segunda-feira, 30 de março de 2009

Zé Paulo, recomenda.

Como falei em sala, recomendo com enstusiasmo a leitura do livro Neoliberal, não. Liberal, do jornalista econômico Carlos Alberto Sardenberg.

Sobre o livro recomendo a leitura destes links:

resenha em Veja.

Post em o Typhis Pernambucano.

Até mais!

domingo, 22 de março de 2009

Cotas corrigem ou aumentam as injustiças?

Quem assistiu e participo do debate logo após a exibição do filme, A outra História Americana, pôde acompanhar a minha opinião sobre o sistema de cotas. Tema delicado e polêmico, suscita defesas apaixonadas e não permite que se fique em cima do muro.

Todos sabem minha opinião a respeito, mas mesmo assim, recomendo a leitura desse post (clique aqui) onde vocês podem ter mais subsídios para reforçar ou não suas opiniões sobre o tema.

Já escrevi, nos dois anos e meio do blog Thyphis Pernambucano, uma série de posts sobre as cotas raciais. Depois posso (re)publicar alguns.

Um abraço.

quarta-feira, 18 de março de 2009

A Grande Depressão

Semana que passou conversamos sobre a Crise de 29, suas causas e efeitos. Na próxima quarta, dia 25 de março, haverá um aulão, onde outras disciplinas virão enriquecer o nosso conhecimento sobre o assunto.

Deixei na mecanografia da escola, uma matéria (capa) de Veja desta semana que considero relevante para um melhor aproveitamento do aulão. Não deixem de ler a matéria, reitero.

Clicando aqui você tem acesso a uma outra reportagem de Veja, desta feita de setembro do ano passado, que porcura explicar as causas da crise financeira atual e demonstrar a falácia de que a crise atual prenuncia o fim do capitalismo, ou melhor: do neoliberalismo, termo genérico e amorfo que soa para muita gente como um palavrão ou uma praga. Aqui, você entenderá que os paralelos quem vêm sendo feitos entre esta crise e à de 29 são um tanto exagerados. Leia!

Abaixo, um trecho do livro A Era dos Extremos, do historiador Eric Hobsbawm. O trecho destacado está nas páginas 90 e 91 do livro. Segundo esse historiador, a Crise de 29 teve um impacto decisivo na história do século XX. Como? Leia e descubra você mesmo.

"Suponhamos que a Primeira Guerra Mundial tivesse sido apenas uma perturbação temporária, apesar de catastrófica, numa economia e civilização fora isso estáveis. A economia teria então voltado a alguma coisa parecida ao normal após afastar os detritos da guerra e daí seguido em frente. (...) Como teria sido o mundo entreguerras nessas circunstâncias? Não sabemos, e não há sentido em especular sobre o que não aconteceu, e quase certamente não poderia ter acontecido. Mas a pergunta não é inútil, porque nos ajuda a captar o profundo efeito na história do século XX do colapso econômico entre as guerras.



Sem ele, com certeza não teria havido Hitler. Quase certamente não teria havido Roosevelt. É muito improvável que o sistema soviético tivesse sido encarado como um sério rival econômico e uma alternativa possível ao capitalismo mundial. As conseqüências da crise econômica no mundo não europeu ou não ocidental (...) foram patentemente impressionantes. Em suma, o mundo da segunda metade do século XX é incompreensível se não entendermos o impacto do colapso econômico."


A Era do Extremos, Eric Hobsbawm, pág. 90 e 91.


domingo, 15 de março de 2009

Esclarecendo...

Recebi, ontem, de uma mesma pessoa, duas perguntas sobre o conteúdo da Revolução Russa. A primeira dizia respeito a Kerenski, líder do Governo Provisório, se ele era ou não menchevique. A segunda, sobre a partir de quando Lênin adotou a NEP. Vamos aos esclarecimentos.

O Governo Provisório foi exercido pelo príncipe Lvov e pelo líder socialista-revolucionário (SR) Alexander Kerenski. Ele não era um menchevique, portanto. O líder dos mencheviques era Martov.

Não esqueça que a Revolução de Fevereiro que derrubou o czarismo, implantando o Governo Provisório, tinha um caráter democrático-liberal.

A NEP foi criada em 1921, após os russos vermelhos terem derrotado os russos brancos na Guerra Civil. Durante o conflito, Lênin adotou o comunismo de guerra que levou à fome milhares de russos. Foi justamente a adoção da NEP que ajudou na superação da fome no país e também na tímida, mas decisiva recuperação econômica da União Soviética.

A pessoa que me escreveu solicitando esses esclarecimentos também opinou sobre o nosso livro de história e fez outras considerações sobre minhas aulas. Ela pediu que não publicasse o comentário, por isso não revelo seu nome nem publico o que ela escreveu. Mas, caso ela autorize...

Nas minhas aulas procuro me esforçar ao máximo para levar a vocês não um ponto de vista ou minha visão pessoal sobre um conteúdo - embora não me esquive de fazê-lo, quando provocado, sempre lembrando, porém, de que se trata de uma opinião e que não precisa ser seguida.

