para enganar as vítimas até o final.

Eichmann em Jerusalém; Hannah Arendt; páginas. 98-102-103-104-105.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O Holocausto - o Horror!


VEJA, Fevereiro de 1945
Tropas soviéticas libertam Auschwitz-Birkenau, maior campo de extermínio dos nazistas - Poucas centenas de prisioneiros sobrevivem, mas há sinais de massacre em larga escala - Atrocidades contra judeus abalam mundo

Crueldade impensável: crianças judias em foto achada no arquivo de Auschwitz-Birkenau


as escrituras sagradas da religião judaica, ensina-se que nada vale mais que a vida humana - tanto que, dos 613 mandamentos do judaísmo, 609 podem ser violados quando se trata de evitar um óbito. Ao judeu é não só permitido como também mandatório que os fundamentos de sua crença sejam ignorados se isso for necessário para salvar uma vida. A explicação está no Talmude, que lembra que todas as pessoas descendem de um só indivíduo; portanto, salvar uma vida equivale a redimir um mundo inteiro, e ceifar propositalmente uma vida, em qualquer circunstância e sob qualquer justificativa, é o mesmo que dizimar a humanidade inteira.
...
No curso das últimas semanas, um mundo já atônito pela agonia de cinco anos de guerra ouviu relatos que parecem indicar o desaparecimento da humanidade, pelo menos em sua concepção previamente conhecida. Não se atentou contra a vida de um indivíduo; buscou-se varrer um povo inteiro da face da terra. Os outros povos, entretanto, não impediram a barbárie; alguns, ensandecidos pela brutalidade impiedosa da guerra, até sancionaram a matança. Campanhas de extermínio coletivo não são episódio inédito nas páginas mais escuras do compêndio de crimes da raça humana. Mas como explicar a prática de uma mortandade em escala tão monstruosa, com ódio tão febril e, paradoxalmente, com tamanha frieza? E como sustentar que ainda somos civilizados se, apesar dos desesperados alertas de um povo com 4.000 anos de história, uma corja de assassinos com pouco mais de uma década de poder conseguiu materializar suas ambições mais insanas?

Os indícios se acumulavam sobre as mesas das autoridades ocidentais havia anos. Testemunhos inquietantes das atividades dos nazistas nos países ocupados eram cada vez mais freqüentes. Em 27 de janeiro de 1945, contudo, encontrou-se a prova inconteste em Oswiecim, sombrio vilarejo a cerca de 60 quilômetros de Cracóvia, no sul da Polônia. Por volta do meio-dia, quatro jovens soldados de um batalhão de cavalaria soviético caminharam cautelosamente por uma estrada que conduzia a um complexo de galpões e cabanas. Por meio do arame farpado, avistaram ao longe esqueletos vivos errando lentamente de lado a lado. Ponteando o terreno forrado de neve, viram pilhas indistinguíveis de coloração acinzentada. Quando chegaram mais perto, sufocaram-se de pavor. Estavam às portas de em Auschwitz-Birkenau, o campo da morte, o maior centro de extermínio nazista.

Apenas algumas centenas de prisioneiros ainda habitavam o amplo complexo, já abandonado pelos alemães - quando o ruído da artilharia soviética pareceu próximo demais, os nazistas bateram em retirada. Com difteria, febre escarlate e tifo, os sobreviventes foram largados à morte entre os amontoados de cadáveres putrefatos. Nos dias que precederam a chegada da tropa vermelha, conseguiram resistir de forma inexplicável ao frio e à fome. Alguns tentaram rasgar o arame e colher batatas nas cercanias do campo. Não conseguiram sequer romper os fios. Desorientados e fragilíssimos, os espectrais prisioneiros pareciam perguntar, com seus olhares vazios e distantes: aquele pesadelo impensável havia enfim terminado?

Máquina fria - Como se o chocante encontro com os sobreviventes não fosse o bastante para assombrar os recrutas, a abertura das portas dos galpões que ainda estavam de pé - só seis dos 35 que formavam o complexo - apresentou evidências ainda mais horripilantes das atividades praticadas ali. Um dos pavilhões escondia montanhas de artigos diversos: ternos, vestidos, trajes infantis, sapatos, malas, óculos, dentaduras. As etiquetas das roupas e selos das bagagens indicavam que os proprietários vinham de todas as partes da Europa. Uma rápida estimativa feita com a contagem das escovas de dente estocadas no galpão gelou a espinha dos soviéticos. Eram centenas de milhares de hóspedes. Mas onde estavam todos eles?

Os galpões que ficavam logo adiante abrigavam a indizível resposta. Sempre orgulhosos de suas proezas técnicas e da notável eficiência de seu maquinário, os alemães montaram em Auschwitz-Birkenau uma verdadeira fábrica da morte, em que seres humanos eram abatidos em escala industrial. Ao contrário dos outros massacres cometidos pelos povos bárbaros na História, a matança não ocorria no fervor do campo de batalha, na fúria da conquista de terras inimigas ou sob o fanatismo das investidas religiosas. A fria máquina de extermínio nazista tinha planejamento, organização, precisão e eficácia. Os germânicos arianos, a "raça superior" que salvaria o mundo, eliminavam e incineravam indivíduos indesejados como quem ateia fogo no lixo para se eximir do trabalho de despejá-lo.

