A QUESTÃO DE SUEZ.
A construção do canal de Suez, na segunda metade do século XIX (1859 -1869), foi uma das grandes realizações de engenharia da época. O canal, construído por uma empresa francesa, tinha como objetivo encurtar as viagens entre o oriente e a Europa, permitindo que as embarcações entrassem pelo mar Vermelho e através do canal passassem para o mar Mediterrâneo; evitando, assim, o longo trajeto que se fazia anteriormente, isto é, atravessando o oceando índico em direção ao atlântico, pelo sul da África, até chegar a Europa.
Houve, desde o princípio, um acordo de que não deveria existir restrição a embarcações de quaisquer países que desejassem passar pelo canal. Contudo, o aumento das tensões diplomáticas entre as potências europeias no final do séculoXIX e início do século XX, obrigou que as potências assinassem compromissos claros para garantir a livre circulação das embarcações. Durante a I Guerra, a Inglaterra que passara a controlar o canal, fechou-o para as nações inimigas.
Desde a inauguração do canal, em 17 de novembro de 1869, o mesmo era controlado pela França e pelo Egito. Contudo, em 1875, o governo inglês comprou do país africano a participação acionária, passando a dividir com a França a administração do canal de Suez. Tal situação gerou uma série de desentendimentos entre as duas potências que só foram solucionados em 1904, quando foi assinado um acordo entre os dois países. Em troca do apoio inglês na conquista do Marrocos, a França abandonaria o Egito, deixando o canal para os ingleses.¹
QUESTÃO MARROQUINA²
Em 1911, a Alemanha partiu para a ofensiva, colocando fim aos anos de hesitação e discrição política. O envio do navio de guerra Pantera a Agadir, no Marrocos, e a conseqüente ocupação da cidade por tropas alemãs foram planejados como uma garantia do lado alemão frente a futuras negociações entre a França e a Inglaterra.
A Convenção de Madri, em 1880, havia assegurado ao sultanato a independência do país. Apesar disso, o Marrocos continuou a ser pelos anos que se seguiram o pomo da discórdia entre as potências européias, em razão das suas ricas reservas naturais.
Também o Império alemão mantinha intensas relações comerciais com o Marrocos. Para a Alemanha, as desavenças entre as potências coloniais França e Inglaterra, em relação à região, vinham até mesmo a calhar. Berlim apresentava-se, de certa forma, como o terceiro envolvido que tirava proveito da questão, enquanto Londres e Paris defrontavam-se com desconfiança mútua, não apenas por causa da questão marroquina.
Essa situação mudou a partir de 1904, após a assinatura da entente cordiale entre a França e a Inglaterra. Nesse acordo, ficaram esclarecidas várias desavenças entre os dois países com relação a diversos territórios espalhados pelo mundo.
O principal ponto do acordo dizia respeito à divisão do norte da África: o Egito foi posto na esfera de interesses de Londres, e Marrocos, na de Paris. Falava-se na época de uma "penetração pacífica" nessas regiões. A Alemanha, por sua vez, viu suas relações comerciais ameaçadas pelo pacto franco-inglês.
Prova de fogo
A primeira crise do Marrocos chegou ao ápice no ano de 1905, quando o imperador Guilherme 2º decidiu viajar a Tânger, com o objetivo de colocar à prova o acordo entre a França e a Inglaterra. O imperador alemão foi recebido com todas as honrarias e fez uma declaração que aludia claramente ao papel da França: "Espero que, sob o domínio do sultão, um Marrocos livre e soberano abra-se para uma concorrência pacífica entre todas as potências européias".
Enquanto isso, na França, disseminavam-se os protestos de indignação. Em Londres e Paris, cogitou-se até mesmo uma intervenção militar contra a Alemanha. O Império Alemão, no entanto, conseguiu impor a sua exigência de uma conferência internacional que discutisse o assunto.
Com ela, a França deveria sentir-se isolada no cenário político e forçada a abandonar a entente. Entretanto, a conferência realizada em abril de 1906 em Algeciras, no sul da Espanha, acabou por provar o contrário: foi a Alemanha que saiu isolada do conflito. Em caso de uma guerra envolvendo o Marrocos, apenas o Império Austro-húngaro estaria do lado dos alemães.
