Neste post deixo o discurso que fiz inicialmente para a turma 304 e no post acima o discurso que foi lido na solenidade de colação de grau.
Ilustríssimos professores, senhores pais, queridos alunos, boa noite.
Foi com surpresa que recebi a notícia de que tinha sido escolhido como paraninfo da turma 304. Existem duas razões para essa surpresa: uma de ordem geral, e outra de ordem bem particular.
A primeira razão é que não sou exatamente um professor carismático. Não sou nada simpático. Estou quase sempre inclinado a corrigir com severidade aquilo que bem poderia ser corrigido com gentileza. Além disso: a descontração, o jeito performático, o talento de ser engraçado - fatores tão importantes numa sala de aula, e que tanto agradam a maioria dos alunos - não estão entre as minhas características. Ir de encontro aos consensos, ser contundente na exposição das ideias, contrariar as correntes de opinião que predominam tudo isso pode me transformar num professor polêmico, mas dificilmente me transformaria num professor querido.
Mas eu disse que havia um fato de ordem particular na minha surpresa com o gesto generoso da turma 304. Vocês se lembram de uma prova discursiva de história, cuja correção em sala de aula fez despertar ódios secretos e declarados. Lembro bem da maneira como fui contestado, e não seria exagero dizer, fustigado naquele dia, e do quanto foi doído me manter firme, o quanto foi penoso contrariá-los, o quanto foi difícil parecer intransigente... Seria tão mais fácil contemporizar, flexibilizar os meus critérios de correção, agradar à parcela que me fustigava e assim todos ficariam felizes, satisfeitos, e com notas melhores. Mas se eu fizesse isso não estaria sendo um professor, mas um prestidigitador. Naquele momento, tive a real noção do que deve sentir um pai ou uma mãe quando se veem obrigados a contrariar o filho em nome do amor que sentem e do cuidado que devem a ele. A diferença é que é muito mais fácil e até obrigatório para vocês perdoar os pais do que o professor, e naquela ocasião, eu temi que nossa relação se deteriorasse a cada dia... Por isso, recebi com pasmo a notícia de que a turma 304 havia me escolhido como paraninfo.
Olhem bem para cada um dos professores que vocês vêem aqui nessa noite de festa. Tentem lembrar de tantos outros que passaram pela vida de vocês e guardem a certeza que cada um deles traz um orgulho que não tem preço. Acreditem-me! Não existe recompensa maior para quem trabalha no universo da educação do que o sucesso De vocês. Cada um de nós, professores, aqui presentes, e representando todos os professores que vocês um dia já tiveram, nos regozijamos com a vitória de vocês porque sabemos que a realização máxima do nosso trabalho é e sempre será as realizações e as conquistas que vocês devem buscar incansavelmente.
Quando se tem a idade de vocês, é normal esquecer ou negligenciar aqueles que são, e que nunca deixarão de ser os maiores responsáveis por tudo em nossa vida. Nunca se esqueçam que não há dissabor, contratempo, mágoa, ressentimento capaz de manchar o amor, o carinho, a alegria, a satisfação que hoje vocês estão proporcionando aos pais de vocês. É também por isso que a alegria deles certamente é maior que a de vocês.
Beijem seu pai e a sua mãe, e lhes digam: “ muito obrigado por tudo que vocês fizeram por mim”
Boa noite!
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