De acordo com testemunhos dos prisioneiros resgatados, sobreviver no abatedouro polonês era a possibilidade mais rara entre os diversos destinos de quem chegava ao campo. Logo de cara, uma porção significativa das vítimas trazidas através da ferrovia que corta Auschwitz era condenada à morte de forma sumária. Nesta primeira triagem, separava-se quem era capaz de trabalhar dos que eram frágeis demais para produzir. Para o segundo grupo, era o fim. Tropas nazistas conduziam o contingente - na maioria mulheres, crianças e idosos - para uma ala mais afastada. Os carrascos anunciavam: era hora de tomar banho e se livrar dos piolhos contraídos na viagem nos vagões de carga. Não era. Espremidos em câmaras seladas, sem roupas, no escuro, eram fatalmente sufocados por uma nuvem letal de gás Zyklon B. Em instantes, todos mortos - sem sangue nas mãos, sem esforço braçal, sem chance de erro, como deve ser em toda indústria de qualidade. No passo seguinte, a faxina: gigantescos crematórios vizinhos às câmaras engoliam os cadáveres, cuspindo fumaça negra de forma quase ininterrupta.

Estrela amarela - Quem passava na triagem inicial e seguia na outra fila não sabia ao certo o que produzia aquela nuvem permanente que brotava das chaminés. De qualquer forma, não tinha muito tempo para tentar adivinhar - escravizados, os prisioneiros considerados saudáveis eram colocados em galpões e campos de trabalho para intermináveis turnos de duríssimas tarefas. Sob a ilusão da reconquista da liberdade, cumpriam suas funções e tornavam-se engrenagens da máquina bélica alemã - no portão principal, um letreiro de ferro prometia aos que chegavam: "Só o trabalho liberta". A promessa, é evidente, era mais uma trapaça nazista. Morrer na linha de produção ou na rotina de sadismo dos guardas alemães era, para quase todos, só questão de tempo. Os relatos de presos que escaparam são, por enquanto, extremamente escassos. Sabe-se que, em outubro do ano passado, um grupo de presos tentou promover um levante no campo. Mulheres que trabalhavam numa fábrica de armas próxima conseguiram levar materiais explosivos a Auschwitz. Um crematório foi parcialmente destruído, mas todos os 250 envolvidos na tentativa de resistência foram executados em poucos minutos.

Conforme informações obtidas pelo comando dos Aliados, cerca de 20.000 prisioneiros com maiores chances de sobrevivência para a prática de trabalho forçado foram transportados a outros campos semelhantes quando os soviéticos se aproximaram. Acovardados, os alemães não só fugiram como também tentaram eliminar todos os indícios do massacre, explodindo os crematórios e incendiando os registros que detalhavam a "produtividade" dos fornos. Deixaram para trás, no entanto, documentos e evidências que ajudam a esclarecer o que se passava ali. Já é possível saber, por exemplo, quais grupos "indesejados" eram eliminados: eslavos, ciganos, deficientes físicos e mentais, testemunhas de Jeová, dissidentes políticos, homens homossexuais. Todos eram identificados por triângulos coloridos costurados às roupas. O triângulo rosa identificava um homossexual; o vermelho, um opositor político. O grupo majoritário, porém, não era nenhum desses. Identificado por dois triângulos, compondo uma estrela de Davi de cor amarela, ele foi sem dúvida o alvo prioritário da fúria dos fornos nazistas: os judeus.

Odiada e perseguida de forma implacável por Adolf Hitler desde sua ascensão ao poder, em 1933, a comunidade judaica européia foi aniquilada. Algumas dezenas de milhares ainda conseguiram fugir para a Palestina antes da adoção da "solução final", no fim de 1941. Mas quem caiu nas garras de Hitler dificilmente escapou. Pior: Auschwitz-Birkenau é apenas uma das fábricas da morte. Sabe-se da existência de pelo menos mais dez campos, incluindo os de Sobibór, Treblinka, Ravensbruck, Buchenwald e Dachau - os três últimos, no próprio terriório alemão. Por enquanto é impossível saber quantos judeus ainda vivem no continente, mas algumas autoridades ocidentais estimam que seis entre cada dez judeus tenham sido eliminados. E quem sobrou para contar a história guarda cenas de horror inimaginável na lembrança.

Quando relatam as monstruosidades presenciadas nos campos da morte, os sobreviventes geralmente se recordam primeiro das crianças. Falam dos bebês arremessados vivos nos crematórios; dos moribundos corroídos pelas doenças injetadas pelo médico de Auschwitz, doutor Josef Mengele; dos concursos de arremessos de crianças judias entre os guardas da SS. Também falam das mulheres; as mais jovens, estupradas repetidamente antes de mortas, seus corpos usados como tochas humanas em fogueiras de mortos - a carne delas, constataram os guardas, queima mais rápido. Quando pergunta-se sobre as pilhas de corpos, as testemunhas lembram de ratazanas mordiscando os cadáveres; de prisioneiros ainda vivos lutando para se expelir de uma montanha de mortos; de mulheres grávidas abortando fetos. E do cheiro, dizem todos.
...
Nas escrituras sagradas da religião judaica, ensina-se que, consumada a morte, nada é mais importante do que respeitar o corpo sem vida. O cadáver jamais deve ser deixado sozinho - um shomerim, ou "guardião", permanece ao seu lado. Na preparação para o sepultamento, o corpo é cuidadosamente lavado e envolto num sudário modesto; o féretro jamais fica aberto, para que ninguém presencie a ausência de vida. O luto é profundo e prolongado. Ao judeu, porém, a morte é um processo natural - como a vida, é parte do plano de Deus para cada um. Morto, o judeu inicia uma nova vida, tem um novo mundo à sua frente. E todos os que viveram uma existência digna são recompensados.
Retirado de Veja na História.