sexta-feira, 3 de abril de 2009

Morre Márcio Moreira Alves!

Aos 72 anos de idade, morreu hoje, no Rio, o jornalista e ex-deputado Márcio Moreira Alves. Em setembro de 1968, depois da invasão da PM ao campus da Unb, o então deputado pelo MDB proferiu um discurso duro contra o governo militar. Num momento político tenso e radicalizado por passeatas, protestos de estudantes e ações terroristas de grupos de esquerda, o discurso do deputado do MDB acabou fortalecendo a linha dura das Forças Armadas que vinha há tempos pressionando o presidente Costa e Silva para endurecer o regime. Conseguiu. A história em detalhes, pode ser conhecida clicando aqui.

Diante da crise política entre o executivo e o legislativo, por causa do discurso e, principalmente, depois da Câmara ter se recusado a conceder a licença para o governo processar o deputado, foi feita uma reunião com os altos ministros do governo Costa e Silva onde ficou acertada a criação do famigerado ato institucional n° 5 (AI5), endurecendo o regime.

Clicando aqui você pode ouvir na íntegra, o áudio dessa reunião.

Abaixo, o discurso de Márcio Moreira Alves, no dia 5 de setembro de 1968.


Reprodução
Aos 72 anos, Márcio Moreira Alves morreu no Rio de Janeiro após sofrer um AVC
Aos 72 anos, Márcio Moreira Alves morreu no Rio de Janeiro após sofrer um AVC

"Senhor presidente, senhores deputados,

Todos reconhecem ou dizem reconhecer que a maioria das forças armadas não compactua com a cúpula militarista que perpetra violências e mantém este país sob regime de opressão. Creio ter chegado, após os acontecimentos de Brasília, o grande momento da união pela democracia. Este é também o momento do boicote. As mães brasileiras já se manifestaram. Todas as classes sociais clamam por este repúdio à polícia. No entanto, isto não basta.

É preciso que se estabeleça, sobretudo por parte das mulheres, como já começou a se estabelecer nesta Casa, por parte das mulheres parlamentares da Arena, o boicote ao militarismo. Vem aí o 7 de setembro.

As cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem junto com os algozes dos estudantes. Seria necessário que cada pai, cada mãe, se compenetrasse de que a presença dos seus filhos nesse desfile é o auxílio aos carrascos que os espancam e os metralham nas ruas. Portanto, que cada um boicote esse desfile.

Esse boicote pode passar também, sempre falando de mulheres, às moças. Aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais. Seria preciso fazer hoje, no Brasil, que as mulheres de 1968 repetissem as paulistas da Guerra dos Emboabas e recusassem a entrada à porta de sua casa àqueles que vilipendiam-nas.

Recusassem aceitar aqueles que silenciam e, portanto, se acumpliciam. Discordar em silêncio pouco adianta. Necessário se torna agir contra os que abusam das forças armadas, falando e agindo em seu nome. Creia-me senhor presidente, que é possível resolver esta farsa, esta democratura, este falso impedimento pelo boicote. Enquanto não se pronunciarem os silenciosos, todo e qualquer contato entre os civis e militares deve cessar, porque só assim conseguiremos fazer com que este país volte à democracia.

Só assim conseguiremos fazer com que os silenciosos que não compactuam com os desmandos de seus chefes, sigam o magnífico exemplo dos 14 oficiais de Crateús que tiveram a coragem e a hombridade de, publicamente, se manifestarem contra um ato ilegal e arbitrário dos seus superiores."


2 comentários:

Teia de Textos disse...

Você sempre concorda com Reinaldo Azevedo? É apenas uma curiosidade.

Zé Costa disse...

Sempre não. Já discordei. E quando aconteceu, vi que eu estava errado. HEHEHEHEHE