sábado, 26 de julho de 2008

Quantos filhos você quer ter?

Crianças africanas famintas. O continente africano tem a maior taxa de fecundidade do mundo.


Se Thomas Malthus – aquele pastor anglicano que em 1798 escreveu Ensaio sobre a população, onde desenvolveu sua famosa teoria demográfica: a população cresce em progressão geométrica e a produção de alimentos em progressão aritmética, vivesse nos dias de hoje e manuseasse a Veja desta semana, abriria um sorriso de um canto a outro. Explico: Em matéria de Capa, a revista informa que a taxa de fecundidade da mulher brasileira caiu para 1,8 filhos por mulher. Esse número é suficiente para a revista afirmar com convicção: “a bomba demográfica brasileira foi desativada”.

Há muitos pontos no pensamento malthusiano que não são devidamente explorados. Talvez porque o principal temor de Malthus tenha se mostrado equivocado. A população mundial não cresceu da maneira como ele esperava e a produção de alimentos aumentou bem mais do que ele supunha.

Todavia, o cerne do seu temor não estava errado. Com efeito, se a população de um país cresce rapidamente, os recursos naturais desse país não serão suficientes para sustentar essa população, como conseqüência, a miséria se instalaria. Para corroborar essa afirmação, basta lembrar que os países mais pobres do mundo, os africanos, por exemplo, estão entre aqueles em que a taxa de fecundidade é uma das maiores do mundo. Malthus acertou, portanto, ao afirmar que a maneira mais segura de impedir a proliferação da miséria era o controle da natalidade.

Quando Thomas Malthus escreveu o Ensaio sobre a população, tinha como finalidade criticar pensadores – liberais, mas também, e principalmente, socialistas, que enxergavam no futuro da sociedade industrial, uma sociedade rica, próspera e feliz. Ele refutava a certeza de muitos pensadores otimistas de que o desenvolvimento tecnológico, a Razão, as máquinas, produziriam um homem menos dependente do trabalho, com mais horas de lazer, usufruindo a riqueza econômica do país.

O ponto central era este: quanto mais sossegadas, quanto menos preocupadas com a sobrevivência, as pessoas tenderiam a ter mais filhos e quanto mais filhos, os recursos naturais seriam insuficientes para todos. Daí, afirma Malthus, a importância das dificuldades, até da miséria, para conter a tendência natural das pessoas que, em condições felizes, teriam mais filhos. Aliás, Malthus entendia que os desastres naturais como enchentes e terremotos que provocavam várias mortes, traziam o benefício de estabelecer o equilíbrio entre população e recursos naturais

Malthus era um pessimista. Ele não acreditava, por exemplo, na erradicação da miséria. Segundo ele, a miséria era um dado da realidade e os esforços para vencê-la não eram apenas inúteis, mas poderiam, ao contrário, aumentá-la, em médio prazo. Quando o governo inglês criou a lei dos pobres (uma espécie de Bolsa-Família da época) no final do século XVIII, Malthus a criticou duramente. Reconhecia que a lei aliviava a miséria de muitos, mas apenas isso. Alertava, contudo, que a lei dos pobres além de não livrar o pobre a miséria, ainda poderia transformar os não tão pobres, em miseráveis, na medida que o governo retirava recursos para o desenvolvimento econômico e os transferia para os mais pobres. Para Malthus, a única forma eficiente de ter a miséria sob controle era reduzir a taxa de fecundidade das mulheres pobres, e não, como fazia a lei dos pobres, estimular o nascimento de filhos nessa faixa da população.

Os equívocos

O mais evidente erro de Malthus foi sua previsão sombria sobre o futuro da humanidade. Embora essa previsão fosse verossímil, ela não era verdadeira. Por razões alheias ao pensamento malthusiano, o crescimento demográfico foi caindo e a produção de alimentos subindo de maneira significativa. Malthus também se equivocou na idéia de que uma vida feliz e próspera incentiva uma maior produção de filhos e uma vida miserável contém esse ímpeto. O que se vê, no entanto, é que em países ricos, como os europeus, a taxa de fecundidade é baixíssima, enquanto em países pobres, a mesma taxa é altíssima.

A importância do pensamento malthusiano.

Malthus, contudo, chamou atenção para um problema real. A relação CRESCIMENTO POPULACIONAL X PRODUÇÃO DE ALIMENTOS, alertava para o fato de que os governos precisam levar em conta os gastos que terão com uma população cada vez maior. Quando a China adotou a política do filho único, não tenham dúvida, a referência teórica foi Thomas Malthus. A China tem mais de 1,2 bilhão de habitantes, mesmo com a política do filho único adotada há muito tempo pelo governo chinês. Não é à toa que os miseráveis chineses se contam aos milhões. (É verdade também que o capitalismo chinês tirou na última década, 400 milhões de chineses da miséria, diga-se)

Na esfera individual, Malthus também acertou ao afirmar que quanto menos filhos um casal tiver, mais conforto os pais e os filhos terão. Ao se ter muitos filhos, os recursos de uma família teriam que ser divididos em maior número, empobrecendo a todos.

