sexta-feira, 25 de maio de 2012

A Guerra de Canudos, 2



 "A terceira expedição gaha uma patente superior, tendo por comandante um coronel, que coronel: Moreira César tivera sua reputação firmada durante a campanha contra a Revolução Federalista no sul do país, quando se destacara pelo rigor da repressão que exercia, ganhando então o cognome de"Corta-cabeças" ou "Corta-pescoço". O perigo que Canudos veio a representar, após essas duas derrotas, já é agora considerado de alçada nacional e grave demais para ficar sob a responsabilidade de tropas estaduais. Monta-se uma grande ofensiva, com forças federais vindas de todo o país, armamento moderno incluindo canhões, e uma ampla campanha no sentido de alertar a oponião pública. Os ânimos estão exaltados, a demagogia patriótica espicaçada, e começa-se a insinuar que os incidentes do sertão apontam para uma tentativa de restauração monárquica.

Acompanhada pela atenção de todo o país, a terceira expedição se reúne em Salvador e marcha para Canudos. Chega a atacar o arraial, mas após algumas horas, sofrendo pesadas perdas, inclusive a de seu comandante, bate em retirada, debandando, enquanto para facilitar a fuga joga fora armas e munições - que serão coletadas e entesouradas pelos canudenses - e até peças de farda, como dólmans ou botas.

A celeuma provocada por mais essa derrota é incalculável. Manifestações de rua nas duas principais cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo, acabaram se transformando em motins em que o furor da multidão se desencadeou sobre os alvos mais óbvios, ou seja, os poucos jornais monarquistas sobreviventes: quatro foram empastelados e o dono de um deles foi linchado. Todos clamavam pelo aniquilamento dessa ameaça nacional contra a república."

Fonte:  Introdução ao Brasil, vol 1, org Lourenço Dantas da Silva; Walnice Nogueira Galvão, Os sertões de Euclides da Cunha, p. 165-166.

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