No entanto, há certos dados que não se trata de uma questão de ponto de vista. Lênin, Trotsky e Stálin, jamais foram democratas. Dizer o contrário não é ter outro ponto de vista. É mentir. Suas ideias de igualdade passavam pela eliminação dos adversários. Isso é ser democrático? O consenso posível era o deles. Divergências? Ideias contrárias? Nem pensar!

Não tenho problema de ser rotulado como um professor de direita. Mas a minha direita é a do Churchill, do Roosevelt, não é a do Pinochet, do Hitler, do Mussolini e de outros que eu espero estejam queimando no inferno. Mas e a esquerda dos outros? De quem é? Desafio uma pessoa que se orgulha em ser considerada de esquerda que tenha coragem de criticar Fidel Castro, o maior assassino por 100 mil habitantes, da história. Isso não é um ponto de vista, mas a verdade dos fatos.

Fico muito feliz em saber que minhas aulas estão ajudando a enriquecer o debate e a formação de vocês, meus caros. Só por isso, já tá valendo! Insisto: não exijo, nem exigirei de vocês atestado ideológico. Mas combato com destemor os dados errados, as distorções e as deturpações que um discurso engajado oferece.


segunda-feira, 2 de março de 2009

Lênin, um democrata?



O livro Nova História Crítica, de Mário Schmidt, da editora Nova Fronteira, em seu volume único para o Ensino Médio, como todo livro, tem qualidades e defeitos. A principal qualidade é a maneira próxima e muitas vezes informal que o autor conversa com o “leitor-aluno”, procurando, sempre, fazer analogias que procuram facilitar a compreensão do estudante. Muitas vezes, reconheço, essas analogias pecam pela pobreza; mas de qualquer forma é um recurso eficiente para explicar conceitos quase sempre complexos.


Os principais defeitos do livro são seu antiamericanismo bocó, sua visão romântica do socialismo e, claro, a forma deplorável como ele se refere ao sistema capitalista e aos burgueses. Tudo isso faz o autor esquecer a objetividade e a responsabilidade no ensino da história.


Em conteúdos em que a ideologia turva o entendimento, como é o caso da Revolução Russa, o autor faz uma verdadeira ginástica intelectual para defender o socialismo, a ponto de considerar Lênin um democrata frustrado pelas contingências da vida. Sem poder defender Stálin, o autor exalta a figura do chefe dos bolcheviques durante a Revolução de Outubro, reforçando a tese furada de que o socialismo imaginado por Lênin e, em certa medida, também por Trotsky, fora completamente desvirtuado por Stálin, transformando-se numa ditadura infame e assassina. O objetivo dessa tese é clara: mostrar que o socialismo teorizado por Karl Marx e imaginado por Vladmir Lênin, ainda não aconteceu.


Antes de mostrar os equívocos dessa tese, vou reproduzir trechos do livro de Schmidt que a meu ver contradizem sua afirmação de que o líder dos bolcheviques era, na essência, um democrata, e que pelas circunstâncias tornou-se um totalitário.


“ [Lênin] não hesitou em calar a boca de todos aqueles que punham em dúvida os caminhos tomados. Os outros partidos políticos foram proibidos de funcionar. A imprensa ficou controlada pelos bolcheviques. Uma rebelião de marinheiros, influenciada pelos anarquistas, na base de Kronstadt, foi esmagada com energia.” (página 511)


Digam-me aí se essas medidas tomadas por Lênin após a Guerra Civil podem qualificá-lo como um democrata?

Mário Schmidt sugere que as medidas de Lênin se inserem num contexto único de perigo revolucionário. Em outras palavras: as prisões, os banimentos, os assassinatos, a repressão e as medidas antidemocráticas foram necessárias para “salvar a revolução”. Em 1793, os jacobinos – pelo menos esse é o raciocínio de Eric Hobsbawn - adotaram a Política do Terror com o argumento de que a Pátria estava em perigo, justificando as medidas de exceção que levaram à guilhotina 35 mil franceses.


O trecho abaixo seria cômico, se não fosse trágico.


“O dirigente bolchevique [Lênin] estava muito preocupado com o futuro da democracia na URSS. Dizia que o socialismo só poderia triunfar se fosse democrático. Tinha medo da vaidade de Trotski e da brutalidade de Stálin. Propunha dissolver a autoridade pessoal do partido em favor da autoridade coletiva.” (página 511)


Na mesma página, o autor do livro menciona que no testamento político de Lênin, o então líder máximo da União Soviética gostaria que seu sucessor fosse Trotsky. Ao que parece, entre a vaidade de Trotsky e a brutalidade de Stálin, Lênin temia mais a brutalidade.