É verdade que as mulheres hoje querem ter menos filhos porque estão mais que inseridas no mercado de trabalho, o que impediria uma prole maior. Mas também é verdade que uma outra razão para isso é o desejo de viver e de dar à prole uma vida bem mais confortável ou economicamente mais estável do que teriam se tivessem mais filhos.

Daqui a duas semanas o link para a matéria de Veja estará disponível para todos. Por enquanto, a disponibilidade é apenas para assinantes.

Leia também mais informações aqui.


segunda-feira, 14 de julho de 2008

Onde a Paz sempre perde para a Guerra.


Oriente Médio. Quando, enfim, haverá paz?

Muitos que eu conheço, à esta hora, estão longe dos afazeres. Afirmam, com justificada razão, que nesse recesso de julho o importante é descansar e se divertir. Eu, se fosse normal, também estaria, como eles, longe dos afazeres. Todavia, quem disse que escrever, para mim, apesar do esforço que faço, também não é diversão?

Na edição desta semana, a Revista Veja traz uma importante matéria sobre os perigos que os testes de mísseis de longo alcance, realizados pelo Irã, representam para a paz na região. O centro da matéria jornalística informa que os espaços para uma saída diplomática que evite um confronto na região, ficaram menores. A iminência de uma guerra, ao que parece, é real.


O perigo do Irã em desenvolver armas nucleares, como suspeitam os Estados Unidos e Israel, não representa uma ameaça apenas a esses dois países, históricos inimigos dos muçulmanos radicais da região. É importante não esquecer que o Irã tem maioria xiita, e que, portanto, os sunitas no Irã e em outros países do oriente médio, também são seus inimigos. Vejam esse trecho da matéria:

“Caso Israel tome a iniciativa de liquidar com os planos nucleares do Irã, os americanos não terão saída, exceto apoiar o país. "Levamos muito a sério a obrigação de defender nossos aliados e temos a intenção de fazê-lo", afirmou a secretária de Estado Condoleezza Rice, na semana passada. Israel teria também o consentimento de muitos países da região, como a Turquia e os árabes de maioria sunita. Alguns deles já estiveram em Jerusalém para dizer que não se oporiam a um ataque ao Irã. Além do pavor de um aiatolá atômico, essas nações possuem minorias xiitas que são ou podem se tornar fonte de problemas. O Irã dá apoio financeiro, armas e treinamento aos terroristas xiitas do Hezbollah, que, a serviço de Teerã, promovem atentados no exterior e impedem a reconciliação entre as várias comunidades religiosas do país. No Iraque, os iranianos sustentam milícias que atacam civis sunitas e soldados iraquianos e americanos.”

Aprendemos em sala de aula que a origem da divisão dos muçulmanos entre xiitas e sunitas remonta aos primórdios do Islã. Logo após a morte do profeta, a comunidade islâmica não entrou num acordo para saber quem deveria ser o califa, isto é, o sucessor do profeta Maomé (Mohammad). Um grupo entendeu que o profeta havia designado seu primo Ali como sucessor. Outro grupo, esse bem maior, entendeu que nada disse Maomé que determinasse ser Ali, necessariamente, o califa. O primeiro grupo passou a ser chamado de xiita; o outro, de sunita. A partir de então, o Islã estava irremediavelmente dividido.

O trecho da matéria, acima reproduzido, poderia nos levar a um outro equívoco comum, mas por isso mesmo, perigoso: afirmar que os radicais islâmicos, os fundamentalistas e os terroristas são apenas do ramo xiita. Como foi dito em sala e cobrando numa avaliação, fanáticos e terroristas existem nos dois ramos do islamismo. Aliás, existem em qualquer crença religiosa.

Considerar os xiitas, que são minoria entre os muçulmanos, como terroristas, consiste num duplo erro: primeiro, porque nem todos os xiitas apoiam a política do terror. Em segundo lugar, porque também há entre os sunitas aqueles que apelam para o terrorismo.

Se o governo do Irã financia grupos extremistas e terroristas de ramo xiita, como o Hezbollah, por exemplo, para que cometam ações terroristas contra Israel, mas também contra cidadãos sunitas da região; Os Estados Unidos procuram, por sua vez, financiar grupos extremistas sunitas no Irã – onde são minoria – para tentar desestabilizar o governo teocrático da antiga Pérsia.

Nunca é demasiado lembrar, que fundamentalistas sunitas têm Osama Bin Laden, o terrorista sunita mais famoso, como seu grande herói.

Em duas semanas, este link estará aberto para todos que quiserem ler a reportagem. Vale a pena, acreditem!