"Viu a República com maus olhos e pregou,
coerente, a rebeldia contra as novas leis. Assumiu desde 1893 uma feição
combatente inteiramente nova.
Originou-a fato de pouca monta.
Decretada a autonomia dos municípios, as Câmaras
das localidades do interior da Bahia tinham afixado nas tábuas tradicionais,
que substituem a imprensa, editais para a cobrança de impostos etc.
Ao surgir esta novidade Antônio Conselheiro estava
em Bom Conselho. Irritou-o a imposição; e planeou revide imediato. Reuniu o
povo num dia de feira e, entre gritos sediciosos e estrepitar de foguetes,
mandou queimar as tábuas numa fogueira, no largo. Levantou a voz sobre o
"auto-de-fé", que a fraqueza das autoridades não impedira, e pregou
abertamente a insurreição contra as leis.
Avaliou, depois, a gravidade do atentado.
Deixou a vila, tomando pela estrada de Monte Santo,
para o norte.
O acontecimento repercutira na capital, de onde
partiu numerosa força de polícia para prender o rebelde e dissolver os grupos
turbulentos. Estes naquela época não excediam a duzentos homens. A tropa
alcançou-os em Maceté, lugar desabrigado e estéril entre Tucano e Cumbe, nas
cercanias das serras do Ovo. As trinta praças, bem armadas, atacaram
impetuosamente a turba de penitentes depauperados, certas de os destroçarem à
primeira descarga. Deram, porém, de frente, com os jagunços destemerosos. Foram
inteiramente desbaratadas, precipitando-se na fuga, de que fora o primeiro a
dar o exemplo o próprio comandante.
Esta batalha minúscula teria, infelizmente, mais
tarde muitas cópias ampliadas."
Trecho de Os Sertões, de Euclides da Cunha.
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