Não existe nenhum livro escrito por Lênin em que ele defenda a democracia. Desafio alguém a mostrar. Assim como, não há nenhum livro em que Trotsky tenha, mesmo que de longe, defendido a democracia. Em verdade, num livro famoso, Moral e Revolução, o adversário de Stálin condena veementemente valores liberais e democráticos, qualificando-os de burgueses e inadequados para a moral bolchevique. Por tudo isso, soa-me estranho a afirmação de que Lênin esteve preocupado com a democracia na Rússia e que por isso pensava em propor o fim da “autoridade pessoal do partido em favor da autoridade coletiva”, seja lá o que isso signifique.


De concreto, o que se tem é que nos países onde o socialismo triunfou a democracia nunca passou pela cabeça dos dirigentes comunistas. Se é verdade que teóricos como Rosa de Luxemburgo criticavam os rumos da Revolução de 1917 na Rússia, sobretudo porque calcada na falta de liberdade, não é menos verdade de que em nenhum regime político socialista, a democracia, mesmo capenga, existiu.


Lênin pensava em acabar com a autoridade pessoal do partido, mas deixou um testamento transferindo essa autoridade para Trotsky? Não é estranho?


Na luta entre Trotsky e Stálin pelo controle do país, venceu aquele que dominava a máquina do partido e perdeu aquele que era tido pelos companheiros de revolução como um intelectual arrogante e presunçoso. A disputa entre os dois não foi por causa do futuro da revolução. Foi pelo poder.


Lênin pensava em acabar com a autoridade pessoal do Partido, mas no X Congresso do Partido, em março de 1921, acabou aprovando a resolução que discliplinava os críticos. Admtia a divergência durante os debates, mas depois da aprovação da proposta, exigia dos derrotados a obediência cega! Quem insistisse na dissidência seria "expulso" do partido. Claro que o termo "expulsão" aqui significa prisão, condenação a trabalhos forçados e fuzilamentos.


Lênin pensava em acabar com a autoridade do partido, mas no mesmo congresso aprovou a criação do Politburo, órgão formado por ele e mais 4 membros, depois ampliado para 7 e 9 membros e que na prática centralizava todas as decisões políticas do país comunista. Se com essas medidas Lênin imaginava acabar com a autoridade pessoal do partido, assusta-me imaginar se ele quisesse o contrário.


Lênin nunca foi um democrata. Nem quando enchia a cara com vodca russa. Leitor atento de Karl Marx, jamais poderia coadunar com os valores liberais em política. O socialismo seja do ponto de vista econômico, seja do político, não combina com democracia. A história o comprova.


Numa obra recente e obrigatória, A Guerra particular de Lênin, a historiadora britânica, Lesley Chamberlain, revela quão pouco democrático Lênin agiu durante e depois da Guerra Civil. De prisões, passando por confiscos e deportações, até chegar a fuzilamentos sumários de milhares de padres ortodoxos, ou mesmo dissidentes que até há pouco haviam sido companheiros na Revolução. Lênin tinha a mesma sede de sangue que o vaidoso Trotsky e o brutal Stálin. As vítimas dele, em sua esmagadora maioria, tinham cometido um único crime: ousaram discordar do líder e da maneira como a revolução estava sendo conduzida.


Leiam com atenção este trecho do livro de Lesley Chamberlain:


“Quando os bolcheviques tomaram o poder, ele ficou furioso[refere-se aqui a Kizevetter, intelectual idealista russo]atacando ‘todo esse fanatismo selvagem e destrutivo lançado sobre Moscou e a Rússia por um punhado de cidadãos russos que se entregaram a atos de inédita maldade contra seu próprio povo e tentam garantir o poder em suas próprias mãos a qualquer preço, violando, com ilimitada desfaçatez, os mesmos princípios de liberdade e irmandade que eles defendem de forma blasfema’”(página 42)


Mais adiante a historiadora continua:


“Praticamente todos os homens na futura relação de Lênin de jornalistas políticos, economistas, críticos literários, filósofos e editores devia sua vaga nos navios à sua participação na campanha antibolchevique pelos jornais. Se alguém escrevesse defendendo o outro lado, provavelmente seria deportado.”

(página 43)


O livro está repleto de exemplos de como o projeto bolchevique imaginado e implantado por Lênin no início da Revolução de Outubro e, sobretudo, durante a Guerra Civil nunca fora democrático. O socialismo, em todos os lugares onde foi implantado, mal grado a vontade de muita gente ingênua, jamais produziu riqueza e igualdade e ainda por cima solapou os valores democráticos, extinguindo as liberdades individuais, alicerces fundamentais de uma sociedade livre.


É falaciosa, portanto, a idéia de que se Lênin não tivesse morrido em 1924, ou mesmo Trotsky tivesse derrotado Stálin, o regime socialista na União Soviética teria tido outro rumo. O que se vê nas obras de Lênin e de Trotsky ou nas suas ações políticas, leva-nos a uma conclusão óbvia: leninismo, trotskismo ou stalinismo, não importa: todos desprezavam a democracia, as liberdades e a vida humana. Eram, desde as origens, doutrinas assassinas e liberticidas!