sábado, 26 de maio de 2012

A Guerra de Canudos, 3





"A quarta expedição põe-se em marcha em junho de 1897 (com Euclides, nomeado adido do ministro da Guerra, seguindo depois com uma das colunas em agosto) e vai assediar o arraial, o qual é cercado para impedir socorro ou reforços. Mas sobretudo para tolher o abastecimento de água, tão preciosa na caatinga seca e penosamente obtida em cacimbas no leito seco do rio Vaza-Barris.

Entrementes, os canudenses, que antes só dispunham de poucas e arcaicas peças de fogo, daquelas de carregar pela boca - arcabuzes, bacamartes e columbrinas - agora dispõem do mais moderno armamento da época, abandonado pela terceira expedição em debandada.

À medida que o assédio constringe o arraial, do qual alguns setores vão sendo ocupados, a resistência inquebrantável dos canudenses começa a desafiar a compreensão e a constituir-se em enigma. Alguns dias antes do final, parlamenta-se uma rendição, negociada por Antônio Beatinho, membro da Guarda pessoal de Antônio Conselheiro. Para consternação dos atacantes, entregam-se cerca de trezentas mulheres, reduzidas pela fome à condição de esqueletos, acompanhadas pelas crianças e por alguns velhos; e a resistência recrudesce, mais forte agora porque desvencilhada de um peso morto. Finalmente, após um bombardeio intenso de vários dias e da utilização pioneira de uma espécie de napalm primitivo - a gasolina espalhada sobre as casas ainda habitadas é incendiada por bastões de dinamites sobre elas lançado - o arraial se calou, sem se render, a 5 de outubro de 1897. Os últimos resistentes, calcinados numa cova no largo das igrejas, não eram mais que quatro, dois quais dois eram homens, um velho e um menino.

(...) O cadáver de Antônio Conselheiro, que morrera dias antes do final, foi exumado. Sua cabeça cortada e levada para a Faculdade de Medicina da Bahia para ser autopsiada, com a intenção de descobrir-se a origem de seus descaminhos..."

Fonte:  Introdução ao Brasil, vol 1, org Lourenço Dantas da Silva; Walnice Nogueira Galvão, Os sertões de Euclides da Cunha, p. 166-167.

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