Que sou um duro oponente do sistema de cotas raciais seja onde for, isso não é novidade. Que me oponho com dureza à metafísica influente que nos ensina que a única saída justa para o problema das desigualdade sociais passa pelo socialismo, ainda que um socialismo com roupagem moderna, chamado de ambientalismo, consumo consciente e outras bobagens, também não é segredo.
Muito menos vocês ignoram que não faço proselitismo de minhas ideias. Não pastoreio almas nem quero tomar vocês pela mão e lhes mostrar o verdadeiro caminho. No entanto, tenho o dever de lhes mostrar outras visões de mundo e, no caso específico, dizer com certa vaidade que a essência do que vou publicar abaixo, nas palavras de um professor universitário americano, negro, já havia sido dito por mim há mais de dois anos, como vocês podem, se quiserem, conferir
aqui. Leiam a entrevista, vale a pena!
“Walter Williams é um radical. Na juventude, preferia o incendiário Malcolm X ao pacifista Martin Luther King. Hoje aos 74 anos, Williams admira os dois líderes negros, repudia a violência e se define como um libertário radical, como os americanos se referem aos que se opõem ao excesso de ativismo do estado e propugnam mais liberdade individual. Fiel ao seu ideário, é contra as ações afirmativas e cotas raciais, e diz que o melhor instrumento para vencer a desigualdade racial é o livre mercado: “A economia de mercado é o grande inimigo da discriminação”. Criado pela mãe na periferia de Filadélfia, Williams acaba de publicar uma autobiografia em que narra sua trajetória da pobreza à vida de professor universitário (desde 1980, leciona economia na universidade George Manson, na Virgínia). Com 1,98 metro de altura, voz de barítono, bom humor, ele demonstra muita coragem nesta entrevista.VEJA – As ações afirmativas não funcionam?Os negros não precisam delas. Dou um exemplo. Houve um tempo em que não existiam jogadores de basquete negros nos Estados Unidos. Hoje, sem cota racial ou ação afirmativa, 80% são negros. Por quê? Porque são excelentes jogadores. Se os negros tiverem a mesma habilidade em matemática ou ciência da computação, haverá uma invasão deles nessas áreas. Para isso, basta escola, boas escolas, grandes escolas.
As ações afirmativas (..) são cruéis. Reforçam os piores estereótipos raciais e mentais.VEJA – O senhor já teve alguma experiência pessoal nesse sentido?Quando eu dava aula na Universidade de Temple, em Filadélfia, tive uma turma com uns trinta alunos, todos brancos, à exceção de um. Nas primeiras aulas, eles me fizeram uma bateria de perguntas complexas. Você pode achar que é paranoia minha, mas eu sei que o objetivo delas era testar minhas credenciais. A cada resposta certa que eu dava, eu podia ver o alívio no rosto do único aluno negro da classe.
De onde vinha esse temor do aluno negro de que seu professor, sendo negro, talvez não fosse suficientemente bom? Das ações afirmativas. Não entrei na universidade via cotas raciais. Por causa delas, a competência de muitos negros é vista com desconfiança.VEJA – Num país como o Brasil, onde os negros não avançam tanto quanto nos Estados Unidos, as ações afirmativas não fazem sentido?A melhor coisa que os brasileiros poderiam fazer é garantir educação de qualidade.
Cotas raciais, no Brasil, um país mais miscigenado que os Estados Unidos, são um despropósito. Além disso, forçam uma identificação racial que não faz parte da cultura brasileira. Forçar classificações raciais é um mau caminho. A Fundação Ford é a grande promotora das ações afirmativas por partir da premissa errada de que a realidade desfavorável aos negros é fruto da discriminação. Ninguém desconhece que houve discriminação pesada no passado e há ainda, embora tremendamente atenuada. Mas nem tudo é fruto da discriminação. O fato de que apenas 30% das crianças negras moram em casas com um pai e com uma mãe é um problema, mas não resulta da discriminação. A diferença de desempenho acadêmico entre negros e brancos é dramática, mas não vem da discriminação. O baixo número de físicos, químicos ou estatísticos negros nos Estados Unidos não resulta da discriminação, mas da má formação acadêmica, que, por sua vez, também não é produto da discriminação racial.
VEJA – O senhor exige ser chamado de “afro-americano”?Essa expressão é uma idiotice, a começar pelo fato de que nem todos os africanos são negros. Um egípcio nascido nos Estados Unidos é um “afro-americano”? A África é um continente, povoado por pessoas diferentes entre si. Os vários povos africanos estão tentando se matar uns aos outros há séculos. Nisso a África é idêntica à Europa, que também é um continente, também é povoada por povos distintos que também vêm tentando se matar uns aos outros há séculos.
PS: A entrevista foi dada ao corresponde de Veja nos Estados Unidos, André Petry, e publicada na revista desta semana, edição 2207 - ano 44-n° 10, de 09 de março de 2011.