sábado, 26 de maio de 2012





A origem da Guerra de Canudos é obscura, e Os sertões bem que se esforça por elucidá-la. Sabe-se que Antônio Conselheiro peregrinou durante trinta anos pelos sertões do Nordeste, cumprindo voto de penitência que consistia em construir ou reconstruir igrejas, cemitérios e açudes, enquanto fazia pregações e proferia sermões (os conselhos). Essa mistura de fé com boas obras provocou alguns conflitos com a polícia e a Igreja, pois Antônio Conselheiro, que era católico e beato mas não tinha sido ordenado sacerdote, obtinha ou não a tolerância dos vigários locais, conforme o caso. Sabe-se também que justamente por não ser padre, ele pregava somente no adro das igrejas e não no altar, e que se abstinha de administrar os sacramentos, como o casamento, o batismo, etc. Peregrinava acompanhado por um séquito, que o acolitava nas obras e nas orações, rezando junto com ele.


Ora, o advento da república acarreta alterações que perturbam o ânimo dos peregrinos. De um lado, são decretados novos impostos, que gravam a população pobre do sertão. De outro, certas medidas laicas, mas afetando princípios religiosos vincadamente tradicionais, são postas em ação. É o caso da separação entre Igreja e Estado, a liberdade de culto e a instituição do casamento civil pela Assembleia Constituinte de 1890. Especialmente esta, que contradizia frontalmente um sacramento católico.

Após algumas escaramuças com as autoridades das vilas e arraiais do interior, os peregrinos passaram a evitar as aglomerações urbanas e a afundar-se cada vez mais no deserto, para votar-se à vida contemplativa. Acabam por arranchar, por volta do ano de 1893, na tapera de uma fazenda abandonada no fundo do sertão da Bahia, longe de tudo. As ruínas eram de uma antiga propriedade fundiárias ora abandonada e que pertencera à Casa da Torre, um vasto domínio de criação de gado estabelecido pelo bandeirante Garcia d'Ávila nos primórdios da colônia. Sobre as ruínas, os peregrinos instalam seu acampamento, edificam pouco a pouco seus barracos de pau-a-pique - futura Tróia de taipa, no oxímoro euclidiano -, reconstroem  a pulso, e pedra por pedra, um antigo templo local e começam a erguer um outro muito maior, defronte àquele. ambos nos largo central do povoado, serão batizados como Igreja Velha e Igreja Nova. Estava isbtalado o arraial de Canudos, nome pelo qual já era conhecida a antiga fazenda.

É da construção da Igreja Nova que decorre um primeiro incidente, a multiplicação deles se avolumando até deflagrar uma verdadeira guerra.

Não há madeira no sertão, cuja cobertura vegetal típica é a caatinga, a qual, como vimos, não passa de um mato ralo, de garranchos, gravetos e cactos. Por isso, o povo de Canudos tinha comprado e pago antecipadamente na cidade de Juazeiro um lote de peças necessárias para as obras da Igreja Nova. Não tendo sido entregue à encomenda, apesar de paga, ameaçaram ir buscá-la pessoalmente.

O que fizeram, organizados numa procissao precedida pela bandeira do divino Espírito Santo, cantando hinos religiosos. Mas as autoridades locais tinham convocado, para recebê-los, tropas estaduais, comandadas pelo tenente Pires Ferreira. Emboscadas estas em Uauá, seguiu-se um combate sangrento, em que os canudenses foram dizimados. Ainda assim, sem saber avaliar a quantidade em números e os recursos de que o adversário dispunha, as tropas baterem em retirada. Esse episódio passou à história como a primeira expedição contra Canudos, ou expedição Pires Ferreira (1896)

Enceta-se então a preparação de uma nova ofensiva, sempre com tropas estaduais baianas, agora mais numerosas e mais bem armadas, bom como sob o comando de uma patente mais alta, o major Febrônio de Brito. Em janeiro de 1897 deslancha o ataque, que resulta igualmente em derrota, nos arredores de Canudos. Essa foi a segunda expedição contra Canudos, ou Expedição Febrônio de Brito.

Fonte:  Introdução ao Brasil, vol 1, org Lourenço Dantas da Silva; Walnice Nogueira Galvão, Os sertões de Euclides da Cunha, p. 161 a 163.

Abaixo, um vídeo que ilustra as informações do texto acima.

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