domingo, 22 de junho de 2008

Mein Kampf ou Não se deve temer livros!


O post abaixo, trata de uma polêmica que tem dividido acadêmicos e autoridades alemãs. O livro Mein Kampf, escrito por Adolf Hitler quando estava numa prisão entre 1923 e 1924, no qual expõe suas idéias racistas, anti-semitas e expansionistas, idéias postas em prática, quando, em 1933, Hitler se transforma em Führer, deve ou não ter sua publicação liberada.

Como professor de história – e aqui não é uma posição corporativista – acredito que a publicação do livro com observações críticas, defendida por historiadores alemães, ajudará a todos a ter uma idéia não só da mente perturbada de Hitler, como do Zeitgeist da época. Não vejo, portanto, razão para não liberar a publicação.

Os temores de que essa publicação possa ressuscitar as idéias totalitárias e reforçar o apelo e as ações de grupos neonazistas, embora plausíveis, não me parecem suficientemente fortes a ponto de se proibir a liberação da publicação. Como afirma a matéria da Folha, qualquer um que queira pode ter acesso ao livro na Internet. Sebos e antiquários podem ter o livro e vendê-lo, tudo isso sem uma análise crítica, o que faz, para pior, toda a diferença. Além do mais, seguindo os passos do sociólogo inglês, Michael Mann, não há, no mundo de hoje, seja pela nova realidade econômica, seja pelo estágio das sociedades, mas principalmente, pelo conhecimento que se tem dos crimes cometidos pelos regimes fascistas – e também comunistas! – qualquer chance desses regimes voltarem a seduzir as massas e a elite. Nos dias atuais, adverte o sociólogo, governos retrógrados podem adotar algumas medidas que se aproximam desses regimes, mas nada além disso. Considero pouco provável que a publicação de Mein Kampf incentive grupos políticos relevantes ou não, a defender o totalitarismo.

Sei que alguns poderiam contra-argumenta, dizendo: "em 1919 quando o partido nazi foi fundado, os nazistas eram irrelevantes politicamente". Concordo. Mas a explicação para a ascensão dessa ideologia do mal contou com eventos que dificilmente se repetiriam hoje, ou não na mesma magnitude. Deixem eu citar dois: A Grande Depressão provocada pela Crise de 29 e o crescimento eleitoral dos comunistas acabaram dando às idéias totalitárias uma força maior e um apelo eleitoral muito grande, sobretudo na classe média e na burguesia industrial, que temiam uma revolução comunista e sofriam com a recessão econômica; voltando-se, assim, para o partido Nazista que prometia tirar a Alemanha do atoleiro econômico e combater sem trégua os comunistas. Volto a insistir que não vejo, no mundo de hoje, a mesma conjuntura que ajudou na ascensão desses regimes. Não é à toa que Michael Mann conclua ser o fascismo, hoje, apenas uma ideologia que virou insulto.

Termino com as palavras do escritor alemão, e também judeu, Rafael Seligmann que defende a liberação do livro. Ele diz: "Nossa democracia é forte suficiente para não ter uma recaída. Liberar "Mein Kampf" é um sinal de maturidade política."

5 comentários:

deboraHLee disse...

Olha, Zé.

Normalmente, sou contra qualquer tipo de censura, mas, neste caso, acho que o livro deveria ser queimado para todo o sempre. Hitler foi um dos piores monstros que por aqui já estiveram. Não vejo porque tenhamos que estudar a mente perturbada dele, nem vejo por que divulgar suas idéias alucinadas - em todo Estado democrático, existem Leis que protegem a convivência entre as diferenças. E, em todos eles, quero crer, a apologia ao crime e ao racismo é veementemente condenada. E o nazismo nada mais é que isso. Além do mais, sinceramente, não gostaria de ver gente enriquecendo com a venda aberta deste livro.

Por mim, é não.

Abraços,
d.

Zé Costa disse...

Como professor de história, entendo que o conhecimento do passado, ainda que esse passado seja lastimável, não pode ser obstaculizado.

Ganhar dinheiro em cima desse livro, é mesmo inominável, mas não podemos, é o que penso, cobrir com um véu esse conhecimento por causa disso.

deboraHLee disse...

Olha, Zé.

Também acho que não devemos nunca esquecer o que houve. Mas falo de fatos históricos. Acho, sim, que temos de bater sempre na mesma tecla sobre não só este, como todos os genocídios (espero, um dia, que se fale com tanto vigor quanto também sobre o que aconteceu com os armênios, sobre o que se passou no Camboja, sobre o que ainda acontece com os curdos, sobre Ruanda...).

Dados históricos, sim.
Mas pensamentos tortos do maior louco de toda espécie, sinceramnete, sou contra. Por mim, o livro dele poderia ser queimado para todo o sempre, sem deixar vestígio algum.


beijo,
d.

Ananda ~ disse...

olha,não o conheço,mas minha professora de história falou sobre esse livro em sala de aula,e disse que ela teve a oportunidade de passar uma semana com esse tal livro e disse que é muito bom.ela tem um amigo que possui este livro,mas ele tem muito medo que recolham (segundo ela o governo recolhe esses livros)e eu não sou adulta,tenho apenas 12 anos,mas me interesso muito por livros de todo o tipo.Na minha opinião,este livro deveria ser vendido,mas não normalmente como qualquer outro.poucas edições e por pouco tempo,mas também não acho certo queimar todos e tirá-lo do mundo,todos tem duvidas sobre hittler e acho que muitas poderiam ser tiradas neste livro.

Thiago disse...

Não tenho minha opinião formada sobre o assunto, mas n vejo a possibilidade real desse livro gerar um regime totalitario ou qualquer coisa do genero pelo mesmo motivo do Zé Paulo, mas é um forte argumendo da deborah: "Não vejo porque tenhamos que estudar a mente pertubada", psicólogos fazem isso, e quem sabe o que se pode aprender estudando isso, não é?
Fico curioso. Logico q tudo vai depender dos olhos q você tem do livro, do escritor e etc...
Toda leitura deve passar, como o proprio Zá Paulo diz, por uma reflexão, outros livros poderiam servir de motivo para "ressuscitar as idéias totalitárias".