A entente cordiale saiu fortalecida da conferência. Entre outras resoluções, ficou estabelecido que a vigilância policial dos portos marroquinos ficaria a cargo da França e da Espanha. As relações franco-alemãs continuavam estremecidas.
Em 1911, o conflito agravou-se ainda mais com a ocupação da cidade marroquina Fès por tropas francesas. A cidade, sede da monarquia, tornou-se um foco de agitações e tumultos. A independência do Marrocos, assim como tinha sido sublinhada pela Convenção de Algeciras, mostrava ser apenas uma farsa.
O imperador Guilherme 2º comentou, após a ocupação francesa: "A questão miserável do Marrocos tem que ser encerrada rápida e definitivamente. Não há nada mais a fazer, o país vai tornar-se francês. A solução é, então, abandonar o conflito de cabeça erguida".
A barganha
No Ministério alemão das Relações Exteriores, cogitou-se uma troca: Berlim abdicaria de seus interesses no Marrocos e ganharia, com isso, o Congo francês. Para dar força a essa exigência, o navio de guerra Pantera aportou em Agadir, provocando uma verdadeira crise.
A Europa encontrava-se à beira de uma guerra, em função da escalada na crise do Marrocos. França e Inglaterra, parceiros da entente cordiale, uniam-se cada vez mais. Os dois países estavam dispostos a tudo, menos a ceder à pressão alemã.
No final do conflito, Berlim teve de satisfazer-se com um mínimo de exigências. Uma parte do Congo francês, com a superfície de 263 mil km², foi transferida para o Império Alemão em 4 de novembro de 1911.
Em troca, Berlim teve de abrir mão de parte de Camarões, então sua colônia. Um fiasco para a política alemã. As relações entre a França e a Alemanha continuaram estremecidas e trouxeram principalmente uma conseqüência: um desenrolar contínuo da espiral da política armamentista na Europa.
A GUERRA DOS BÔERES (1899-1902)
Os bôeres ou africâners eram os descendentes de holandeses, nascidos na África, e que lutavam por autonomia política em relação aos ingleses que dominavam o sul do continente africano. Em 1852 e 1853, os bôeres tiveram as suas repúblicas, a do Orange e a do Transvaal, reconhecidas como autônomas em relação ao império britânico que dominava a região mais ao sul da África. (Veja o mapa abaixo)
No entanto, as descobertas de minas de ouro e diamantes nas terras bôeres fez o governo britânico mudar sua política em relação a esses colonos e aos nativos, passando a anexar territórios com o uso da força.
Ciosos de sua autonomia, os bôeres travaram uma guerra com os britânicos entre 1877 e 1881 (I Guerra dos Bôeres) e evitaram, nesse momento, a anexação, mantendo a autonomia de suas repúblicas. Contudo, a pressão inglesa voltou a ficar forte no final do século XIX, ocorrendo um novo conflito entre 1899 e 1902 (II Guerra dos Bôeres), dessa vez com a vitória inglesa que acabou transformando as repúblicas do Orange e do Transvaal em colônias britânicas formando assim a União Sul-africana.³
É fundamental entender que as tensões que envolveram as potências européias no continente africano no final do século XIX e início do século XX evidenciam a disputa por territórios - o que na prática significava acesso a minérios, matéria-prima e outras riquezas indispensáveis às potências, além da reserva de mercado que tais colonias se tornariam para esses países. Também é importante ressaltar que as desconfianças mútuas e as animosidades entre as potências intensificaram-se diante dessas disputas por colônias na África.
Notas:
1 - O trecho foi retirado do livro Viver a História, Cláudio Vicentino, editora scipione, pág 197.
2 - Toda a informação contida no post sobre a Questão Marroquina foi retirada deste site. Decidi utilizá-lo na íntegra porque está muito bem explicado.
* Esse texto foi originalmente publicado nesse blog no dia 09 de fevereiro de 2010
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