quinta-feira, 14 de maio de 2009

A Guerra de Canudos 1

Assista ao trecho do filme Canudos e compare com o relato de Euclides da Cunha em Os Sertões, abaixo do vídeo.



"Viu a República com maus olhos e pregou, coerente, a rebeldia contra as novas leis. Assumiu desde 1893 uma feição combatente inteiramente nova.

Originou-a fato de pouca monta.

Decretada a autonomia dos municípios, as Câmaras das localidades do interior da Bahia tinham afixado nas tábuas tradicionais, que substituem a imprensa, editais para a cobrança de impostos etc.

Ao surgir esta novidade Antônio Conselheiro estava em Bom Conselho. Irritou-o a imposição; e planeou revide imediato. Reuniu o povo num dia de feira e, entre gritos sediciosos e estrepitar de foguetes, mandou queimar as tábuas numa fogueira, no largo. Levantou a voz sobre o "auto-de-fé", que a fraqueza das autoridades não impedira, e pregou abertamente a insurreição contra as leis.

Avaliou, depois, a gravidade do atentado.

Deixou a vila, tomando pela estrada de Monte Santo, para o norte.

O acontecimento repercutira na capital, de onde partiu numerosa força de polícia para prender o rebelde e dissolver os grupos turbulentos. Estes naquela época não excediam a duzentos homens. A tropa alcançou-os em Maceté, lugar desabrigado e estéril entre Tucano e Cumbe, nas cercanias dás serras do Ovó. As trinta praças, bem armadas, atacaram impetuosamente a turba de penitentes depauperados, certas de os destroçarem à primeira descarga. Deram, porém, de frente, com os jagunços destemerosos. Foram inteiramente desbaratadas, precipitando-se na fuga, de que fora o primeiro a dar o exemplo o próprio comandante.

Esta batalha minúscula teria, infelizmente, mais tarde muitas cópias ampliadas."

Trecho de Os Sertões, de Euclides da Cunha.

5 comentários:

Thiago disse...

Ola, Zé Paulo

Deixa eu ver se entendi, Conselheiro era contra a republica mas não era monarquista, certo?

Zé Costa disse...

O mais acertado Thiago, é o seguinte: Antônio Conselheiro e seus seguidores não tinham um projeto político para restaurar a monarquia no Brasil. Sua simpatia pelo governo de D Pedro II se assentava na ligação do governo com a Igreja - o Padroado, lembra? - Por isso sua ira contra o novo regime que nasceu separando a Igreja do Estado.

Antônio Conselheiro não era um político, mas um líder messiânico, fanático, como sói acontecer com esses tipos de líderes. Acusá-lo de monarquista foi uma estratégia do governo republicano para angariar o apoio da opinião pública. No texto sobre Os Sertões, na parte das repercussões, certamente você vai entender melhor.

Um abraço!

Ana Luísa AB (302) disse...

Professor, convenhamos que Antônio Conselheiro não foi muito esperto ao declarar tais palavras contra o governo e queimar as tábuas, sendo que depois se arrependeu. Quero dizer, no final das contas ele agiu antes de pensar, e as palavras, uma vez ditas, são carregadas pelo vento e não voltam. Era óbivio que o governo o veria com maus olhos.

Zé Costa disse...

Não esqueça Ana Luísa, que Canudos tornou-se um problema político também, porque ameçava o voto de cabresto que garantia o prestígio dos coronéis do sertão baiano junto ao governo estadual.

No texto que deixei para vocês lerem, percebe-se que Conselheiro e sua comunidade, ainda que fanáticos, foram usados como bodes expiatórios e serviram à causa da república, na medida que foram considerados como monarquistas conspiradores. Tudo mentira como se ficou sabendo depois...

Bruno Maceté disse...

Olá Profº, Sou Bruno Maceté, filho da terra onde aconteceu o primeiro combate em conselheiristas e forças policiais em 1893, em Maceté.

Sendo que conselheiro ao chegar em Maceté vinha de Natuba, atual cidade de Nova Soure, chegando em Maceté hospedou se na casa de um senhor apelidado de Viana, cujo nome é Severiano.

Quando o povo da redondeza sabe que conselheiro está neste local, todos se deslocam para lá, pra ouvir os sermões e as novenas.

Conselheiro conduzia as orações, quando a polícia chega, e acontece o Combate em Maceté. Episódio decisório da trajetória de Conselheiro, é o primeiro momento a enfrentar em luta o poder republicano.
Depois de Maceté ele parte para Canudos chegando lá no inicio de Junho...

Abraço,

Bruno Maceté


conheçam o Documentário sobre Maceté o qual sou autor.

http://www.youtube.com/watch?v=PuqLcp11eDc